Descrição de chapéu Independência, 200

Especialistas defendem integração da América do Sul durante debate

Ciclo de diálogos reuniu Lia Valls Pereira (Uerj) e Felipe Loureiro (USP) para discutir a política externa do Brasil

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Belo Horizonte

As diferenças na condução da política externa no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação à gestão de Jair Bolsonaro (PL) deu o tom do 17º diálogo do ciclo Perguntas sobre o Brasil, realizado no formato online na quarta-feira (31).

O debate reuniu Lia Valls Pereira, chefe do departamento de análise econômica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e professora do programa de pós-graduação do departamento de relações internacionais da mesma universidade, e Felipe Loureiro, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP.

a foto mostra uma reunião no palácio do itamaraty, onde diversos líderes sul-americanos se reúnem em torno de uma grande mesa. ao fundo, está um grande quadro abstrato
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva em cúpula com líderes da América do Sul no Itamaraty, em Brasília, no dia 30 de maio - Evaristo Sá - 30.mai.23/AFP

A mediação ficou a cargo de José Manuel Diogo, presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA) e colunista da Folha.

Os convidados discutiram os desafios para a diplomacia brasileira em um contexto marcado pela Guerra da Ucrânia, pela polarização entre Estados Unidos e China, e pelas iniciativas de maior integração entre os países da América Latina.

"A gente não teve só quatro anos de paralisia. O governo anterior destruiu muita coisa", disse Loureiro. "É necessário que a atual administração reconstrua alicerces tanto em termos de política doméstica quanto do ponto de vista das políticas externas."

Segundo Lia Valls Pereira, vivemos em um momento estratégico para que o Brasil consolide uma posição de liderança na América do Sul, conquistando "voz ativa no redesenho das instituições multilaterais nesse mundo de importantes transformações geopolíticas e econômicas".

Por isso, ela reforça, foi importante a participação do ditador venezuelano, Nicolás Maduro, na cúpula com líderes de países da região na terça (30), em Brasília. A professora reconhece, no entanto, que houve uma "má gerência diplomática" na visita.

De acordo com Loureiro, as tentativas de esvaziamento das relações do Brasil com a Venezuela abriram espaço para que outros países, como Rússia e China, interagissem de forma mais efetiva no continente. "É fundamental que a região seja capaz de dirimir seus próprios conflitos."

Pereira acredita que o país deva ir além da guerra ideológica entre Ocidente e Oriente, priorizando temas específicos que influem diretamente no cotidiano de países pobres e de nações em desenvolvimento, como a agricultura sustentável, a regulação da economia digital e as questões sociais.

Entretanto, existe um problema, aponta Loureiro. "O grau de polarização política e ideológica que infelizmente ainda vivemos, e que não é específico do país, leva à indefinição de como será o próximo ciclo eleitoral, com o risco de que muitos desses compromissos assumidos acabem sendo desfeitos ou até destruídos."

Essa ameaça, diz ele, é reflexo do modo como as iniciativas no campo das relações internacionais estão relacionadas com a agenda de valores e convicções que guiam os Poderes Executivos de cada país.

"A verdade é que temas de política externa animam pouco a sociedade brasileira em larga escala", diz Loureiro, fazendo um contraponto ao espaço que a política doméstica ocupa na opinião pública.

Num cenário de possível fragmentação da ordem mundial, resta saber como a política externa brasileira vai caminhar. "Com o acirramento das tensões", afirma Valls Pereira, "fica sempre a questão de saber onde estamos. Vamos nos unir à China? Aos Estados Unidos? Por isso é tão importante a integração sul-americana, para que estejamos menos descobertos a partir da formulação de nossas próprias normas internas".

O ciclo Perguntas sobre o Brasil é organizado pelo Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc São Paulo, pela APBRA e pela Folha. O debate está disponível no YouTube. Veja abaixo.

Essa série é um desdobramento do projeto 200 Anos, 200 Livros, lançado em maio de 2022 em meio às reflexões em torno do bicentenário da Independência.

Segue até novembro, com debates sempre às quartas-feiras, às 16h, a cada duas semanas. O evento é transmitido online pelos canais do Sesc São Paulo, do Diário de Coimbra e da APBRA no Youtube.

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