O Carnaval de rua de São Paulo, cidade tantas vezes chamada de túmulo do samba, despertou nos últimos dez anos.
Antes acanhada, a festa viu o número de blocos e foliões se multiplicar —e o interesse de patrocinadores aumentou, como também cresceram os conflitos com moradores e episódios de repressão policial.
Guilherme Varella foi um dos coordenadores da política para o Carnaval de rua de São Paulo desenhada a partir de 2013, na gestão municipal de Fernando Haddad (PT). Em sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Direito da USP e agora publicada em livro, ele analisa as balizas, as disputas e os resultados dessa política pública.
Hoje professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Varella propõe em "Direito à Folia" (Alameda) que a ocupação de ruas e espaços públicos por blocos é um direito constitucional, que deve ser viabilizado pelo Estado, não domesticado ou reprimido.
Neste episódio, ele fala sobre os significados históricos e políticos do Carnaval de rua e discute algumas das tensões que cercam essa manifestação cultural, como o crescimento dos megablocos e as ameaças representadas pela "ambevização", do seu ponto de vista, à preservação do espírito transgressor do Carnaval.
O Carnaval disputa um éthos de cidade. São Paulo sempre cristalizou —e isso é uma espécie de anedota nacional— a cidade do trabalho, que nunca dorme, que é uma locomotiva. O Carnaval quer que São Paulo também seja a cidade do lazer, do ócio, da brincadeira, do sorriso. Essa disputa está dada. A festa deste ano, por ser em um período eleitoral, vai trazer essa disputa de visão de cidade de uma forma muito forte. A única preocupação é que essa disputa não extrapole para um recrudescimento policial, para a violência de gênero e de raça, para o aumento da violência dos blocos de periferia
O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.
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Já participaram do Ilustríssima Conversa Christian Dunker, que se contrapõe à conceituação da psicanálise como pseudociência, Rodrigo Nunes, professor de filosofia que propõe pensar a política como ecologia, Betina Anton, autora de livro sobre os anos do médico nazista Josef Mengele no Brasil, Marcelo Medeiros, que discutiu a concentração de renda no país, Larissa Bombardi, geógrafa que pesquisa o uso de agrotóxicos, Flavia Rios, coorganizadora de dicionário de relações étnico-raciais, Bruno Paes Manso, autor de obra sobre os valores difundidos por facções criminosas e igrejas pentecostais, Gabriela Leal, antropóloga que estuda cultura hip-hop e grafitti, Antônio Bispo dos Santos, pensador quilombola que propõe o conceito de contracolonização, Luiz Marques, que discutiu por que este decênio é decisivo para lidar com a catástrofe climática, entre outros convidados.
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