Agrotóxicos criam colonialismo que chega às células, diz Larissa Bombardi

Professora da USP critica exportação de produtos banidos na União Europeia e recorde de autorizações no governo Bolsonaro

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Eduardo Sombini
Eduardo Sombini

Geógrafo e mestre pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima

A agricultura deixou de ser um sinônimo de produção de alimentos há algumas décadas, desde que corporações globais passaram a dominar o setor, diz a professora da USP Larissa Bombardi.

Para a pesquisadora, a massificação do uso de agrotóxicos é um dos sintomas desse processo e cria um novo tipo de violência, agora por meio de moléculas que alcançam as células de humanos e outros animais e provocam danos à saúde e ao meio ambiente ainda não totalmente conhecidos.

Em "Agrotóxicos e Colonialismo Químico" (Elefante), Bombardi discute o duplo padrão de países europeus, que permitem a exportação de agrotóxicos banidos em seus territórios para produtores de commodities agrícolas, como o Brasil, o que, para ela, molda uma geografia do abismo, permitindo que empresas químicas da Europa faturem bilhões com a venda de seus produtos para países periféricos.

Neste episódio, a geógrafa afirma que as mulheres estão entre as mais afetadas pelo uso de agrotóxicos e, ao mesmo tempo, são protagonistas em movimentos de denúncia desse modelo de produção e em experiências de agroecologia.

Mulher loira e branca, usando blusa clara, com árvore ao fundo
Retrato de Larissa Bombardi, autora de 'Agrotóxicos e Colonialismo Químico' - Divulgação

Bombardi também falou sobre a liberação de agrotóxicos durante o governo Bolsonaro (PL) que, para ela, "abriu as portas do inferno", e das intimidações que a fizeram deixar o Brasil. A autora vive hoje na Europa e está vinculada ao Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento, sediado em Paris.

O uso de agrotóxicos não se dá no ar. O Brasil só é um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos porque tem uma das maiores concentrações fundiárias do planeta. Só por isso se decidiu que uma área equivalente à Alemanha fosse transformada em soja no Brasil. É isso que explica por que o Brasil é um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos, justamente porque o consumo de agrotóxicos está associado à questão agrária brasileira, argentina ou seja lá de onde quer que estejamos falando. A expressão colonialismo vai muito bem aqui, porque no colonialismo clássico, obviamente, os países centrais ou as metrópoles tinham a conivência das elites e das oligarquias locais, e é o mesmo hoje

Larissa Bombardi

professora de geografia agrária da USP

Ela aponta tensões sobre o tema na gestão Lula (PT), mas diz estar esperançosa com os debates promovidos recentemente pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Como noticiou a Folha em agosto, o governo federal registrou 231 agrotóxicos de janeiro a meados de julho deste ano, mantendo o ritmo de liberação dos anos Bolsonaro.

O Ilustríssima Conversa está disponível nos principais aplicativos, como Apple Podcasts, Spotify e Stitcher. Ouvintes podem assinar gratuitamente o podcast nos aplicativos para receber notificações de novos episódios.

O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Flavia Rios, coorganizadora de dicionário de relações étnico-raciais, Bruno Paes Manso, autor de obra sobre os valores difundidos por facções criminosas e igrejas pentecostais, Gabriela Leal, antropóloga que pesquisa cultura hip-hop e grafitti, Antônio Bispo dos Santos, pensador quilombola que propõe o conceito de contracolonização, Luiz Marques, que discutiu por que este decênio é decisivo para lidar com a catástrofe climática, Bela Gil, que defendeu a remuneração do trabalho realizado por donas de casa, Javier Montes, escritor espanhol que se debruçou sobre a vida da dançarina e naturista Luz del Fuego, Paulo Arantes, professor de filosofia da USP para quem Lula terá sucesso se frear a extrema direita, Eliane Brum e Maria Rita Kehl, convidadas do episódio comemorativo dos cinco anos do podcast, João Moreira Salles, autor de livro sobre o modelo predatório de ocupação da Amazônia, entre outros convidados.

A lista completa de episódios está disponível no índice do podcast. O feed RSS é https://folha.libsyn.com/rss.

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