Prisões não encerram luta por justiça, diz viúva de Marielle

Para Monica Benicio, memória da vereadora deve inspirar projeto de sociedade mais igualitária e sem opressões

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Eduardo Sombini
Eduardo Sombini

Doutor em geografia pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima

Pouco mais de seis anos depois do assassinato de Marielle Franco, a Polícia Federal prendeu no fim de março o deputado federal Chiquinho Brazão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil fluminense.

De acordo com a PF, os irmãos Brazão idealizaram o crime e Rivaldo planejou o assassinato e obstruiu as investigações.

Esse desfecho, porém, não deve ser visto como o fim do movimento de luta por justiça por Marielle Franco e Anderson Gomes, diz Monica Benicio, viúva da vereadora.

Para ela, que hoje também ocupa uma cadeira na Câmara Municipal do Rio pelo PSOL, as investigações precisam continuar para apurar a eventual participação de outras pessoas no caso.

Retrato de Monica Benício
Retrato de Monica Benício, autora de 'Marielle & Monica: uma História de Amor e Luta' - Divulgação

Benicio defende, por outro lado, que o clamor pela elucidação do crime —movimento que considera ter sido fundamental nos últimos anos para condenar a barbárie como método político— se desdobre em um projeto de futuro, de combate às desigualdades e às opressões de gênero, orientação sexual e raça.

Ela acaba de lançar "Marielle & Monica: uma História de Amor e Luta" (Rosa dos Tempos), obra que apresenta um relato íntimo do relacionamento entre elas. O livro começa narrando como as duas se conheceram, na porta de uma igreja na Maré em 2004, quando Benicio tinha 18 anos, e termina com uma carta derradeira à esposa, escrita no fim de 2023.

Benicio expõe os altos e baixos de uma relação intensa e o sofrimento depois do assassinato de Marielle, período em que enfrentou depressão, alcoolismo e, em meio à falta de respostas sobre o crime e impulsos autodestrutivos, diz ter encontrado no engajamento político e na escrita das memórias da sua vida com Marielle caminhos para elaborar seu luto.

Esse livro vira uma ferramenta de elaboração do próprio luto. Por isso, seu processo de escrita se arrasta por cinco anos, porque era um processo muito íntimo, de um luto que o Estado me negou a possibilidade de fazer e, depois, eu também —perdendo a minha pulsão de vida, me neguei a olhar para isso, principalmente se isso pudesse me trazer um sentido de ressignificação da própria vida

Monica Benicio

vereadora do Rio de Janeiro (PSOL) e autora de "Marielle & Monica: uma História de Amor e Luta"

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O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Carlos Fico, historiador que pesquisa a ditadura e a intervenção de militares na política brasileira, Fernando Pinheiro, sociólogo que discutiu como imagens de escritores se mesclam em seus livros, Guilherme Varella, para quem o Carnaval de rua é um direito, Christian Dunker, que se contrapõe à conceituação da psicanálise como pseudociência, Rodrigo Nunes, professor de filosofia que propõe pensar a política como ecologia, Betina Anton, autora de livro sobre os anos do médico nazista Josef Mengele no Brasil, Marcelo Medeiros, que discutiu a concentração de renda no país, Larissa Bombardi, geógrafa que pesquisa o uso de agrotóxicos, Flavia Rios, coorganizadora de dicionário de relações étnico-raciais, Bruno Paes Manso, autor de obra sobre os valores difundidos por facções criminosas e igrejas pentecostais, entre outros convidados.

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