Sonho grande da Kraft Heinz acabou, diz Jorge Paulo Lemann

Para uma plateia lotada de executivos do mercado financeiro, empresário reconhece falhas da 3G no setor de alimentos

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São Paulo

Os quase dez quilômetros de congestionamentos na zona sul de São Paulo na manhã deste sábado (6) não estavam relacionados à saída do paulistano para o feriado de 9 de Julho.

Os executivos do mercado financeiro que largavam seus táxis e caminhavam a pé por mais de um quilômetro tinham como destino a concorrida palestra de Jorge Paulo Lemann, o empresário que há pouco mais de um ano se autodeclarou um “dinossauro apavorado”.

Jorge Paulo Lemann em evento da XP em São Paulo
Jorge Paulo Lemann em evento da XP em São Paulo - Divulgação

O momento não era dos melhores para o fundador da 3G Capital, pressionado, principalmente, pelos questionamentos à estratégia do fundo de adquirir grande marcas no setor de consumo, como os rótulos de cerveja unidos na ABI (entre elas Brahma, Budweiser, Stella Artois, Miller e Skol), mas que não conseguiu ser replicada no setor de alimentos.

Hoje, o segundo homem mais rico do Brasil, pelo ranking mais recente da revista Forbes, reconhece as limitações dessa estratégia, ao falar dos maus resultados financeiros da Kraft Heinz e da perda de poder das marcas mais tradicionais.

O sonho não andou como queríamos. Estamos consertando, vamos consertar. Não é mais possível construir [na área de alimentos] algo tão grande como na parte de cervejas. Esse sonho grande já não é possível mais”, afirmou aos quase 10 mil presentes no auditório lotado.

Durante o evento, ele relembra a frase pronunciada no início de 2018, quando tratou da questão da Kraft Heinz publicamente.

“Há pouco mais de um ano, me autointitulei um dinossauro apavorado. Tínhamos de agir mais rapidamente. Agora, eu sou um dinossauro se mexendo, correndo atrás”, afirmou.

“Estou vendo se me atualizo. Tem de correr atrás, senão você vira um dinossauro extinto mesmo”, disse Lemann ao ser questionado sobre o ritmo de viagens de trabalho, aos quase 80 anos, e sobre a busca por conhecimento e investimentos na área de tecnologia.

A 3G tem hoje US$ 10 bilhões para investimentos na área de tecnologia, segundo o empresário. Lemann diz que já colocou dinheiro em três “unicórnios” brasileiras, referência a statups com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão, entre elas a Movile (dona de aplicativos como iFoods e PlayKids), e que segue estudando o setor.

Organizador do evento do qual Lemann participou, o fundador e presidente-executivo da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, dividiu o palco com o empresário e falou sobre o desafio de evitar que a maior corretora do Brasil, que tem como sócio o Itaú Unibanco, também se torne algo próximo de um dinossauro, uma empresa gigante e engessada.

“Você vai crescendo, vai ficando mais engessado. A gente percebeu que estava ficando lento e quebramos a empresa em 56 startups”, afirmou, ao colocar o setor entre os que mais demandam alta tecnologia para se manter competitivos e atender seu público.

Benchimol cita ainda a decisão de se expor mais nas redes sociais, com objetivo de dar uma cara ao seu negócio. “A geração do Jorge Paulo era discreta e isso mudou. Sinto que as pessoas querem conexões mais reais. Ver os donos por trás [do negócio]. Quando a gente optou por me colocar mais exposto, era isso. Os consumidores começaram a confiar mais em pessoas do que em marcas.”

A conversa entre Lemann e Benchimol termina com o segundo, que tem pouco mais de 40 anos, convidando o veterano empresário para uma partida de tênis no palco.

Lemann jogou tênis profissionalmente e chegou a ganhar campeonatos antes de abandonar a carreira esportiva para entrar no mercado financeiro e depois no empresarial. Benchimol, por outro lado, disse ter sido um “tenista esforçado” que abandonou o esporte quando o pai lhe cortou as aulas esportivas para que ele se dedicasse mais aos estudos.

Após alguns minutos de jogo, a partida termina com Lemann vencendo (aparentemente, já que as regras não estavam claras) o anfitrião e jogando para a plateia a bolinha, extremamente disputada pelos executivos da área vip.

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