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Brechó social dribla inflação com preços populares na periferia

Shopping das Valquírias, em São José do Rio Preto (SP), completa 1 ano neste domingo

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São José do Rio Preto

Experiência de shopping center sem precisar sair do bairro. Essa é uma das propostas do Shopping das Valquírias, bazar de roupas a preços populares criado em São José do Rio Preto (interior de SP) para atender moradoras da periferia da cidade. No local, é possível encontrar peças até 80% mais baratas do que nos comércios convencionais.

"A inflação não afeta a gente, porque não compramos de distribuidoras para revender. Temos esse caráter social, e desde o começo temos um preço fixo, que nunca foi reajustado", conta Stephannie Longhi, gestora do shopping.

Em um espaço de quase 300 metros quadrados, o Shopping das Valquírias foi instalado no bairro Mugnaini, na zona norte, uma das regiões de grande vulnerabilidade social da cidade. Neste domingo (10), ele completou um ano de funcionamento.

O projeto faz parte do Instituto Valquírias World –holding de iniciativas de impacto social –e foi pensado como uma forma de potencializar o consumo consciente por meio da economia circular.

Shopping das Valquírias não sente o peso da inflação no vestuário, por trabalhar com peças doadas por lojas e voluntárias - Ferdinando Ramos/Folhapress

Atualmente, o centro de compras conta com um acervo de quase 7.000 peças, entre produtos novos e seminovos. Parte do que é exposto vem da produção própria, mas grande maioria é fruto de doações.

O espaço funciona como um bazar multimarcas, onde é possível encontrar roupas, sapatos e acessórios femininos a partir de R$ 5,90. O produto mais caro é vendido a R$ 100 (valor limite no bazar), cobrado nas peças de grife, que chegam a custar até R$ 400 em uma loja de shopping. "É o mesmo produto, mesma etiqueta, mas com até 80% de desconto", diz Stephannie.

O preço acessível é possível por meio da parceria firmada pelo instituto com grandes marcas de vestuário que atendem a cidade, como Instituto C&A, Carolina Herrera, Murau, Cia Marítima, Mãos da Terra, A Duqueza, M/A Clothes, Donata Meirelles e Desnude, entre outras. Todos os meses, as marcas selecionam uma quantidade de peças e enviam ao bazar, de graça.

Além das empresas, o projeto também conta com a participação de madrinhas, afirma Stephannie. "São blogueiras, influencers e empresárias que ajudam na arrecadação das peças. Elas servem como ponte entre as doadoras e o bazar". Fora as parcerias, o espaço também recebe doações da comunidade.

Todo material recebido passa por um processo de triagem e de precificação. O que precisa de manutenção é enviado para costureira do projeto. O que não tem condição de ser exposto nas araras, mas ainda possui utilidade e vida útil, é destinado para pessoas em situação de rua e famílias assistidas pelos programas assistenciais do instituto.

Projeto de impacto social

Além de disponibilizar peças de roupas e acessórios de qualidade a preços acessíveis para famílias de baixa renda, o Shopping das Valquírias também oferece experiência de compra diferente para as consumidoras da periferia.

"Tem mulheres aqui, da periferia, que nunca tiveram oportunidade de ir a um shopping center. Elas acreditam que não pertencem àquele espaço, por não terem condições financeiras. O Shopping das Valquírias foi criado para dar essa experiência a elas", diz Stephannie.

Lorrayne Pereira, 32, é cliente do shopping desde que ele foi inaugurado. Atualmente desempregada e mãe de três filhos com idades entre 4 e 8 anos, ela diz que não teria condições de comprar as mesmas peças nas lojas tradicionais. "Quando a gente se veste bem, a gente sente que melhora a autoestima. Nossa imagem muda".

No mês passado, Lorrayne se formou no curso técnico de escovação e colorimetria pessoal, oferecido gratuitamente por um dos programas sociais mantidos pelo Valquírias World. Para o evento, quis se sentir especial.

Comprou um vestido de renda, um colete social e um sapato de salto alto preto. Cada item custou R$ 14,90. "Se fosse em uma loja comum, eu não tenho ideia de quanto tudo isso custaria. Fiquei bem feliz com o resultado", diz.

Lorrayne Pereira comprou vestido, colete social e sapato; tudo saiu por menos de R$ 45 - Arquivo Pessoal

Procura cresce enquanto comércio local sofre com inflação

O Shopping das Valquírias abre ao público três vezes por mês, normalmente aos sábados. A cada mega-bazar, o estabelecimento recebe em média 300 clientes e chega a vender até 2.000 peças. Todo dinheiro arrecadado é revertido para os programas sociais mantidos pela instituição, que impactam mais de 7.000 pessoas.

CEO do Valquírias World, Amanda Oliveira afirma que o movimento de clientes cresceu tanto neste último ano, que já extrapolou as barreiras do bairro e passou a atrair também consumidores de outras áreas da cidade.

"Nesse momento de inflação alta, o shopping se tornou uma referência não só para as mulheres que vivem ali no entorno. Muitas pessoas da cidade passaram a comprar no shopping, justamente pelos preços baixos e pela qualidade dos produtos", diz Amanda.

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