Descrição de chapéu Folhainvest

Empresas brasileiras encontram cenário favorável para captações no exterior

Responsável pela renda fixa internacional do Itaú BBA estima até US$ 15 bilhões em captações no exterior em 2023

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A redução das incertezas relacionadas ao novo governo brasileiro e à trajetória da dívida pública após o anúncio do arcabouço fiscal, somada à etapa final do ciclo de alta dos juros nos EUA, deve contribuir para que as empresas locais busquem financiamentos para suas operações junto ao bolso de grandes investidores globais.

No início de abril, o governo brasileiro fez uma emissão de títulos da dívida no exterior, em um leilão com alta demanda que levantou cerca de US$ 2,25 bilhões (R$ 11,36 bilhões). Cerca de uma semana depois, foi a vez de o BB (Banco do Brasil) acessar o mercado internacional, com uma captação de US$ 750 milhões (R$ 3,8 bilhões) em bônus sustentáveis.

A expectativa de agentes financeiros é que as duas operações abram as portas para que outras empresas brasileiras também venham a realizar captações de recursos no mercado internacional nas próximas semanas.

Painel eletrônico indica evolução do pregão na Bolsa de Valores brasileira, em São Paulo, com imagem abaixo da estátua do Cristo Redentor em frente a um pôr-do-sol
Painel eletrônico indica evolução do pregão na Bolsa de Valores brasileira, em São Paulo - Nelson Almeida - 16.mar.2020/AFP

"As emissões do governo e do BB abrem as portas para novas operações e dão mais visibilidade de demanda", afirma Lucianna Lorenzo, responsável pelo time de mercado de capitais de renda fixa para Brasil do JPMorgan.

Ela diz que os investidores globais acumularam volumes expressivos de recursos em caixa ao longo do ano passado e agora estão de bolso cheio e em busca de bons negócios.

"Os investidores têm muito caixa e estão prontos para procurar boas oportunidades", afirma Lucianna, que estima que os vencimentos de títulos de renda fixa no mercado externo tenham superado as emissões em quase US$ 300 bilhões (R$ 1,5 trilhão) em 2022. "As operações [do governo brasileiro e do BB] foram bem recebidas, e o mercado está aberto", acrescenta.

Responsável pela área de mercado de capitais do BNP Paribas para América Latina, André de Miranda e Silva diz que a liquidez abundante é um importante ponto a favor das empresas emissoras. Com os investidores com recursos em caixa e poucas ofertas na rua, fica mais fácil para as empresas captarem volumes maiores com taxas de juros mais baixas, diz Silva.

Fontes indicam que o BTG Pactual estaria com um processo em curso para acessar o mercado externo via emissão de dívidas. Procurado, o banco não comentou.

Petrobras, Itaú e Suzano também são nomes apontados entre aqueles com potencial para acessar o mercado internacional em busca de recursos na janela atual.

Responsável pela área de renda fixa internacional do Itaú BBA, Pedro Rodrigues estima, com base no histórico dos anos anteriores, um volume entre US$ 10 bilhões (R$ 50,5 bilhões) e US$ 15 bilhões (R$ 75,7 bilhões) em emissões do governo e de empresas brasileiras no exterior durante este ano.

Rodrigues diz que a redução das incertezas relacionadas ao país, com a definição das eleições no final do ano passado, e, mais recentemente, com as sinalizações sobre o novo conjunto de regras fiscais, ajuda no acesso de empresas brasileiras ao mercado no exterior. "Não estou vendo muitas coisas estruturais que possam piorar muito a situação do Brasil."

Responsável pela área de mercado de dívida do Credit Suisse Brasil, Rodrigo Fittipaldi diz que percebe o investidor estrangeiro com uma visão mais positiva em relação a Brasil do que o próprio investidor local.

"Os locais geralmente são mais receosos do que os estrangeiros", diz Fittipaldi. Enquanto os investidores brasileiros demonstram maior preocupação com aspectos como a política fiscal e a crise de empresas como Americanas e Light, o estrangeiro, que tem uma visão mais global, vê o Brasil, dentre os emergentes, como uma região ainda atraente, em especial se comparada com países como a Rússia, afirma o executivo do Credit Suisse.

Rodrigues, do Itaú BBA, acrescenta que o volume a ser captado pelas empresas brasileiras no mercado internacional também será influenciado pela dinâmica do mercado de capitais local.

O episódio envolvendo a Americanas e o receio com uma crise de crédito no país mantiveram o mercado de capitais brasileiro avesso a novas operações, mas uma melhora de humor já começou a ser observada nas últimas semanas, diz o gestor do Itaú BBA. E, se tivermos uma reabertura do mercado local à frente, a demanda por emissões no exterior tende a diminuir, afirma o especialista.

Fim do ciclo de alta dos juros nos EUA favorece mercado aquecido

Rodrigues diz ainda que a retomada das emissões no exterior também guarda relação com o ciclo de juros nos Estados Unidos.

Isso porque, com o processo de aumento da taxa básica pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) em estágio já avançado, é menor o risco de os investidores sofrerem perdas expressivas em títulos de renda fixa em razão do efeito da marcação a mercado, que é a queda no preço dos ativos à medida que os juros sobem.

"O que fez a janela [de captações no exterior] voltar a abrir é a perspectiva de que a política de alta dos juros globais está chegando ao fim", endossa Silva, do BNP Paribas. A incerteza sobre a política monetária nos EUA trazia volatilidade aos preços dos ativos no mercado, e a visão de que esse ciclo está terminando trouxe uma estabilidade que as emissoras necessitam para voltar ao mercado, acrescenta Silva.

Lucianna, do JPMorgan, ressalta, no entanto, que a janela para as empresas brasileiras captarem recursos no exterior pode ser curta. Isso porque, a depender dos próximos dados de inflação nos Estados Unidos, ainda não é possível descartar a possibilidade de novas rodadas de aumento do estresse e alta dos juros dos títulos públicos do governo americano, com retração na demanda dos investidores e menor espaço para captações de empresas brasileiras, afirma a especialista.

Chefe da área de mercado de capitais de dívida internacional do Bradesco BBI, Gilberto Nakayasu afirma que, em vez de uma janela, o que ele vê é, na verdade, uma "fresta" para que empresas bem consolidadas e já conhecidas dos investidores globais consigam acessar o mercado, frente a uma volatilidade que tende a permanecer elevada em um cenário de juros ainda altos e baixo crescimento da economia global.

"Novas ofertas são factíveis, mas para emissores frequentes, mais conhecidas do mercado, com ratings fortes."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.