CBL vai expandir mineração de lítio e produção de compostos em Minas Gerais, diz CEO

Vizinha pequena da Sigma, empresa passou a vender lítio para China, Europa e Índia nos últimos anos

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São Paulo

A poucos quilômetros da maior mina de lítio do Brasil, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, a CBL (Companhia Brasileira de Lítio) planeja sua expansão à medida que a fabricação de baterias elétricas no mundo se expande.

A mineradora, bem menor do que a gigante Sigma Lithium, opera uma mina subterrânea em Araçuaí e Itinga desde o final do século passado e agora quer dobrar a produção de concentrado de espodumênio —rocha que contém o lítio— e triplicar a produção de carbonato e hidróxido de lítio.

A empresa é a única no Brasil que transforma o minério em compostos químicos utilizados na fabricação de baterias.

Mina de lítio da CBL, em Araçuaí
Mina de lítio da CBL, em Araçuaí (MG) - Divulgação

De acordo com o CEO da mineradora, Vinicius Alvarenga, 55, a empresa estuda aumentar sua produção de concentrado de espodumênio de 45 mil para 90 mil toneladas. Para os compostos químicos, a projeção é que a produção saia de 2.000 para 6.000 toneladas.

Hoje, para chegar a esses valores, a empresa precisa extrair 250 mil toneladas de minério bruto. Com a mudança, seriam necessárias ao menos 500 mil toneladas.

A expansão ocorrerá na mesma área, sem necessidade de abrir novas minas. Ao contrário da operação da Sigma, a mina da CBL é subterrânea —tem 250 metros de profundidade.

Em comparação, a Sigma hoje consegue produzir 270 mil toneladas de espodumênio concentrado por ano e extrai 1,5 milhão de toneladas de minério bruto. A empresa não produz carbonato e hidróxido de lítio.

A expansão prevista pela CBL é para atender ao mercado externo, que tem buscado cada vez mais espodumênio concentrado para a fabricação das baterias.

Até 2020, por exemplo, toda a receita da mineradora vinha da venda de compostos químicos para o mercado nacional, mas desde então essa fatia se reduziu para a metade.

Nesse período, a empresa aumentou seu tamanho, saltando de uma receita líquida de R$ 97,6 milhões em 2019 para R$ 783,8 milhões em 2023.

"O mercado brasileiro, ao não produzir baterias, acabou ficando um muito pequeno, então mais da metade da nossa produção de compostos químicos é exportada", diz Alvarenga.

"Onde estamos hoje é fruto de um movimento expansionista para atender ao mercado internacional, já que o brasileiro é totalmente estagnado", afirma.

A maior parte dos compostos químicos da CBL vai para a Europa, e a Índia é o segundo maior consumidor da companhia. Nos dois mercados, o produto é comercializado com produtores de cátodo, parte das baterias. Já o espodumênio vai para a China.

A expansão da cadeia de valor do lítio em solo mineiro é bastante defendida por políticos do estado, inclusive pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Segundo eles, instalar novos elos da cadeia no Vale Jequitinhonha ajudaria a desenvolver a região, a mais pobre de Minas Gerais.

Alvarenga, porém, não vê possibilidades de aumento da produção dos compostos químicos —que é um passo seguinte à venda de espodumênio— enquanto não houver demanda interna.

"Só o estabelecimento de produção de baterias é que vai deflagrar mais a produção aqui dentro. E, para isso, a gente tem que ter uma frota de veículos elétricos significativa, incluindo caminhões, ônibus, e até as baterias que atendem às usinas fotovoltaicas", diz.

"Mas a gente se depara com a falta de política de Estado, que é o grande mal hoje. A gente é o único grande país sem qualquer política de Estado que incentiva a produção de baterias de íon-lítio."

Para achar outros mercados externos para além de Europa e Índia, ele vê como necessário que uma grande mineradora passe a também vender compostos químicos. "[Mas] não sei se esses grandes investimentos interessam a grupos financeiros mais fortes porque a mineração é uma atividade que a remunera muito bem no Brasil, então não sei se esse balanço é tão interessante", afirma.

'VALE DO LÍTIO' INCOMODA

Neste sábado (11), o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, vai a Nova York discursar sobre o programa "Vale do Lítio", que visa atrair mineradoras para 14 cidades da região.

O governo estima que o estado atraia R$ 30 bilhões em investimentos com a extração do mineral no Jequitinhonha até 2030.

A chegada de novas empresas na região, porém, não agrada a todos. No ano passado, a Folha contou a história de pessoas que tiveram suas casas trincadas após o início das operações da Sigma. Além dela, a americana Altas Lithium quer iniciar suas operações ainda neste ano.

"A população tem que dar o tempo ao tempo; uma operação mineral nova leva um tempo de ajustes, de controles e de pontos de gestão no sentido ambiental, trabalhista e operacional. Na mineração, dias são meses e semanas são anos; nossa métrica de tempo é um pouco diferente", diz Alvarenga.

Segundo ele, a chegada de novas empresas deram força a reivindicações antigas da CBL, como melhora na infraestrutura da região e contato com fornecedores.

Ainda assim, há queixas.

Com novas empresas muito maiores na região, atrair mão de obra para os negócios se torna ainda mais difícil, o que impede avanço dos planos.

"Há um superotimismo anunciado na imprensa quanto à possibilidade de avanço desses projetos [das outras mineradoras], mas esses cronogramas são absolutamente impossíveis ou inviáveis. Quem conhece mineração sabe que são datas impossíveis de serem atingidas", diz.

A empresa, aliás, não quis fazer parte do programa do governo Zema. "É normal no mercado que essas junior miners [mineradoras juniores] venham, comecem um projeto e já vendam até antes de estar operando. Mas esse não é o nosso padrão […], a nossa responsabilidade com o negócio é muito divergente da desse pessoal que está falando de Vale do Lítio. Estamos ali há 33 anos e vamos ficar por muito mais tempo", afirma.

A Sigma Lithium anunciou em setembro do ano passado que avalia propostas de compra —o bilionário Elon Musk e a chinesa BYD seriam alguns dos interessados.

A CBL tem capital fechado. Em 2022, o governo Zema vendeu, por R$ 208 milhões, um terço das ações que o estado tinha na empresa para os sócios-fundadores.

À Folha, no ano passado, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Fernando Passalio, disse que "não é função do governo ter empresas" e que a venda foi acertada "porque agora percebemos que a empresa tem mais fôlego para a captação de investidores que possam investir no crescimento da empresa".

Para Alvarenga, a venda para o governo em 2018 foi estratégica.

"Na época, o segmento de bateria estava nascendo em todo lugar, e a Codemge [empresa do governo mineiro] vislumbrava a produção de baterias de lítio em Minas Gerais, então, a gente procurou um sócio estratégico", diz. A mudança de governo no ano seguinte, porém, teria tornado o estado um "sócio inerte, sem sentido para a companhia".


Raio-X da CBL

Fundação: 1985
Lucro líquido em 2023: R$ 369,6 milhões
Funcionários: 776
Onde opera: Araçuaí, Itinga e Divisa Alegre, no Vale do Jequitinhonha (MG)

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