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Investidores-anjos se unem em redes para diluir riscos e aumentar troca de conhecimento

Parceria vai além do dinheiro e considera aptidão do empreendedor para lidar com dificuldades

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São Paulo

Investidores-anjos se reúnem em grupos na busca por diminuição de riscos, aumento do fluxo de dinheiro e conhecimento no mercado de startups. Portanto, além do aporte financeiro, essas associações atuam como conselheiras dos empreendedores e proporcionam troca constante de informações.

Esse tipo de investimento —que vem necessariamente de pessoas físicas— é uma das principais fontes de capital para essas empresas.

Imagem mostra um fundo azul com duas esculturas representando mãos humanas, segurando uma cédula de R$ 100.
Investidores-anjos se unem em redes para diluir riscos e aumentar troca de conhecimento nos negócios. - Gabriel Cabral/Folhapress

"O investimento-anjo costuma ser feito quando o negócio ainda está no começo, por isso é muito relevante que o empreendedor use a seu favor o conhecimento trazido por quem investe ", diz Gilberto Sarfati, professor do núcleo de empreendedorismo da FGV (Fundação Getulio Vargas).

As 24 maiores redes de investidores do Brasil realizam anualmente um levantamento para avaliar o comportamento do mercado no país. O mais recente mostra que, em 2022, esses grupos investiram R$ 68 milhões em 128 startups.

A pesquisa mostra também que, entre os membros dessas redes, 96% afirmam preferir aplicar em empresas no estágio de tração; ou seja, iniciantes, mas já em plena operação.

De acordo com Cassio Spina, 55, fundador e presidente da Anjos do Brasil, nessa etapa é mais fácil identificar os defeitos e as qualidades do negócio, além de verificar o perfil do próprio empreendedor. "O investidor-anjo é quem dá o segundo cheque. O primeiro normalmente vem do próprio empreendedor e é o que faz o negócio passar a existir", diz ele.

"O [aporte] do investidor-anjo é o que ajuda a crescer de verdade, e só é possível avaliar se a empresa consegue esse crescimento depois de um certo tempo", acrescenta.

O executivo afirma ainda que a vantagem de se investir em grupo é tanto do empreendedor quanto do investidor. "Quando se investe com mais gente, o risco natural de aplicar dinheiro em uma empresa iniciante é diluído. Para o empreendedor, um maior número de investidores gera um aporte maior."

Para submeter um negócio à avaliação da Anjos do Brasil, é possível se inscrever por meio do site da rede, que fará uma análise da empresa. Os membros fazem reuniões virtuais mensalmente com os empreendedores, que buscam vender suas ideias.

Em geral, as maiores redes de investidores-anjos do Brasil são formadas por ex-alunos de universidades renomadas. Uma dessas é a Insper Angels.

"A nossa ligação com o Insper não é institucional, mas é umbilical. Os membros se conheceram lá e foi onde nós aprendemos muito do que sabemos sobre economia. Nos juntar possibilita que passemos isso para frente", diz Vitor Kawamura, 32, presidente da rede.

Camila Farani, 42, uma das referências do investimento-anjo no Brasil, diz que o maior atrativo do negócio é a possibilidade de compartilhar e conhecer novos mercados e novas pessoas.

"Eu invisto em startups há 13 anos e poder sonhar junto com o empreendedor e ajudá-lo a conquistar aquilo é algo que me permite conhecer pessoas e mercados", afirma a empresária, que é fundadora da Gávea Angels, rede pioneira no Rio de Janeiro, e ex-jurada do programa Shark Tank Brasil.

Farani afirma que a soma de alguns fatores é o que a faz decidir por investir ou não. Segundo ela, o perfil do empreendedor é tão importante quanto a saúde financeira na hora de avaliar uma startup.

"Eu tenho uma tese que chamo de três Ts, que são team, tech e trench [equipe, tecnologia e trincheira]. Para investir em uma empresa, preciso ver nela pessoas dedicadas e que sabem o que estão fazendo, uma ideia inovadora, com tecnologia para crescer, e uma estratégia de defesa no caso de algum problema."

Com a falência do Silicon Valley Bank, no início de 2023, o mercado de startups sofreu um abalo, com diminuição das aplicações em diversas empresas. Farani, no entanto, não acha que o investimento-anjo esteja passando por uma crise.

"O cenário atual é difícil para qualquer tipo de investimento. Estamos no meio de uma guerra, no Brasil acabamos de mudar de governo, tudo isso afeta a circulação do dinheiro. Mas acho que ficamos mais com o pé no chão, buscando com mais critério onde investir."

O mesmo pensa Cassio Spina, da Anjos do Brasil. Para ele, houve um período de insegurança no mercado, mas hoje o que se vê é mais seletividade.

"Durante a pandemia, criou-se uma espécie de bolha de startups, como se toda empresa fosse crescer exponencialmente. Acho que essa crise gerou um medo que acabou sendo benéfico para o mercado, porque aumentou o retorno, que é o principal objetivo de qualquer investimento."

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