O secretário das Relações Exteriores britânico, Boris Johnson, renunciou ao cargo nesta segunda-feira (9), tornando-se o terceiro ministro a abandonar o governo de Theresa May em 24 horas. O conservador Jeremy Hunt foi apontado para o cargo.
Na última sexta-feira (6), Johnson ajudou a costurar um acordo entre os membros do gabinete sobre a estratégia de May para a saída da União Europeia (o "brexit"), num encontro que durou o dia todo. Depois, segundo o jornal The Guardian, Johnson decidiu não apoiar mais o acordo.
Um porta-voz do governo britânico afirmou: "Nesta tarde, a primeira-ministra aceitou a renúncia de Boris Johnson como secretário das Relações Exteriores. Seu substituto será anunciado em breve. A primeira-ministra agradece a Boris por seu trabalho".
Em carta divulgada após o anúncio oficial do governo, Johnson afirmou que o plano de May "não desce pela garganta" e vai dar ao Reino Unido o status de colônia em relação à UE.
"Estamos verdadeiramente no caminho para o status de uma colônia —e muitos lutarão para ver a vantagem econômica ou política desse arranjo", afirmou na carta de duas páginas.
"O 'brexit' deveria ser sobre oportunidades e esperanças. Deveria ser uma chance de fazer as coisas de modo diferente, de ser mais ágil e dinâmico e de maximizar as vantagens particulares do Reino Unido como uma economia aberta, voltada para fora", disse Johnson. "Esse sonho está morrendo, sufocado por uma insegurança desnecessária."
Em discurso no Parlamento, a primeira-ministra afirmou que "não estamos de acordo sobre a melhor maneira de entregar nosso compromisso compartilhado de honrar o resultado do referendo" em que a população aprovou a saída da UE.
Ela falou ainda que a UE precisa trabalhar de maneira construtiva com a proposta de seu governo, ou arrisca ver o Reino Unido deixar o bloco sem um acordo.
O porta-voz de May disse que ela resistirá qualquer tentativa de derrubar seu governo.
Na próxima quinta, a primeira-ministra deve divulgar a íntegra de seu plano para o "brexit".
A renúncia de Johnson ocorre após a saída do secretário do "brexit", David Davis, e seu número dois no Departamento da Saída da EU, Steve Baker.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, afirmou nesta segunda que o brexit está longe de ser resolvido e que nada mudou após a saída de Davis.
Davis, que apoiou o "brexit" no referendo de 2016, disse que saía porque a estratégia de May "abriu mão de muito, muito facilmente" aos negociadores da UE.
"A bagunça causada pelo 'brexit' é o maior problema na história das relações UE-Reino Unido e está muito longe de ser resolvido, com ou sem Davis", afirmou Tusk.
Depois, nas redes sociais, Tusk sugeriu que possa não haver um "brexit": "Políticos vão e vem, mas os problemas que eles criaram para as pessoas permanecem. Posso apenas lamentar que a ideia do 'brexit' não saiu junto com Davis e Johnson. Mas... quem sabe?"
Davis foi substituído nesta segunda pelo deputado Dominic Raab, outro ferrenho defensor do 'brexit'. Já Baker será substituído por Chris Heaton-Harris.
A saída do Reino Unido do bloco está marcada para 29 de março de 2019, e a UE vem advertindo o país de que o tempo para chegarem a um acordo está terminando.
"Essa bagunça é obra da própria primeira-ministra", disse o líder trabalhista, Jeremy Corbyn. "A equipe apontada por ela para garantir esse acordo para nosso país pulou do barco afundando."
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