Descrição de chapéu Governo Trump

Senado dos EUA absolve Donald Trump em processo de impeachment

Presidente permanece no cargo após acusação de abuso de poder e de obstrução do Congresso

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O presidente dos EUA, Donald Trump, durante evento na Casa Branca

O presidente dos EUA, Donald Trump, durante evento na Casa Branca Brendan Smialowski - 19.dez.19/AFP

São Paulo

A escrita se manteve: nenhum presidente na história dos Estados Unidos jamais foi retirado do cargo.

Após Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1999, Donald Trump se tornou nesta quarta-feira (5) o terceiro líder americano absolvido pelo Senado em um processo de impeachment

Protegido pelos senadores de seu partido, o Republicano, Trump foi inocentado com 52 votos contrários e 48 a favor em relação ao artigo de abuso de poder e 53 a 47 quanto a obstrução do Congresso. Eram necessários 67 apoios —dois terços da Casa— para tirá-lo da Presidência dos EUA.

Assim, ele se livra das acusações de pressionar o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, a investigar o rival democrata Joe Biden e seu filho Hunter, e de obstruir a apuração do caso pelo Congresso após o episódio vir à tona.

Minutos após a votação, Trump republicou no Twitter um vídeo que mostra sua reeleição sendo repetida a partir de 2024 por milhares de anos até terminar com "Trump 4EVA" (para sempre).

Em seguida, ele escreveu que faria uma declaração pública na Casa Branca nesta quinta (6) para discutir "a VITÓRIA do nosso país na farsa do impeachment".

A absolvição veio com apoio quase total do Partido Republicano no Senado, onde Trump não é unanimidade.

Mitt Romney, um costumeiro crítico do presidente e que já havia votado a favor da convocação de novas testemunhas no processo, foi o voto republicano solitário pela condenação de Trump por abuso de poder. 

A decisão, no entanto, não alterou o previsível resultado do julgamento. 

Com 53 assentos no Senado, a maioria republicana já desenhava, desde o começo da crise, um panorama de difícil aprovação do impeachment, um processo classificado por Trump como puramente partidário, uma "caça às bruxas" para derrubá-lo e uma tentativa de reverter o resultado do pleito de 2016, quando foi eleito. 

Esse cenário fez com que a oposição resistisse por semanas a detonar o julgamento, iniciado em 24 de setembro, na Câmara dos Deputados, onde a maioria é democrata. 

Nos meses seguintes, congressistas ouviram testemunhas, analisaram documentos e elaboraram um relatório de 300 páginas que defendia a cassação do mandato do presidente.

Todo o imbróglio que gerou o processo de impeachment parte do telefonema do líder americano, em 25 de julho, ao então recém-eleito presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, a quem Trump pediu para investigar Joe Biden, pré-candidato democrata à Presidência e possível rival na eleição de novembro, e seu filho Hunter, ex-membro do conselho de uma empresa suspeita de corrupção na Ucrânia. 

Dias depois, no começo de agosto, uma denúncia anônima à CIA, a agência de inteligência americana, a partir de relatos de pessoas que ouviram o telefonema ou tiveram acesso à transcrição da ligação, acusa o presidente de ter abusado do poder de seu cargo para obter ganhos pessoais, ameaçando assim o sistema eleitoral americano. Em 19 de setembro, o jornal The Washington Post revela o caso.

Além do pedido de abertura de investigação, Trump havia congelado o envio de uma ajuda militar de US$ 391 milhões à Ucrânia como maneira de forçar Zelenski a fazer aquilo que ele desejava.

Na primeira votação na Câmara dos Deputados sobre o processo, 232 deputados foram favoráveis à continuação do inquérito, enquanto 196, ​contrários.

O placar mostrou a polarização da Casa e a fidelidade dos republicanos: nenhum parlamentar da legenda de Trump foi contrário a ele, enquanto apenas dois democratas se rebelaram. A divisão partidária se repetiria em todas as votações subsequentes no Congresso.

Em audiências públicas, o Comitê de Inteligência da Câmara entrevistou 12 testemunhas do caso —todos atuais ou ex-integrantes do governo. Alguns membros da Casa Branca, no entanto, são impedidos de testemunhar, como foi o caso de autoridades do Departamento de Estado. 

Em seu depoimento, a ex-embaixadora dos EUA na Ucrânia Marie Yovanovitch afirma que Trump fez uma “campanha de difamação” para tirá-la do cargo porque ela se recusou a ajudar a pressionar Zelenski.

​​ Gordon Sondland, embaixador dos EUA para a União Europeia e doador republicano, diz que pressionou o líder ucraniano por “ordem expressa” do presidente americano.

As evidências levam a uma sessão histórica no Congresso, na qual Trump se torna o terceiro presidente da história americana a ter seu impeachment aprovado na Câmara.

Em 15 de janeiro, o processo segue ao Senado, em uma cerimônia coreografada, com deputados marchando e carregando documentos em direção à Casa. Seria a última cena de vitória dos democratas. 

A aposta da oposição era que novos documentos e testemunhos fossem incluídos no processo. Mesmo sem a condenação ao final, o presidente passaria semanas exposto a revelações desagradáveis, bem no início da campanha eleitoral na qual busca a reeleição. 

Havia esperança de que alguns republicanos votassem contra o presidente e apoiassem a ampliação das investigações. Essa expectativa foi sepultada na noite de quinta (30/1), quando, mesmo com o apoio de outros dois parlamentares republicanos, o senador republicano Lamar Alexander disse que votaria contra a proposta

Ele classificou as ações de Trump como inapropriadas, mas afirmou que o caso não era digno de removê-lo do cargo. ​Sem novas informações, coube aos senadores apenas votar o relatório feito pela Câmara, que foi rejeitado. 

Na reta final do processo, novas revelações sobre o caso que motivou a investigação seguiram vindo a público. John Bolton, ex-assessor de Segurança Nacional, escreveu em um livro a ser lançado que o presidente pediu a ele diretamente para intensificar a pressão sobre a Ucrânia, algo que Trump nega.

Sem a sombra do impeachment, Trump agora pode se dedicar para valer à campanha de reeleição. Ele será o candidato do Partido Republicano e aguarda a definição de qual será seu rival democrata.

Trump foi o quarto presidente a ser alvo de um processo de impeachment. Nenhum deles foi cassado pelo Congresso. Richard Nixon se demitiu durante o processo, em 1974, antes de ser condenado, e os outros três nomes seguiram no cargo. A história, ao menos grande parte dela, se repetiu. 


OUTROS PRESIDENTES QUE SOFRERAM PROCESSO DE IMPEACHMENT

Andrew Johnson, 1868 
Sucessor de Abraham Lincoln, divergiu do Congresso sobre como lidar com os ex-escravos após a Guerra de Secessão; a Câmara votou a favor, mas o Senado vetou a cassação de seu mandato 

Richard Nixon, 1973-1974
Em processo detonado pelo caso Watergate, foi acusado de abuso de poder e obstrução de Justiça; renunciou para evitar ser cassado, tornando-se o primeiro presidente  dos EUA a se demitir

Bill Clinton, 1998-1999 
Com acusação de perjúrio e obstrução de Justiça, o inquérito começou com o caso da estagiária com quem Clinton teria tido relações sexuais; a Câmara votou por abrir o processo, mas o Senado barrou


Reações

"O que ele fez não foi 'perfeito' —não, foi um flagrante ataque a nossos direitos eleitorais, nossos interesses de segurança nacional e nossos valores fundamentais. Corromper uma eleição para se manter no cargo é talvez a violação mais abusiva e destrutiva do juramento do cargo que eu posso imaginar."

Mitt Romney, senador republicano por Utah que contrariou seu partido e votou pela condenação de Trump

 

"O veredito deste pseudo-julgamento será insignificante. Ao negar os fatos —recusando testemunhas e documentos— a maioria republicana colocou uma marca gigante de um julgamento falso na absolvição do presidente Trump, escrita em tinta indelével. A absolvição em um julgamento injusto não vale nada, nem para o presidente Trump nem para qualquer outra pessoa."

Chuck Schumer, líder da minoria democrata no Senado


"O presidente se gabará de ter sido absolvido. Não pode haver absolvição sem julgamento, nem julgamento sem testemunhas, documentos e provas."

Nancy Pelosi, deputada democrata presidente da Câmara


​"Rejeitaremos este caso incoerente que não chega nem perto de justificar a primeira remoção de um presidente da história. Este impeachment partidário acaba hoje. Mas receio que a ameaça às nossas instituições não termine, porque este episódio é um sintoma de algo muito mais profundo."

Mitch McConnel, líder da maioria republicana no Senado

 

"Infelizmente, duvido que meus colegas democratas, que estão motivados pelo ódio ilimitado ao presidente Trump, tenham a capacidade de seguir em frente. O presidente foi absolvido hoje pelo Senado e será exonerado pelo povo americano em novembro, quando for reeleito para um segundo mandato."

Lindsey Graham, senador republicano pela Carolina do Norte

 

"Hoje é um dia vergonhoso para o Senado do EUA, um dia sombrio para a Constituição dos EUA e um dia triste para os Estados Unidos da América. Mas eu espero —espero profundamente— que as pessoas não desistam. Lutamos por um governo que funcione para todos —não apenas para os ricos, os poderosos e os corruptos." 

Elizabeth Warren, senadora democrata por Massachusetts

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