Polícia de Israel estava sob pressão, mas ideia era prevenir violência, diz embaixador sobre conflitos

Diplomata afirma que cenas de confrontos com palestinos 'não aparecem bem na TV nem em campo'

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Washington

Uma série de atos violentos em Jerusalém tem reacendido o temor de que a região repita o roteiro seguido em maio de 2021, quando as tensões acabaram levando a um conflito mais amplo na Faixa de Gaza.

Na sexta-feira (15), a polícia israelense entrou na mesquita Al-Aqsa, uma das mais importantes do islã, deixando ao menos 152 palestinos feridos. As imagens que circulam pelas redes sociais mostram policiais atacando pessoas deitadas da mesquita e as forças de segurança empurrando homens idosos saindo do complexo religioso.

Palestinos carregam corpo de homem morto em conflito com forças de segurança de Israel em Jenin - Jaafar Ashtiyeh - 15.abr.22/AFP

À Folha o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, diz que a polícia tentava garantir a segurança de quem estava em Jerusalém para as festas religiosas. Coincidem neste ano as celebrações do Pessach dos judeus, do Ramadã dos muçulmanos e a Páscoa dos cristãos.

Zonshine afirma que alguns jovens palestinos tentaram provocar as forças israelenses, que "reagiram de um jeito que não aparece bem na TV".

"Nem tudo pode ser explicado. Acredito que os policiais estavam sob pressão por causa do número de pessoas", diz. "Não era uma situação calma que podemos sentar aqui e analisar. Não posso justificar um comportamento que não parece certo, mas de uma maneira geral a ideia não era provocar as pessoas, e sim prevenir [a violência]."

Como o senhor explica o que está acontecendo em Jerusalém? Temos que entender o momento e o local. Estamos falando de Ramadã, Pessach e Páscoa cristã acontecendo ao mesmo tempo. É um momento sensível, de um ponto de vista religioso. Muitas pessoas estão indo para rezar em paz.

O que aconteceu na sexta-feira foi que uma dezena de jovens provocou as forças de segurança israelenses, lançando pedras que tinham preparado com antecedência. Foi uma provocação. As forças de Israel reagiram de um jeito que não aparece bem na TV, e acho que não aparecia bem no terreno também. Infelizmente, pessoas ficaram feridas, em sua maioria palestinos.

O senhor mencionou que não ficou bem na TV. Tampouco ficou nas redes sociais. Vimos imagens de homens e mulheres idosos sendo atacados. Como explica isso? Nem tudo pode ser explicado. Acredito que os policiais estavam sob pressão por causa do número de pessoas. Parte dos jovens lançava pedras nos policiais. Não era uma situação calma que podemos sentar aqui e analisar. Não posso justificar um comportamento que não parece certo, mas de uma maneira geral a ideia não era provocar as pessoas, e sim prevenir [a violência].

O senhor se preocupa que a situação possa piorar agora, como aconteceu no ano passado? Esperamos que não se espalhe para outros lugares. Muçulmanos do mundo todo estão olhando para Jerusalém. Não queremos dar razão para quem está procurando um motivo para incendiar a região —enquanto, ao mesmo tempo, protegemos os interesses israelenses.

A ideia é sermos sábios e não necessariamente procurarmos justiça. Ir atrás de justiça pode terminar com mortos.

O que o senhor quer dizer com justiça, nesse sentido? Cada um dos lados está olhando para as próprias justificativas. [Esse local] é sagrado para os muçulmanos e para os judeus. Os judeus sentem que têm um direito e que foram prejudicados nesse direito.

Por que os judeus não podem rezar ali? Isso é o que quero dizer com "justiça". A justiça de poder exercer seus direitos religiosos. Temos direitos religiosos, mas temos também uma realidade, e a intenção é a de não levar a um confronto grande demais entre ambas as coisas.

O partido Lista Árabe Unida "congelou" a participação na coalizão do premiê Naftali Bennett, com críticas à postura da gestão frente aos protestos. Isso preocupa o governo? Sim. O governo está dividido igualmente entre coalizão e oposição, com 60 deputados de cada lado. Tenho certeza de que é uma preocupação para o primeiro-ministro. Já que o governo é constituído de uma gama variada de partidos, não pode tomar decisões radicais. O governo tem que manter um consenso que seja aceito por todos. Por isso, eu acho que não vão tomar decisões drásticas nessa situação.


RAIO-X | Daniel Zohar Zonshine​, 63

Graduado em Arqueologia e com mestrado em estudos de Defesa, ​ ingressou no serviço exterior israelense em 1990. Foi embaixador em Mianmar e cônsul-geral em Mumbai (Índia). No Ministério de Relações Exteriores, atuou na Agência de Programas no Exterior, no Departamento de América do Sul e no Departamento de Assuntos Palestinos. Serviu na embaixada em Brasília entre 1998 e 2002.

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