Califórnia aprova US$ 54 bi contra crise climática na esteira de pacote de Biden

Plano é vitória para governador democrata com aspiração nacional

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Brad Plumer
The New York Times

A Califórnia, estado americano que se fosse um país teria a quinta maior economia do mundo, lançou nesta semana seu maior esforço até aqui para enfrentar a crise climática. Seus legisladores aprovaram uma série de leis que visam a reduzir as emissões e deixar o consumo de combustíveis fósseis para trás.

O pacote inclui o valor recorde de US$ 54 bilhões em gastos e novas e amplas restrições a perfurações de óleo e gás, determinando que até 2045 o estado terá obrigatoriamente que parar de lançar dióxido de carbono na atmosfera.

Votou-se ainda pela prorrogação por cinco anos do funcionamento da última usina nuclear local, algo que no passado teria sido visto por ambientalistas como impensável. Defensores da medida disseram que a Califórnia —que novamente está com dificuldade em conservar luzes acesas em meio a uma onda de calor escaldante— precisa da eletricidade da usina, isenta de emissões, enquanto outras fontes de energia limpa são ampliadas.

Carros cruzam as marcas deixadas por incêndio que que atingiu estrada próxima à Castaic, na Califórnia - David Swanson - 1°.set.22/Reuters

Aprovadas na noite de quarta-feira (31), as leis representam uma vitória do governador Gavin Newsom, democrata que vem procurando se mostrar como líder climático enquanto eleva seu perfil nacional e começa a atrair especulações sobre uma possível candidatura à Casa Branca.

Newsom surpreendeu legisladores em agosto quando os exortou a aprovar várias novas leis climáticas, muitas das quais não tinham sido aprovadas antes. Ao final, todas as suas propostas passaram, menos uma: um projeto que buscava reforçar a meta estadual de redução dos gases estufa até 2030. A medida foi rejeitada por quatro votos.

"O progresso que fizermos na questão da crise climática neste ano será sentido por gerações, e o impacto se espalhará para muito além de nossas fronteiras", disse Newsom em comunicado. As novas iniciativas da Califórnia dão impulso a crescentes esforços nos EUA para limitar as emissões de gases que estão superaquecendo o planeta.

Em agosto o presidente Joe Biden assinou uma lei climática ampla que prevê investimentos de US$ 370 bilhões nos próximos dez anos. Mas ela, por si só, não será o bastante para eliminar até 2050 a emissão de gases estufa no país, meta que cientistas dizem que o mundo inteiro precisa alcançar para evitar os efeitos mais catastróficos da mudança climática. A Casa Branca afirma que os estados também precisam tomar iniciativas mais decisivas.

A Califórnia já possui algumas das políticas mais rigorosas para promover a energia renovável. No mês passado, reguladores estaduais finalizaram um plano para proibir até 2035 a venda de carros novos movidos a gasolina. A expectativa é que a política acelere a transição global para veículos elétricos.

Mas diante das ondas recordes de calor, secas e incêndios que vêm fustigando o estado, Newsom enfrenta a pressão crescente de ativistas. Enquanto os parlamentares votavam, o Serviço Meteorológico Nacional avisava que uma onda de calor "extremamente perigosa" cobriria o estado.

Especialistas afirmam que agora o estado terá que efetuar o trabalho difícil de concretizar as metas de cortes de emissões.

Legisladores haviam definido anteriormente uma meta para a Califórnia de até 2030 reduzir as emissões para 40% abaixo dos níveis de 1990. Pelonovo texto, o estado terá que reduzi-las em pelo menos 85% até 2045 e compensar por quaisquer emissões ainda remanescentes, plantando árvores ou usando tecnologias como a captura direta de ar.

Mas definir uma meta ambiciosa é apenas um primeiro passo. Por enquanto, o estado nem sequer está no caminho certo para alcançar suas metas para 2030, segundo Danny Cullenward, diretor de política pública da ONG CarbonPlan. "Se essas novas metas forçarem o Parlamento a reestudar o assunto e apresentar um plano de corte de emissões novo e digno de crédito, ótimo", diz. "Mas acho que eles ainda não têm um plano realista de implementação."

O orçamento de Newsom prevê o gasto recorde de US$ 54 bilhões com programas climáticos ao longo de cinco anos. Ele inclui US$ 6,1 bilhões para veículos elétricos, incluindo verbas para a compra de ônibus escolares movidos a bateria; US$ 14,8 bilhões para obras; US$ 8 bilhões para limpar e estabilizar a rede elétrica; US$ 2,7 bilhões para reduzir o risco de incêndios; e US$ 2,8 bilhões em combate a seca.

O governador da Califórnia, Gavin Newson, acena ao entrar no Capiólio, durante visita em Washington
O governador da Califórnia, Gavin Newson, acena ao entrar no Capitólio, durante viagem a Washington - T.J. Kirkpatrick - 15.jul.22/The New York Times

Além da manutenção da operação dos reatores de Diablo Canyon, uma das medidas mais polêmicas aprovadas pelo Legislativo é a exigência de que novos poços petrolíferos e de gás fiquem a pelo menos 975 metros de distância de casas, escolas e hospitais, além da imposição de controles de poluição mais rigorosos sobre poços em distâncias menores.

A Califórnia é o sétimo maior produtor de óleo do país, mas nunca antes implementou zonas de proteção em volta de poços, como fazem estados como Colorado e Pensilvânia. Os defensores da nova regra estimam que 2,7 milhões de californianos estejam nessas condições; no ano passado um comitê de saúde estadual concluiu que residir perto de poços ativos eleva o risco de asma, ataques cardíacos e partos prematuros.

"A indústria não é contra a definição dos limites", diz Kevin Slagle, porta-voz da Associação Petrolífera dos Estados Ocidentais. "Mas uma ordem política igual para todo o estado pouco ajuda a proteger a saúde e segurança; nos tornará mais dependentes de petróleo do exterior e aumentará os custos."

Outra lei manda os reguladores traçarem novas diretrizes para a captura e armazenagem de carbono. Newsom disse que a tecnologia, ainda de custo alto, é necessária para o estado alcançar suas metas climáticas, mas alguns ativistas dizem que ela permitiria que indústrias continuassem a queimar combustíveis fósseis.

Especialistas afirmam que o impasse em torno da política climática na Califórnia foi quebrado graças ao governador. Muitos projetos pareciam estar parados até que Newsom interveio. "Nos últimos anos o Senado tem sido o lugar onde a política climática vai para morrer", diz David Weiskopf, assessor da NexGen Policy. "Mas então Newsom disse: ‘Vamos resolver o clima’. Ele nunca havia feito isso antes."

Tradução de Clara Allain

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