EUA afastam navios de guerra da Rússia e da China perto do Alasca

Raro encontro ocorre após Putin e Xi acertarem patrulhas e exercícios conjuntos

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São Paulo

Na segunda-feira retrasada, Rússia e China anunciaram que iriam acelerar a cooperação entre suas Forças Armadas, hoje bastante ativa na Ucrânia e no Báltico, de olho no contexto da Guerra Fria 2.0 que começou entre Washington e Pequim em 2017.

No mesmo dia, 19 de setembro, tudo indica que a parceria já estava em curso: um navio da Guarda Costeira americana localizou, por acaso, uma formação com três belonaves chinesas e quatro russas navegando perto das águas americanas do Alasca, no mar de Bering.

Navio-patrulha oceânico da classe Legend, igual ao que avistou o comboio russo-chinês no Alasca
Navio-patrulha oceânico da classe Legend, igual ao que avistou o comboio russo-chinês no Alasca - Ted Aljibe - 3.set.2022/AFP

O caso foi revelado nesta semana pela Marinha americana. O navio de patrulha oceânica USS Kimball primeiro avistou um cruzador com mísseis de cruzeiro chinês 140 km ao norte da ilha Kiska, no Alasca. Isso já seria inusual, dado que embarcações de Pequim são raras por ali.

Mas a surpresa veio depois: havia um comboio, incluindo um destróier russo da Frota do Pacífico, não identificado ainda. Assim que os americanos os localizaram e sinalizaram, a formação se desfez, com cada barco seguindo um rumo. Um avião de reconhecimento Hércules acompanhou a ação.

"Apesar de a formação operar de acordo com normas internacionais, nós vamos enfrentar presença com presença para garantir que não haja disrupção dos interesses americanos em torno do Alasca", afirmou o comandante da Guarda Costeira na região, almirante Nathan Moore.

As águas árticas são uma das novas fronteiras de tensão entre russos, agora reforçados pelos chineses, e o Ocidente. Em sua revisão de doutrina naval, anunciada depois da Guerra da Ucrânia, o presidente Vladimir Putin colocou especial ênfase na atuação na região norte do globo. Na semana retrasada, ele se encontrou com o líder chinês, Xi Jinping.

Há motivos algo óbvios para isso: além de quase metade do oceano Ártico banhar a Rússia, a mudança climática tem proporcionado invernos mais moderados e derretimento da calota polar da região, permitindo um incremento na rota que vai de Murmansk (Rússia) a portos da costa oeste chinesa.

Ainda incipiente, é uma alternativa para Pequim e para Moscou aos bloqueios que podem sofrer nos mares, particularmente os chineses, que têm uma economia mais desenvolvida e baseada em exportação —que são majoritariamente pelo mar.

Além disso, o Ártico é rico em hidrocarbonetos. Rússia e França têm campos de exploração conjuntos de gás natural na região de Iamal, e petróleo é explorado por toda a região. O tempero, no caso do Alasca, é o fato de que ele foi um território russo vendido aos americanos em 1867.

Antes do conflito na Europa, russos e americanos já se estranhavam nas águas do Pacífico, mais ao sul, perto da base do Kremlin em Vladivostok. Em pelo menos uma ocasião, um navio de Moscou ameaçou abalroar um destróier americano que estava em suas águas.

A cooperação entre Moscou e Pequim tem se intensificado com patrulhas conjuntas, tanto de navios como de bombardeiros, e tem sido respondida com medidas semelhantes pelos EUA.

Ainda mais ao sul é o território já congestionado do mar do Japão, do estreito de Taiwan e do mar do Sul da China, todos arenas de embates constantes entre chineses, às vezes acompanhados pelos russos, e americanos e seus aliados.

Nesta terça (27), o Exército de Libertação Nacional chinês divulgou vídeo em que um caça de origem russa J-15 decola do porta-aviões Liaoning e sobrevoa o que parece ser um destróier americano. A peça também mostra o navio com 24 caças no deque, algo antes nunca visto.

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