Descrição de chapéu forças armadas

Combates entre tribos do Sudão deixam ao menos 150 mortos em 2 dias

Violência agrava instabilidade do país africano, que vive vácuo de poder após golpe militar frustrar caminho para democracia

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Cartum | AFP

Ao menos 150 pessoas morreram e 86 ficaram feridas no Sudão nos últimos dois dias após confrontos entre tribos na região do Nilo Azul, no sul do país africano. À agência Associated Press autoridades estimaram que o número de mortos chegue a 170.

O surto de violência teve origem em uma mobilização nacional da tribo hausa, historicamente marginalizada, que culminou em conflitos com grupos rivais. Costumes locais —que, ainda que não cravados em lei, continuam a ser seguidos— impedem os hausas de possuir terras.

Mulher participa de manifestação na capital Cartum pedindo o fim da violência entre tribos no Sudão após escalada na região de Nilo Azul - Mohamed Nureldin Abdallah - 26.jul.22/Reuters

O episódio agrava a espiral de violência que envolve a região do Nilo Azul, na fronteira com a Etiópia —de resto também afundada em conflitos. Autoridades impuseram toque de recolher noturno na segunda-feira (17) após outras 13 pessoas serem mortas em embates. Entre julho e setembro, ao menos 149 morreram e mais de 65 mil foram deslocadas dali, segundo cifras da ONU.

Profissionais da área da saúde relataram às agências de notícias Reuters e AFP que os mortos incluíam mulheres e crianças. Os corpos tinham sinais de ferimentos com balas, queimaduras e facadas. Muitas casas da região foram incendiadas durante os conflitos.

Mas, para além das disputas tribais, a violência na região reflete o que analistas descrevem como consecutivas turbulências no país de 45 milhões de habitantes e um vácuo no poder, que, somado aos efeitos da Guerra da Ucrânia, catalisou a crise econômica local.

Há quase um ano, o Sudão engrossou a lista de países que passaram por golpes de Estado. Em 25 de outubro de 2021, tropas lideradas pelo general Abdel Fattah al-Burhan prenderam integrantes civis de um governo de transição e assumiram o comando do país alegando impedir a eclosão de uma guerra civil.

O golpe frustrou a expectativa de alcançar um regime democrático depois que, em abril de 2019, sudaneses conseguiram derrubar o ditador Omar al-Bashir, que estava no poder havia três décadas, e arrancar das Forças Armadas o compromisso de que entregariam o poder para um governo civil eleito por meio do voto.

Para além da violência no Nilo Azul, replicam-se também episódios de tensão em Kordofan Ocidental, na fronteira com o Sudão do Sul. Nesta quarta (19), militares acusaram um dos maiores grupos rebeldes do país, o Movimento Popular de Libertação do Sudão do Norte, de violar um cessar-fogo de três anos firmado em agosto de 2020.

O regime alegou que o grupo, liderado por Abdelaziz al-Hilu, lançou morteiros contra o distrito de Lagawa, ferindo soldados do Exército sudanês. "As Forças Armadas não hesitarão em lidar com qualquer violação ou agressão para garantir a segurança e a paz de todos os cidadãos", disseram os militares.

Perto de completar um ano desde que tomaram o poder, os militares ainda não nomearam um premiê —eles prometeram, à época do golpe, que realizariam eleições em 2023.

Inicialmente, os generais mantiveram Abdalla Hamdok, um civil e ex-funcionário da ONU, no cargo de primeiro-ministro, em uma tentativa de dar roupagem democrática ao movimento. Mas Hamdok, depois de poucos meses, renunciou em janeiro deste ano em meio a intensas mobilizações nas ruas da capital Cartum que pediam por democracia.

Ainda nesta semana, a principal coalizão política sudanesa, a Forças da Liberdade e Mudança, disse estar perto de alcançar um acordo com os golpistas para consolidar uma proposta que incluiria a participação de grupos rebeldes e partidos políticos em um novo governo, que também elaboraria um projeto de nova Constituição.

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