Rede social de Trump ganha influência em meio a problemas comerciais

Entusiasmo inicial com aplicativo, porém, deve passar, e financiamento pode ser pedra no sapato

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Stuart A. Thompson Matthew Goldstein
The New York Times

Desde que foi lançada, em fevereiro, a rede social Truth Social vem enfrentando problemas sucessivos. Quando o anúncio do app foi acompanhado de reveses, dois executivos da companhia pediram demissão.

Outro foi demitido depois de registrar uma queixa de um denunciante anônimo, dizendo que a empresa mãe da Truth Social estava dando ouvidos a informações fraudulentas. Duas investigações federais estão comprometendo um financiamento muito necessário de US$ 1,3 bilhão (R$ 6,65 bilhões).

Logo da plataforma Truth Social
Logo da plataforma Truth Social - Dado Ruvic - 21.fev.22/Reuters

Mas os usuários que entravam na Truth Social todo dia naquela época viam algo muito diferente: um ecossistema dinâmico de direita e cada vez mais cheio de atividade. O futuro de longo prazo segue em dúvida, mas especialistas afirmam que o aplicativo propriamente dito vem ganhando influência crescente nos círculos conservadores antes das midterms, as eleições de meio de mandato.

Isso se deve em grande medida ao ex-presidente Donald Trump, um dos fundadores do app e seu grande astro, que utiliza a plataforma como seu principal megafone. Suas publicações alcançam mais de 4 milhões de seguidores e repercutem nos grandes sites da mídia convencional e redes sociais.

Junta-se a ele na Truth Social toda uma coalizão de direita, incluindo celebridades conservadoras como o radialista e comentarista de TV Dan Bongino, figuras políticas incendiárias como a deputada republicana Marjorie Taylor Greene e toda uma constelação de proponentes de teorias conspiratórias, influenciadores de extrema direita e eleitores comuns.

O site teve 1,7 milhão de visitantes em setembro, segundo estimativas da companhia Similar Web, que monitora o tráfego na rede. Assim, mal chega a constar como concorrente de gigantes como Facebook e Twitter. Mas é muito maior que suas rivais mais próximas, incluindo Gab, Parler, Gettr, MeWe e Minds, que no mesmo mês receberam em média 360 mil visitantes cada.

Num comício recente, a candidata republicana ao governo do Arizona, Kari Lake, que vem semeando dúvidas sobre a integridade das eleições, perguntou aos presentes: "Quantos de vocês estão na Truth Social?". A multidão explodiu em aplausos. "Quem não estiver, entre logo!"

O site virou uma plataforma de organização importante para os negacionistas eleitorais antes das midterms, alimentando receios sobre fraude de eleitores e disseminando rumores sobre problemas no pleito. Um grupo usou o app para pedir cercos a urnas em busca de votos ilegais, postando uma foto que viralizou e ajudou a promover esforços semelhantes em pelo menos dez estados.

Trump o tem usado para testar defesas legais no momento em que várias investigações fecham o cerco em torno dele. Ele continua a definir os argumentos de campanha de republicanos e a promover candidatos. E endossa mensagens e imagens do movimento conspiratório QAnon, que também encontrou uma base nova na Truth Social.

A verdadeira prova pode acontecer nos próximos meses, quando o entusiasmo inicial em torno do app deve diminuir, e os problemas com seu financiamento, acirrar-se. O site dá poucos sinais de tentar atrair um público mais amplo, de vários pontos do espectro político, algo necessário para alcançar as metas grandiosas definidas pela empresa antes do lançamento.

A empresa mãe do site, o Trump Media and Technology Group, deposita suas esperanças num negócio anunciado um ano atrás com a Digital World Acquisition, firma de aquisições para fins especiais (SPAC, na sigla em inglês) que levantou US$ 300 milhões com uma oferta pública inicial de ações.

Mais tarde a companhia conseguiu garantias de três dúzias de fundos hedge de que, quando a fusão for concluída, ela liberará US$ 1 bilhão em financiamento adicional.

Donald Trump exibe publicações no Twitter em seu escritório em Nova York, em 2015
Donald Trump exibe publicações no Twitter em seu escritório em Nova York, em 2015 - Josh Haner/The New York Times

Mas o acordo agora está em dúvida, e investigações de promotores federais e reguladores podem obrigar a Digital World a liquidar ativos e devolver aos acionistas o dinheiro que levantou na oferta pública inicial de ações, o que colocaria a fusão em risco. A Digital World enfrenta dificuldades para persuadir acionistas a aprovar uma medida que lhe daria até setembro de 2023 para completar a fusão.

Se o trato com a Digital World cair, a Trump Media terá que encontrar financiamento para manter a Truth Social. Ela levantou até agora US$ 37 milhões, obtidos principalmente de doadores políticos republicanos.

William Wilkerson, ex-executivo demitido em outubro depois de ter dito publicamente que registrou a queixa de um denunciante anônimo junto à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), disse em entrevista que a empresa vem gastando cerca de US$ 1,7 milhão por mês. Recentemente a Truth Social começou a publicar anúncios em seu site.

Mas Wilkerson afirmou que, se o acordo com a Digital World fracassar, uma opção plausível seria a Trump Media considerar uma fusão com o Rumble, alternativa conservadora ao YouTube, que emergiu como principal sócio comercial da Trump Media.

Wilkerson e uma segunda pessoa que está a par das operações disseram que metade das pessoas que trabalham no escritório da Trump Media em Sarasota, Flórida, é formada por funcionários da Rumble. A Rumble é responsável por boa parte da operação do dia a dia da Truth Social. Em agosto, a empresa de Trump entrou para a plataforma de anúncios da empresa de compartilhamento de vídeos.

A Rumble recentemente completou sua própria fusão com uma SPAC, o que lhe deu acesso a cerca de US$ 400 milhões em dinheiro disponível. "É muito provável que agora a Rumble seja uma empresa de capital aberto", disse Wilkerson.

A Trump Media não tratou de uma potencial fusão futura com a Rumble. Mas, em comunicado enviado por email, a empresa atribuiu à SEC a demora em concluir a fusão com a Digital World. "Apesar de sua missão ser proteger acionistas no varejo", disse a Trump Media, "a SEC os está prejudicando deliberadamente com seu esquema de visar a alvos políticos de modo ilícito. E ela deve sofrer consequências graves por isso."

A Rumble não respondeu a pedidos de comentários.

Tradução de Clara Allain 

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