Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Alemanha cede e libera envio de seus tanques para a Ucrânia, diz revista

Berlim estava sob pressão de aliados e vai mandar inclusive blindados de seu Exército; EUA estudam o mesmo

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São Paulo

Após semanas de pressão de seus aliados no apoio à resistência da Ucrânia contra a invasão russa, a Alemanha cedeu e vai permitir não só o envio de tanques de sua fabricação operados por outros países para Kiev, mas também mandar um número incerto de blindados de seu Exército.

A informação foi publicada pela revista Der Spiegel e não foi comentada ainda pelo governo do premiê Olaf Scholz. Mais cedo, a Polônia havia pedido autorização aos alemães para o envio de apenas 14 tanques Leopard-2. Berlim, que detém a licença de reexportação do modelo germânico, disse que irá analisar o caso rapidamente.

Varsóvia opera 244 tanques do tipo, 97 dos quais do modelo mais antigo A4, que quer mandar a Kiev. O pedido exíguo testou a disposição alemã, já que o governo de Scholz adia há semanas a decisão. Agora, tudo indica que aquiesceu.

Tanque Leopard-2 polonês durante manobra militar com aliados ocidentais em Nowgard, em maio passado
Tanque Leopard-2 polonês durante manobra militar com aliados ocidentais em Nowgard, em maio - Wojtek Radwanski - 19.mai.2022/AFP

A ser verdade, há uma frota de 2.300 tanques do modelo à disposição na Europa, operados por 12 países. Não se sabe quantos dos 376 Leopard-2 usados pela Alemanha, além de dezenas em estoque, seriam enviados.

Além disso, o jornal americano The Washington Post publicou reportagem dizendo que o governo de Joe Biden mudou de ideia e considera a hipótese de fornecer os poderosos, caros e difíceis de operar tanques M1A2 Abrams para Kiev. Resta saber se o vazamento visava pressionar os alemães ou é para valer, o que fará subir a já dura retórica russa de retaliação na guerra.

Na sexta-feira passada (20), o chamado Grupo de Contato, que reúne os 30 países da Otan mais outros 20 aliados, discutiu o caso. A Ucrânia pede os tanques, arma ofensiva até aqui não fornecida pelo Ocidente, para montar ataques contra os russos nos próximos meses.

O presidente Volodimir Zelenski pediu pressa, já que Moscou tem colhido vitórias no leste e no sul do país, algo que não acontecia desde meados do ano passado, e sua campanha de degradação da infraestrutura energética do país tem cobrado um preço da população civil. Nesta terça-feira (24), ele promoveu um grande expurgo de autoridades no país, o que sugere tensões internas.

A Alemanha diz estar pronta para colaborar e tinha sinalizado que irá liberar o envio. O motivo central é a inapetência germânica de se envolver mais no conflito, arriscando um embate direto entre Otan e Moscou, escalada cujo fim seria uma Terceira Guerra Mundial. Há fatores domésticos também, já que o pacifismo que guiou o país após os desastres do militarismo nos dois conflitos mundiais no século 20 é muito forte, e a ideia de tanques alemães em uso contra russos evoca memórias sombrias.

O Reino Unido já havia dito que vai mandar 14 modelos Challenger-2. Especialistas dizem que no mínimo cem tanques fariam alguma diferença, e Kiev quer três vezes mais. Mas qualquer envio dependerá de muito mais do que autorização: os tanques têm de ser preparados e, mais importante, ucranianos têm de ser treinados para usá-los —algo que pode demorar semanas.

Kiev tinha quase mil tanques antes da guerra e já perdeu quase metade disso, segundo dados do site holandês Oryx. No primeiro semestre de 2020, recebeu 230 T-72 soviéticos antigos da Polônia, modelo que já operava.

Tudo isso explica a pressa ucraniana. De todo modo, o Ocidente aprovou um suculento pacote militar na reunião de sexta, com blindados de infantaria, artilharia e tanques leves. Só os EUA darão mais US$ 2,5 bilhões (R$ 13 bilhões) a Kiev, elevando a US$ 26,7 bilhões (R$ 139 bilhões) suas doações militares.

Mas o debate vinha explicitando as divisões na Otan, ainda que seu secretário-geral, o norueguês Jens Stoltenberg, tenha dito nesta terça que espera uma "solução rápida" para a questão dos tanques.

Em outra frente de atrito, a Finlândia afirmou que a postura de Ancara sobre o ingresso do país e de sua vizinha Suécia na Otan só deve ocorrer após as eleições parlamentares na Turquia —marcadas para maio.

Aqui, o problema é a volta da resistência turca à postulação sueca, depois que Estocolmo permitiu um protesto contra o governo de Recep Tayyip Erdogan coalhado de gestos anti-islâmicos no sábado (21): um extremista de direita queimou um Alcorão na frente da embaixada do país muçulmano na capital da Suécia.

O presidente turco disse na segunda (23) que a Suécia não deveria esperar o apoio de seu país após o ato. Ele também quer a extradição de até 130 ativistas contrários a seu governo nos dois países nórdicos, sejam da minoria curda ou apoiadores do clérigo muçulmano que inspirou um golpe contra si em 2016.

Até aqui, a Suprema Corte sueca barrou a extradição de quatro acusados de terrorismo pela Turquia. A chancela dos Parlamentos turco e húngaro são as que faltam para que os escandinavos entrem na Otan.

A chantagem de Erdogan havia funcionado no ano passado, alimentada pela esperança de ver os adversários extraditados e de ter sua frota de caças americanos F-16 renovada —o país foi chutado do programa do avançado F-35 depois que decidiu comprar sistemas antiaéreos S-400 da Rússia.

A segunda parte do acerto parece estar avançando, mas não a primeira.

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