Trump enfim cede a mensagens de texto no celular e preocupa assessores

Aliados temem conteúdo do que ex-presidente americano, já prolífico nas redes sociais, pode escrever

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Jonathan Swan Maggie Haberman
Washington | The New York Times

Um dos traços pessoais mais consistentes do ex-presidente dos EUA Donald Trump —algo que, segundo seus assessores, ajudou a evitar problemas legais ainda piores— sempre foi sua recusa em se comunicar por mensagens de texto ou emails.

Até agora.

Trump, 76, está iniciando sua terceira tentativa de chegar à Casa Branca, enquanto ainda está sob investigação em várias frentes. Agora, segundo três pessoas que estão a par de seus novos hábitos, ele enfim se tornou alguém que se comunica por mensagens de texto. Elas teriam aparecido recentemente nos telefones de pessoas que ficaram surpresas com a mudança.

Donald Trump, então presidente dos EUA, usa celular na Casa Branca, em Washington
Donald Trump, então presidente dos EUA, usa celular na Casa Branca, em Washington - Saul Loeb - 18.jun.2020/AFP

A resistência do ex-presidente em mandar mensagens de texto frustrou os membros do comitê da Câmara que investigou a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Eles procuravam rastrear os pensamentos e as ações de Trump durante seus esforços para tentar reverter os resultados da eleição de 2020.

Em seu depoimento diante do comitê, o filho mais velho do ex-presidente, Donald Trump Jr., disse que na ocasião do ataque ele se comunicou com o então chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, porque seu pai "não enviava mensagens de texto".

Isso mudou por volta do início do ano. Amigos, confidentes e até pessoas não muito ligadas ao líder republicano começaram a receber mensagens de texto do celular dele. A maioria das mensagens foi descrita como inócua, como saudações de Ano-Novo ou observações políticas.

Não é de hoje que o ex-presidente usa o celular constantemente, mas apenas para falar —ou, antes de ter sido expulso de redes sociais, para enviar enxurradas de tuítes. (O ex-assessor que ajudou a criar a conta de Trump no Twitter disse ao site Politico certa vez que inicialmente o ex-presidente pedia a assessores para redigirem seus posts e que, quando ele próprio passou a fazê-lo, foi como a cena do filme "Jurassic Park" em que os velociraptors aprendem a abrir portas.)

Durante anos as pessoas que se correspondiam com Trump lhe enviavam mensagens de texto, que nunca eram respondidas. Era impossível se comunicar com ele por email. Trump às vezes pedia a assessores que mandassem mensagens eletrônicas a repórteres ou até telegramas.

Agora sua adoção tardia de um modo de comunicação que há anos é o mais comum entre várias gerações assinala não apenas uma disposição de entrar no mundo dos "kkkk" e "pft", mas também uma pequena mudança em sua aversão a deixar rastros eletrônicos ou em papel.

Pessoas que trabalharam para Trump na Casa Branca e em seus negócios particulares dizem que ele se orgulhava de ser "esperto" por praticamente não deixar documentadas algumas de suas comunicações e discussões em reuniões. Isso incluiu ter confiscado anotações feitas em tempo real por um assessor jurídico júnior em seu escritório nos anos 1990, quando Trump o flagrou escrevendo, segundo um consultor que trabalhou para ele na época.

Pessoas que já testemunharam em primeira mão sua aversão visceral a deixar rastros escritos se disseram chocadas ao saberem de seu novo hábito eletrônico.

"Será que ele começou a fazer anotações também?", questionou John Bolton, ex-assessor de segurança nacional, quando tomou conhecimento de que o ex-presidente começou a escrever mensagens de texto.

Trump criticou o antigo auxiliar severamente por fazer anotações durante reuniões. Bolton escreveu um dos livros mais contundentes sobre o mandato do republicano.

O ex-presidente também repreendeu Donald McGahn 2º, seu primeiro advogado da Casa Branca, por anotações que ele fez. Entrevistado pelo promotor especial Robert Müller durante a investigação sobre interferência da Rússia, McGahn disse que informou Trump que fazia anotações porque era "um advogado de verdade".

"Já tive muitos ótimos advogados, como Roy Cohn. Ele não anotava nada", Trump teria dito, fazendo referência ao mentor e "facilitador irregular" que trabalhou para ele durante anos, não recuava diante de nada e virou o protótipo do que o político buscava em um defensor.

O fato de Trump agora estar enviando mensagens de texto assustou alguns de seus auxiliares, que estão preocupados com o que ele pode escrever. Mas eles estão aliviados com outra novidade: agora, quando Trump recebe ligações vindas de números que não constam de sua lista de contatos, o telefone as encaminha diretamente para a secretária eletrônica, segundo duas pessoas a par da mudança.

A transformação ocorreu neste mês, depois de um repórter da NBC ter ligado para o ex-presidente durante a luta desesperada de Kevin McCarthy para ser eleito presidente da Câmara. Trump atendeu o telefone e concedeu uma entrevista breve que provocou azia política na seara republicana.

Ainda não se sabe qual é a posição de Trump em relação a emojis.

Tradução de Clara Allain

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