Descrição de chapéu Partido Republicano

George Santos retifica relatórios e muda origem de dinheiro doado a campanha

Após sugerir que US$ 500 mil não foram doados pelo próprio deputado, equipe do republicano afasta tesoureira

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São Paulo

O deputado americano George Santos, filho de brasileiros envolvido em controvérsias após mentiras sobre sua trajetória virem à tona, retificou parte de suas contas de campanha na terça (24). A mudança envolve doações de US$ 500 mil (R$ 2,5 mi) que haviam sido declaradas como feitas pelo próprio parlamentar.

A informação foi revelada pelo site The Daily Beast, que analisou alterações feitas por Santos nos documentos da prestação de contas enviadas a órgãos americanos que investigam o deputado.

As suspeitas sobre seu histórico financeiro e os custos de sua campanha engrossaram as críticas, feitas inclusive por republicanos, à série de mentiras que ele contou para conseguir se eleger.

O deputado americano George Santos em Washington, nos EUA
O deputado americano George Santos em Washington, nos EUA - Jonathan Ernst - 24.jan.23/Reuters

O presidente do Comitê de Supervisão da Câmara, o republicano James Comer, disse que Santos pode perder a vaga no Congresso se houver comprovação de que violou as leis de financiamento de campanha.

A declaração editada na terça não marca mais a opção "fundos pessoais do candidato" para os valores doados. Embora ainda alegue que o dinheiro veio do próprio deputado, não são mais detalhadas as origens das quantias. Um outro adendo aos documentos também sugere que um montante separado de US$ 125 mil (R$ 633 mil), antes atribuído ao republicano, não veio de seus cofres particulares.

Pouco após a alteração nos documentos, a campanha de Santos anunciou que estava removendo sua tesoureira, Nancy Marks, responsável por quase todos os fundos declarados pelo deputado. Ele e sua equipe não esclareceram o motivo para a demissão.

Recente revisão de documentos e gastos da campanha indicou possíveis irregularidades, com um fundo misterioso, a RedStone Strategies, aparecendo como origem de parte da verba arrecadada.

Uma acusação apresentada ao Comitê Federal Eleitoral (FEC) aponta que Santos ocultou doadores e usou fundos de campanha para pagar despesas pessoais, o que é irregular. O órgão diz não ter evidências de que a RedStone esteja registrada como grupo político e não parece haver registro documentando doadores, contribuições ou gastos.

A obscuridade em torno das operações de arrecadação de fundos em nome de Santos torna difícil saber se alguma lei foi violada. Mas um exame dos registros sugere que a RedStone pode ter burlado a lei.

Um dos doadores declarados de sua campanha é o empresário Andrew Intrater, primo do oligarca russo Viktor Vekselberg, alvo de sanções do governo americano. Prolífico apoiador republicano, Intrater investiu ao menos US$ 30 mil na eleição de Santos.

Outro conhecido apoiador republicano que financiou Santos é o chinês Cheng Gao, que colocou US$ 11,2 mil na campanha. O filho de brasileiros recebeu ainda doações e apoio da família do italiano Rocco Oppedisano, preso em 2019 por transportar imigrantes de forma irregular das Bahamas para a Flórida.

Ao jornal The New York Times, Jordan Libowitz, especialista em responsabilidade e ética baseado em Washington, disse que é comum que políticos corrijam discrepâncias apontadas pela FEC, especialmente quando novatos, mas que o caso de Santos parece ser incomum. Até o início desta semana, a campanha do republicano teve um número acima da média de arquivos alterados; só em papéis arquivados de julho a outubro de 2021 foram sete alterações.

Eleito em novembro, Santos reconheceu ter enganado eleitores sobre seu histórico educacional e profissional, dizendo que seu único pecado foi ter "embelezado" o currículo. Santos foi empossado apesar de colegas terem pedido investigações sobre seu comportamento e de líderes republicanos em Nova York solicitarem sua renúncia. Com a abertura de investigações, promotores indicaram que estão de olho em Santos.

Há ainda uma acusação de que ele teria enviado emails a apoiadores oferecendo visitas ao Congresso em troca de "doações" de até US$ 500 —o que não é permitido pelas regras da Casa.

No Brasil, o Ministério Público do Rio de Janeiro decidiu reabrir um processo por estelionato, que estava suspenso porque autoridades não conseguiam localizá-lo. A ação corre agora em sigilo.

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