Bombardeiros nucleares russos voam no epicentro da crise dos óvnis; veja vídeo

Moscou é principal aliada da China, acusada pelos EUA de espionar seu território com balões

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Um novo elemento surgiu na nebulosa crise dos óvnis que opõe os Estados Unidos à China: a Rússia, principal aliada militar de Pequim e rival direta de Washington na Guerra da Ucrânia.

Nesta terça (14), Moscou fez um voo com dois bombardeiros estratégicos capazes de empregar armas nucleares perto do Alasca. A região é o epicentro da confusão desde que um grande balão de Pequim entrou no espaço aéreo americano pelo estado, chegando perto de uma base militar em Montana.

Um dos bombardeiros russos Tu-95MS durante o voo sobre o mar de Bering, perto do Alasca
Um dos bombardeiros russos Tu-95MS durante o voo sobre o mar de Bering, perto do Alasca - Ministério da Defesa da Rússia via Reuters

O artefato foi abatido, sob protestos dos chineses, que alegam o uso do objeto para fins de medições meteorológicas. Isso ocorreu na semana passada e, desde sexta (10), outros três objetos de tamanho menor foram derrubados por caças americanos, dois dos quais em regiões próximas ao Alasca.

O obscuro incidente foi seguido por uma acusação de Pequim de que ao menos dez balões dos Estados Unidos invadiram o espaço aéreo chinês em 2022 —o que leva a dúvidas sobre o motivo de os chineses não terem feito nenhum protesto sobre tal movimentação.

Seja como for, a tensão segue, e o voo de dois bombardeiros Tu-95MS próximo à área do contencioso apenas adiciona temperatura à crise. De acordo com o Ministério da Defesa russo, a missão estava programada, e os aviões, escoltados por caças Su-30, ficaram sete horas no ar.

"A Aviação de Longo Alcance conduz voos de rotina sobre águas neutras do Ártico, do Atlântico Norte, dos mares Negro e Báltico, assim como do Oceano Pacífico", disse a pasta. O estreito de Bering separa a Rússia do Alasca, vendido pelos russos aos americanos em 1867, e porta ao menos do primeiro balão.

Por óbvio, é impossível dizer que a missão teve algo a ver com a crise, mas seu "timing" é notável, além do fato de que China e Rússia incrementaram suas patrulhas aéreas e manobras militares conjuntas desde a guerra. Como escreveu nesta terça-feira o analista americano George Friedman, da consultoria Geopolitical Futures, nada parece impossível nesse enredo.

"Uma missão teórica [do balão chinês] pode ser para atrair atenção. A Rússia é muito mais próxima do Alasca do que a China e está engajada numa guerra em que os EUA têm, para dizer o mínimo, um papel. Ter um grande objeto voando sobre os EUA poderia, pensando assim, gerar pânico, com a população demandando que o governo foque a atenção na defesa nacional, não na Ucrânia", escreveu.

O próprio Friedman considera isso apenas uma hipótese, mas nota que tudo soa estranho no caso dos balões, a começar pelo fato de que eles não haviam sido detectados antes —os EUA dizem que mais objetos acabaram captados porque radares foram calibrados após a interceptação do primeiro objeto, uma explicação no mínimo frágil sobre suas capacidades de defesa.

Nesta terça, o governo da Romênia disse ter enviado dois caças para interceptar o que parecia ser um balão meteorológico, ampliando a intersecção entre a crise atual e o contexto da guerra no país vizinho.

Ainda no campo nuclear, que desde a invasão russa da Ucrânia ganhou um destaque não visto desde o fim da Guerra Fria, a Noruega acusou a Rússia de equipar seus navios da Frota do Norte com ogivas atômicas táticas —de emprego pontual em batalhas, não para obliterar cidades e forçar o fim de guerras.

Segundo o relatório anual do Serviço de Inteligência da Noruega, é a primeira vez que isso acontece desde o fim do conflito entre EUA e União Soviética, em 1991. A Frota do Norte é centrada em torno de Murmansk, no Ártico russo. No começo do ano, ela lançou em missão operacional a primeira fragata equipada com mísseis hipersônicos Tsirkon, capazes de empregar ogivas nucleares. A Rússia, porém, não comentou o relatório norueguês, que também não crava que os Tsirkon estão armados com tais ogivas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.