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Patrícia Villela Marino e Marcelo De Vita Grecco

Dois pesos, duas medidas?

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Patrícia Villela Marino

Fundadora e presidente do Instituto Humanitas360 e cofundadora do Civi-co, espaço de trabalho que reúne empreendedores cívico-sociais

Marcelo De Vita Grecco

Cofundador da The Green Hub, aceleradora de startups com foco no mercado legal de Cannabis

Vamos semear com informação de qualidade esta lavoura que nos uniu para colhermos frutos de verdade e sustentáveis num país que, neste momento de descuido por todos os lados, precisa de cuidados —e não do projeto de lei 6.299/2002, o chamado "PL do Veneno".

Agrotóxicos são produtos químicos sintéticos usados para matar insetos, larvas, fungos e carrapatos sob a justificativa de controlar doenças e regular o crescimento da vegetação no ambiente rural e urbano, define o Instituto Nacional de Câncer.

O controle das doenças e pragas aumenta a produtividade e melhora a qualidade visual dos produtos. Mas as desvantagens são maiores que os benefícios. Os danos ambientais ao solo e aos recursos hídricos são terríveis. Nesse sentido, o prejuízo parece profundo e irreversível, sobretudo em relação à água, fundamental para a humanidade e cada vez mais escassa. De igual maneira, a contaminação do solo, fonte de alimento e perpetuação da vida, também é fatal.

Vejamos que, na proposta do PL 6.299, a vigilância do uso regular de agrotóxicos no Brasil passa a se restringir apenas ao Ministério da Agricultura, alterando a regulamentação atual, que também conta com Anvisa e Ibama. Deixar essa vigilância nas mãos de apenas um órgão não significa desburocratizar, mas desconstruir graus de proteção e governança. Trocar o termo "agrotóxico" por pesticida, como prevê ainda o projeto, não diminui os riscos.

Sim, governança, porque quem é responsável por supersafras não pode regulamentar insumos para aumentar safras. O perigo é que, por ganhos numéricos e agendas políticas, o agente público seja permissivo no uso do agrotóxico —termo correto, sem eufemismos. Importante que entendamos a necessidade de manter os outros órgãos na vigilância desses produtos potencialmente perigosos à saúde e ao meio ambiente. Essa tarefa não pode ser delegada a somente um agente. Afinal, governança é segurança.

Como este PL tramitou tão rapidamente no Congresso? E sem ameaça de veto presidencial, ainda que tenha capacidade tóxica real e mensurada com ampla divulgação em estudos, filmes e documentários, como "Solo Fértil", da Netflix.

Porém, a mesma agilidade não se viu em outro PL, o 399/2015, que trata do cultivo de Cannabis medicinal no Brasil. Resultado de histórias de amor incondicional de mães e pais por seus filhos e filhas, que não perderam a esperança de oferecer saúde e qualidade de vida a suas crianças.

A eles, nessa luta, somaram-se profissionais de várias áreas do saber, além de ativistas simpáticos e empáticos à causa. Mais tarde, a ciência chancelou os saberes ancestrais contidos numa planta, a Cannabis e o cânhamo, na sua distinção, uso e aplicações, descrevendo processos e protocolos que deram sustentabilidade ao artesanal profilático, numa enorme conjuntura de conhecimentos para atender a saúde pública.

Toda essa construção democrática de manifestações na ciência, na cultura e nas artes deveria estar no escopo da saúde pública, mas não foi compreendida pela segurança pública (que tem o monopólio de decisões). Mesmo assim, a discussão cresceu, mas parou no Congresso Nacional, e ainda sob ameaça de veto presidencial.

Duas situações, tema de dois projetos com trâmites tão diferentes que tratam de saúde pública. Um, contamina; o outro, purifica e regenera. Favorece a cura e oferece dignidade por seus efeitos cientificamente comprovados em enfermidades limitantes ao ser humano —além de proteger e regenerar o solo, em alto risco de contaminação pela leniência patrocinada pelo PL 6.299.

O que não ficou claro aos parlamentares? Seriam suas agendas politiqueiras e de interesses próprios, movimentadas pelos grandes esforços de convencimento da indústria química e dos produtores? Será a falta de compaixão e interesse científico para conhecer os dilemas das famílias que necessitam da Cannabis para diminuir o sofrimento de seus filhos?

Será desconhecimento das oportunidades econômicas que o cânhamo pode gerar num país de alto desemprego e mínimas oportunidades? As grandes safras não chegam à mesa do brasileiro: movimentam fartas contas bancárias de monocultores extensivos e químicas estrangeiras.

Alheio às negociações do Congresso, o povo, neste ano, tem o poder do voto. Não sejamos desinformados, insensíveis ao sofrimento do outro, manipulados por preconceitos, desinteressados por novos mercados e novas oportunidades. Somos eleitores e contamos mais do que nunca!

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