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Alberto Carlos Almeida

Houve erros de procedimento nas pesquisas eleitorais do primeiro turno? NÃO

Há de se observar a possível recusa de parte dos eleitores em responder

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Alberto Carlos Almeida

Doutor em ciência política (Iuperj), é diretor do Instituto Brasilis, empresa de pesquisa e consultoria, e autor de livros que abordam de maneira científica a sociedade e a política no Brasil

No primeiro capítulo de meu livro "Erros nas Pesquisas Eleitorais e de Opinião" (ed. Record), comparo 562 resultados de pesquisas com o voto. O estudo refere-se ao período que vai de 1986 a 2002 e abrange todas as regiões do Brasil: são 220 pesquisas para governador, 137 para senador, 184 para prefeito e 21 para presidente da República.

O levantamento resultou em várias conclusões importantes: as pesquisas para o Senado são as que ficam mais distantes do resultado, pois o eleitor define o voto na última hora; as pesquisas para presidente são as mais precisas; o primeiro colocado para governador tendia a ser muito superestimado porque, no passado, com o voto no papel, o eleitor declarava na pesquisa em quem iria votar, mas errava e anulava o voto —em particular nos estados com escolaridade média mais baixa.

Os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) disputam o segundo turno na eleição presidencial - Ernesto Benavides/AFP e André Coelho/Reuters

Trata-se de um dos poucos estudos em português exclusivamente dedicado aos erros não amostrais, que são variados e muitas vezes nada têm a ver com os métodos científicos adotados pelas pesquisas, indicando o que pode ter acontecido na eleição de primeiro turno deste ano.

Em 2022, os percentuais de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) foram superestimados, e os de Jair Bolsonaro (PL), subestimados. Isso indica a hipótese razoável de que muitos eleitores simpáticos a Bolsonaro, que tinham a intenção de votar nos dois candidatos da terceira via, possam ter mudado de opção na última hora. Isso teria acontecido mais no Sudeste e nas capitais e cidades de escolarização média elevada. A motivação deste eleitor, matematicamente equivocada, porém intuitivamente correta, era evitar que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhasse no primeiro turno. A comparação entre os dados das pesquisas e o voto indica que se trata de uma hipótese muito razoável, mas ainda assim uma hipótese e que, portanto, precisa ser devidamente investigada.

A segunda hipótese tem a ver com a recusa de eleitores de Bolsonaro em responder às pesquisas. Isso já ocorreu em outros países quando se refere àqueles que votam na extrema direita. Uma parcela desse grupo tende a ser muito conservadora, autoritária e refratária aos procedimentos científicos e à transparência das informações. Adicionalmente, são indivíduos reclusos, antipáticos e relutantes em estabelecer contato social com desconhecidos. Basta que seja um ponto percentual dos eleitores do atual presidente para que, somado a outros erros não amostrais, acarrete uma discrepância relevante entre pesquisas e voto.

Por fim, a terceira hipótese de erro não amostral tem a ver com a abstenção. Só responde às pesquisas aqueles que afirmam, na primeira pergunta, que irão votar. Pode ser que uma ínfima porção de eleitores tenha dito que iria votar, mas na última hora não tenha comparecido. Isso tende a ser minimizado no segundo turno, pois a pergunta é outra: "Você votou no primeiro turno?". A entrevista é interrompida para os que responderem "não". Considero que as discrepâncias das pesquisas no primeiro turno tenham resultado desses três tipos de erros não amostrais.

Vale lembrar do grande acerto das pesquisas. Em meu livro publicado neste ano, "A Mão e a Luva: O que Elege um Presidente" (ed. Record), utilizo extensivamente de pesquisas de opinião para explicar os resultados de todas as eleições presidenciais ocorridas de Fernando Collor, em 1989, até hoje. Fica evidente que as pesquisas acertam na mosca sobre qual o clima da opinião pública que elege um presidente.

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