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Para o país de ontem

Na melhor hipótese, carta de Lula é só prêmio de consolação para ideólogos do PT

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O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversa com o vice Geraldo Alckmin (PSB) durante congresso do PSB em Brasília - Antonio Molina/Folhapress

Na semana passada, Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em um evento de campanha que, em caso de vitória, seu governo "não será um governo do PT". Dirigindo-se à presidente do partido, reiterou: "É importante, Gleisi [Hoffmann], você que é presidente, saiba: nós precisamos fazer um governo além do PT".

O candidato petista recordou que suas administrações contaram com muitos ministros que não eram da legenda, como Henrique Meirelles, chamado para o comando do Banco Central logo depois de ter sido eleito deputado federal pelo PSDB.

Ademais, Lula escolheu como seu vice, nesta eleição, um adversário histórico, o ex-tucano Geraldo Alckmin, um gesto evidente rumo à ampliação de alianças e horizontes programáticos.

Causa, pois, espanto e preocupação que o arremedo de programa econômico de última hora divulgado pela campanha, na quinta-feira (27), tenha horizontes estreitos.

Não se trata de dizer que o documento siga as diretrizes do velho PT, mas de observar antes de mais nada que o plano é ultrapassado e sugere que alguns fracassos desastrosos podem se repetir.

Uma dúzia de anos depois do fim do segundo governo Lula, o país e o mundo mudaram. Houve tempo suficiente para repensar políticas daninhas e para procurar alternativas mais racionais ou atualizadas de atingir alguns dos mesmos objetivos listados na "Carta para o Brasil de Amanhã".

É possível tratar de temas como modernização da economia, mesmo com incentivos estatais, por métodos novos. A carta, porém, limita-se a repetir motes do passado. Vários deles se tornaram políticas de Lula e de Dilma Rousseff.

Em resumo, trata-se de um programa baseado em vastos subsídios, recurso a estatais como instrumento de política econômica, reindustrialização calcada em substituição de importações e aumento desmedido ou incalculado de despesas ou de renúncia de receitas.

A exploração indevida de recursos do BNDES e da Petrobras redundaram em benefícios para grandes empresas e intervenções industriais ruinosas. A gastança sem limite foi um dos motivos da enorme crise que começou no final do primeiro governo Dilma.

Na carta há menção breve à reforma tributária e a nenhuma outra. Quanto a regras fiscais, há não mais que uma generalidade.

Fica a impressão —ou a esperança— de que o documento seja uma espécie de prêmio de consolação retórico para a ala esquerda envelhecida do partido. Ou de promessas desmedidas que possam servir nas horas finais de campanha.

Supostamente para o amanhã, o documento mostra falta de imaginação e saudosismo acrítico, em vez do diálogo prometido.

editoriais@grupofolha.com.br

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