Descrição de chapéu
Luiz Fernando Emediato

Os culpados do genocídio yanomami

Todos falhamos, mas Bolsonaro é responsável maior e merece punição rigorosa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Luiz Fernando Emediato

Escritor, jornalista e publisher da Geração Editorial

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode não ser condenado pelos muitos crimes cometidos, mas pelo menos por um precisa ser punido: o genocídio dos índios yanomamis. O crime está caracterizado: morticínio deliberado de uma etnia, um povo.

O desprezo desse monstro por indígenas, negros, mulheres, gays e quilombolas vem de longe —e ele mesmo não o nega. Sempre foi um discípulo de Hitler.

Em 1998, o então deputado federal disse, em sessão na Câmara, que "a cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país".

Criança yanomami internada com desnutrição grave no Hospital da Criança Santo Antonio, em Boa Vista (RR) - Lalo de Almeida - 25.jan.2023/Folhapress

De Bolsonaro veio o esperado: inércia diante de 21 denúncias sobre a trágica situação nas aldeias yanomamis, cercadas por garimpeiros, contaminação por mercúrio, doenças e desnutrição.

Falhamos, esta é a verdade. Falhamos todos nós. Porque não basta denunciar, assinar manifestos, correr o mundo para aplacar nossa consciência. Era preciso agir, e não agimos.

Em situação de guerras, civis ou entre países, entram em ação a Cruz Vermelha, os capacetes brancos, as organizações humanitárias. No caso dos yanomamis, ninguém agiu, de fato, com firmeza e persistência.

A omissão oficial poderia ter sido enfrentada com, por exemplo, uma ação efetiva junto ao STF para obrigar o governo a dar apoio à entrada de organizações humanitárias na região. Até houve a ação e decisão de um ministro, mas caiu no vazio.

Os yanomamis, quase 30 mil no Brasil e 15 mil na Venezuela, ocupam uma área vasta e cobiçada de 10 milhões de hectares, com 371 comunidades. A demarcação foi concluída em 1992 e temos que respeitar.

Os garimpeiros, 20 mil hoje, invadem a região desde os anos 1970. E, sim, garimpeiros também são pobres, diz o governador de Roraima, mas este é outro problema a ser enfrentado, mas nos termos da lei.

E, sim, foram eles que mataram Dom Phillips e Bruno Pereira. Deviam ter sido enfrentados com coragem, não foram. Serão enfrentados agora?

Em abril de 1988, surgiu a denúncia de que garimpeiros —sempre eles— estavam mais uma vez dizimando yanomamis. Eu era diretor de jornalismo do SBT, tinha acabado de assumir e enviei para lá uma equipe com o repórter João Batista Olivi. A reportagem —dramática, emocionante, com imagens parecidas como as reveladas agora—, foi exibida em 108 países. O então presidente José Sarney, alarmado com a repercussão, teve que agir. E agiu. Como o presidente Lula agiu agora.

O tempo passou. Os yanomamis não são muitos, mas são preciosos e têm o direito de serem deixados em paz no território deles.

Enfrentam agora situação pior que a de 1988, com muito mais mortes que naquela época. Os garimpeiros chegaram próximos demais das aldeias, contaminaram os rios com mercúrio, provocaram fome e espalharam doenças.

Lula foi até lá, e mais uma vez as imagens dramáticas estão correndo o mundo. O socorro chegou, como chegou o de 1988.

Mas não basta. É preciso que algo mais aconteça: que os garimpeiros sejam retirados, por bem ou à força; que o responsável maior pelo crime pague por ele, nos termos da lei. E que seja exemplar.

Fora disso, é omissão.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.