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Câmara em blocos

Associações de partidos visam postos de poder na Casa, e governo fica à margem

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Sessão de posse dos deputados eleitos, no plenário da Câmara - Pedro Ladeira/Folhapress

Dois grandes blocos partidários acabam de se formar na Câmara dos Deputados. A disputa de poder orienta essa movimentação, e a linha programática teve pouca importância nas alianças. Em quase nada a oposição ou a adesão ao governo influenciou as decisões.

A política no Congresso tem preponderância sobre as relações com o Executivo, assim como, desde meados da década passada, os parlamentares passaram a ter mais poder ante o Planalto. É mais um traço de uma configuração nova da política brasileira, ainda pouco compreendida e em evolução.

Deputados desses novos blocos procuram se sobressair na ocupação de postos em comissões e de relatorias de projetos, influenciar a tramitação de pautas e ter prioridade na distribuição de recursos e em discussões do Orçamento.

Ressentem-se de terem sido excluídos do comando das comissões permanentes, tomadas por PL e PT. Uma vaga divisão a respeito da próxima disputa pelo comando da Câmara, no distante 2025, também pesou na divisão em grupos.

Um deles é formado por PSD, MDB, Republicanos, Podemos e PSC, com 142 deputados —agremiações do centro à direita.

Em resposta, o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira, aliou-se a União Brasil (com a qual quase formara uma federação), PSDB-Cidadania, Avante, Patriota e partidos mais à esquerda que fazem parte da base do governo petista, casos de PSB, PDT e Solidariedade. Ao todo, o grupo soma 173 deputados.

Vê-se que o apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não estava em jogo. Ambos os blocos se dizem dispostos a colaborar com o Planalto e contam com ministérios.

O governo receou se imiscuir na formação dos blocos, sobre os quais tem parca influência. O PT nem sequer conseguiu manter PSB e PDT em sua órbita. De certo modo, ficou isolado, assim como o PL que ora abriga Jair Bolsonaro.

A coalizão de Lula tem, em tese, algo em torno de 280 dos 513 deputados, caso aí se contem parlamentares ligados a legendas com ministérios e postos no segundo escalão. Mas, reitere-se, vários desses partidos são divididos internamente. Já os dois novos blocos contam com 315 integrantes.

A geografia da Câmara é confusa, e fronteiras se formam à revelia do governo. Em um ambiente no qual não está claro quem conduzirá a oposição, mostra-se ainda menos clara a definição de lados.

O sistema partidário e a relação entre Executivo e Legislativo estão em mudança nos últimos anos. O governo ainda não mostrou como atuará diante dessa nova configuração. Age no varejo. Terá de elaborar uma estratégia, pois em breve o Congresso tomará decisões fundamentais para o destino de Lula 3.

editoriais@grupofolha.com.br

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