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Medindo forças

Tensão cresce entre Israel e Palestina, mas contexto desencoraja ações bruscas

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Soldados israelenses em operação do exército perto do assentamento de Elon Moreh, na Cisjordânia - Jaafar Ashtiyeh/AFP

Após violenta operação policial contra palestinos na semana passada, Israel enfrentou foguetes que partiram de Gaza, Líbano e Síria. Ataques de Gaza são relativamente comuns, enquanto a fronteira norte do país tende a ser mais calma.

O governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu retaliou, mas evitou uma escalada, e os vizinhos também mostraram alguma contenção. Um conflito de maior magnitude parece não ser do interesse de nenhuma das partes.

Os principais atores testam a disposição de aliados e inimigos num momento em que a região passa por realinhamento geopolítico.

Sob os auspícios da China, Arábia Saudita e Irã retomaram relações diplomáticas, rompidas desde 2016. O acerto não interrompe, mas tira a intensidade de um outro movimento de redefinição do panorama regional.

Apoiado pelos EUA, Israel vinha estabelecendo relações diplomáticas com alguns Estados do Golfo Pérsico para juntar forças contra o Irã, visto como um inimigo comum. Havia expectativa de adesão da Arábia Saudita.

A volta de Netanyahu ao poder muito mais à direita também contribuiu para atrasar a normalização do país. Alguns de seus novos parceiros têm um discurso hostil aos palestinos e aos árabes em geral.

Ademais, o radicalismo da nova coalizão não fez vítimas apenas no âmbito externo. O governo tenta emplacar uma reforma do Judiciário que rachou a sociedade de modo sem precedentes, gerando protestos com milhares de pessoas.

A proposta, que esvazia a Suprema Corte a ponto de ameaçar o equilíbrio entre os Poderes, causou tanta controvérsia que Netanyahu se viu obrigado a suspendê-la, mas sem desistir dela.

O governo está enfraquecido. Pelas pesquisas, se houvesse um novo pleito hoje, ele não seria vitorioso.

No outro lado, o panorama não é muito melhor. A Autoridade Nacional Palestina tem cada vez menos relevância. Boa parte dos palestinos já não acreditava que a ANP lhes traria um Estado soberano, porém ainda a via como uma espécie de prefeitura, que ofertava serviços como educação e saúde.

Recentemente, até isso está posto em dúvida, dada a deterioração desses serviços. O espaço deixado pela ANP tende a ser ocupado por lideranças mais radicais do Hamas.

Com jogo tão movimentado em cenário complexo, não surpreende que os principais atores evitem ações bruscas e sem volta.

editoriais@grupofolha.com.br

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