Descrição de chapéu
Luciano Del Monaco

Jogos eletrônicos devem ser considerados um esporte? SIM

Regulação adequada pode desenvolver setor com grande projeção econômica

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Luciano Del Monaco

Advogado e sócio na área de tecnologia da Daniel Advogados, acompanha a evolução dos esports e as discussões sobre a Confederação Brasileira de eSports (CBeS) e o marco regulatório do setor

O objetivo principal do direito é garantir a segurança jurídica, ou seja, permitir que todos possam realizar seus negócios e atividades harmoniosamente, na medida do possível, e permitir a resolução de conflitos de forma organizada e previsível.

Esse reconhecimento é o caminho seguido pelas principais economias do mundo —e também fortalece o setor de esports (ou jogos eletrônicos), promovendo investimentos e benefícios sociais, como pagamento de impostos e geração de empregos em um ramo cada vez mais relevante da economia.

Igor Oliveira, treinador do time de Free Fire da comunidade do Jardim Elba, na zona leste de São Paulo; equipe venceu o campeonato estadual de favelas - Ronny Santos - 13.jan.21/Folhapress

É importante considerar que os esports são, sim, um esporte —assim como os demais esportes são um negócio da indústria do entretenimento. Há investimentos de empresas e patrocinadores, com o intuito claro de obter lucro.

Por outro lado, existe uma disputa por interesses que podem ser conflitantes. Há o exemplo de times (organizações) que desejam ter o mínimo possível de obrigações junto aos jogadores, como salários, direitos trabalhistas, participação em lucros de patrocínios etc. Sem regulamentação, é possível que os times imponham condições excessivas sob o argumento de que o jogador "não possui poder de negociação".

Nesse sentido, podemos pegar o caso de Gabriel "Fallen" Toledo, um dos jogadores mais reconhecidos de "Counter-Strike" e do mundo dos esports. No cenário atual, ele possui o mesmo nível de segurança jurídica que um iniciante, muitas vezes menor de idade —seria o mesmo que falar que Neymar tem o mesmo nível de segurança que um atleta dos juniores. No caso do futebol, a situação não é assim. Existem previsões, como os contratos de desenvolvimento de atletas, que são mais protetivos e garantem mais direitos, além das próprias regras de entidades como CBF e Fifa. Esse modelo é mais adequado, já que os atletas em começo de carreira são, evidentemente, mais vulneráveis que aqueles já consagrados e reconhecidos no mercado.

Ressalte-se que tais questões não são novas, e a regulamentação esportiva já possui resposta, ao menos em larga medida, para esses assuntos. Então por que não admitir tal aplicabilidade? E, claro, para isso é necessário que esports também sejam reconhecidos como esporte.

Vale ressaltar ainda as questões de patrocínio, com reflexos tributários. A Lei de Incentivo ao Esporte permite que recursos provenientes de renúncia fiscal sejam aplicados em atividades esportivas. Na prática, isso significa que uma instituição pode apoiar a Taça das Favelas, competição futebolística realizada em comunidades de todo o Brasil, mas não pode apoiar a versão de esports da Taça das Favelas utilizando-se dos mesmos benefícios fiscais.

Trata-se do mesmo projeto, dos mesmos organizadores e sob as mesmas intenções sociais de utilizar o esporte como ferramenta de inclusão, promovendo diversão e entretenimento para a comunidade —dada a ausência de iniciativas específicas para esse público.

Em síntese, porque então negar aos esports o tratamento como esporte quando não existe nenhum ganho real, seja jurídico ou de negócios, decorrente dessa restrição? Há um arcabouço legal (Lei Pelé, a própria Lei de Incentivo ao Esporte) muito relevante e útil que pode ser aplicado aos esports e proteger todo o setor, o que inclui os próprios jogadores, entidades, organizadores de torneios e patrocinadores, garantindo segurança jurídica e previsibilidade para todos.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.