"O país mergulhou na insegurança e no medo. Ninguém está protegido contra a violência." Lula assinou essa declaração em 2002 no projeto de segurança do PT, quando era candidato. Mas isso não seria empecilho porque o programa continha "um profundo diagnóstico sobre o problema e uma série de propostas concretas, consistentes e plenamente viáveis para serem implantadas já no curto prazo". As falas indignadas de sempre não mobilizaram compromissos com soluções efetivas ao longo de seus mandatos marcados por anúncios vistosos, 39 decretos de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e ações sem alcance necessário para atingir o âmago dos problemas da segurança.
A promessa agora é asfixiar o crime organizado, principalmente o tráfico de drogas, com a convocação de um punhado de militares para fiscalizar aeroportos, portos e reforçar as ações nas distantes fronteiras —uma GLO envergonhada. E as milícias também seriam asfixiadas com ações de inteligência e monitoramento de movimentações financeiras dos milicianos, agora narcomilicianos —que são feitas, em grande parte, com dinheiro vivo.
A questão de sempre: desta vez vai funcionar, cortando o suprimento de drogas e armas aos traficantes? E as milícias entregariam os pontos às autoridades, declarando a liberdade para os 2 milhões de cariocas tiranizados por suas extorsões e ameaças?
Há uma certa dose de ingenuidade e arrogância das autoridades federais declarando que essas frágeis ações vão extinguir as facções do tráfico e acabar com seus tiroteios. Asfixiar com 500 marinheiros, fiscalizando 13 mil contêineres por dia em Santos (SP)? Estrangular vistoriando 200 pousos diários no aeroporto de Cumbica? Se fosse tão fácil não teríamos o tamanho do problema atual, pois esses locais a serem patrulhados estão há muito tempo sob vigilância das autoridades que reclamam recursos.
Serão feitas prisões e apreensões, como sempre. E, como sempre, os milicianos e traficantes se reagruparão, buscarão novas rotas, continuarão pagando os policiais e fiscais municipais —e os problemas vão continuar. Se a entrada e o percurso de drogas e armas, o monitoramento de facções e a lavagem de dinheiro são problemas federais, a gestão da segurança dos territórios estaduais é responsabilidade do governador.
A persistência da crise nos territórios tomados pelo crime evidencia o fracasso das estratégias em curso, cabendo ao governador renovar a organização, a capacitação, as estratégias e a integridade de suas polícias para resolver esses que são seus problemas —juntamente com o prefeito, que deve regular o espaço urbano onde moram, trabalham e sofrem seus cidadãos. Nessa trama política, social e criminal há pouco espaço para as ações federais que, desde 1992, fracassaram em 20 ações de GLO e uma intervenção no Rio de Janeiro.
O governo federal há muito tempo está devendo protagonismo competente na coordenação de ações para promover a segurança pública no país. Essa ausência e ineficiência permitiram o empoderamento de grandes organizações criminosas e sua ousada penetração, levando drogas dos países vizinhos até as pequenas cidades de todo o país, armando facções que aterrorizam as periferias.
A surrada política de balcão de ajuda com reforços policiais, GLO, dinheiro e equipamentos geram dividendos políticos e midiáticos, mas não resolve os grandes problemas da segurança da nação. Mais preocupado com o efeito político do anúncio do que em fazer algo sério e duradouro, o governo Lula está semeando o fracasso de sempre na gestão da segurança.
TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.