Descrição de chapéu
Fernando Lottenberg e Rony Vainzof

Antissemitismo e o perigo à democracia

Desta vez, prática vem camuflada sob um infeliz verniz de antissionismo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Fernando Lottenberg

Advogado e comissário da OEA (Organização dos Estados Americanos) para monitorar e combater o antissemitismo

Rony Vainzof

Advogado e secretário da Confederação Israelita do Brasil (Conib)

Estrelas de David pintadas em edifícios residenciais e comerciais, assassinatos, ameaças de bomba a lojas judaicas e manifestações favoráveis à erradicação de Israel e de morte aos judeus.

Não, não estamos narrando o tenebroso período que, há 85 anos, precedeu 9 de novembro de 1938, tragédia conhecida como "Noite dos Cristais", quando centenas de sinagogas foram queimadas, milhares de judeus presos injustamente e centenas mortos, marcando o início da colocação em prática das ideias nazistas e prenunciando o Holocausto, no qual a passividade da maioria dos civis à violência sinalizava ao regime de Hitler a abertura para aceitar medidas mais radicais, genocidas.

Casa pichada com a estrela de Davi, em Paris - Lucien Libert - 31.out.23/Reuters - REUTERS

Possivelmente, desde o final da Segunda Guerra Mundial, na qual milhões de judeus foram assassinados, a comunidade judaica ao redor do mundo está vivendo a atmosfera de maior medo, diante da onda de antissemitismo constatada desde o início da guerra contra o Hamas. No Brasil, foram 467 atos antissemitas. Um aumento assustador de 1.061%, conforme levantamento da Confederação Israelita do Brasil (Conib).

Com a resposta militar de Israel para encerrar o regime de terror do Hamas, a linha tênue entre o antissemitismo relacionado ao Estado de Israel e aquele tradicional se esmaeceu, o que não se pode permitir ou normalizar. A causa palestina tornou-se parte de uma suposta luta "anticolonial", na qual ser contra a existência do Estado de Israel somar-se-ia à batalha global dos oprimidos.

É o velho antissemitismo, desta vez camuflado dentro de um infeliz verniz de antissionismo. Ser antissionista é negar ao povo judeu o seu direito à autodeterminação. É assustador presenciarmos esse festival de discurso e atos de ódio, muitas vezes culpando as próprias vítimas do massacre por terem sido atacadas.

Defender, justificar ou relativizar as atrocidades do Hamas não é apenas prejudicial à causa palestina, mas também uma afronta aos valores fundamentais.

Importante lembrar que a guerra atual foi motivada pelas atrocidades praticadas pelo grupo terrorista até mesmo contra bebês, crianças, mulheres e idosos. Os que não foram assassinados com especial crueldade permanecem sequestrados. Foi o pior e mais bárbaro ataque contra o povo judeu desde o Holocausto.

O Hamas prega a aniquilação de Israel e morte aos judeus em todo o mundo. Ou seja, com o Hamas não há negociação, muito menos paz.

A história nos ensina que a desconstrução não é um fenômeno isolado e inacabado. O Holocausto e o horror dos campos de concentração são lembranças imprescindíveis para que algo do gênero jamais ocorra novamente. E o momento de defendermos o "jamais novamente" é agora, quando o antissemitismo vem envolto no negacionismo e em atos de ódio que ignoram o direito a uma convivência pacífica.

Antissemitismo é crime e uma ameaça não apenas aos judeus, mas a toda a sociedade. É inconciliável com os padrões da nossa Constituição, sob os quais se ergue o Estado democrático de Direito. Não pode haver lugar para isso no Brasil.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.