Descrição de chapéu Conversa com leitores

Atos golpistas e papel de militares durante transição para governo Lula preocupam leitores

Leitores da Folha participaram de bate-papo com o colunista Bruno Boghossian

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Americana (SP)

O alcance dos atos antidemocráticos liderados por bolsonaristas e a atuação dos militares nos bastidores, além das eventuais repercussões jurídicas desses eventos, estão preocupando os leitores da Folha durante a transição para o governo Lula.

Eles discutiram esses e outros temas durante um bate-papo virtual com o colunista Bruno Boghossian sobre as perspectivas políticas para 2023.

Fotografia colorida do jornalista Bruno Boghossian em primeiro plano. Ele é um homem branco, de cabelo e bigode pretos e barba grisalha, veste uma camisa listrada e sorri para a câmera
O jornalista Bruno Boghossian participa de conversa com leitores da Folha - Reprodução

"A gente está vivendo hoje essa situação de indefinição e de um certo temor se Lula realmente vai tomar posse, e eu acho que vai, e do que vai acontecer até lá", afirmou a pesquisadora Beatriz Martins, 62, do Rio de Janeiro. Ela citou o episódio recente da mensagem de áudio do ministro do TCU Augusto Nardes falando em um "movimento forte" nas casernas, com "desenlace" imprevisível.

"Existem várias manifestações que são feitas com meias palavras em relação ao risco ou a possibilidade de haver uma ruptura partindo das Forças Armadas", afirmou Boghossian. "Mas não existe uma coesão para qualquer ato de ruptura. O cálculo que está posto hoje é de que isso custaria muito caro e que talvez seja mais interessante manter as coisas no curso democrático."

"Mas vamos ter turbulência. Interessa ao bolsonarismo manter essa tensão, porque é o que Bolsonaro vai levar para a oposição."

Para a assessora de comunicação Bety Jardinovsky, 61, de São Paulo, o problema é anterior à transição. "Uma coisa que eu acho que a gente deveria ter martelado na cabeça da população brasileira quando o Exército começou a ficar importante neste governo, é por que a gente gasta tantos milhões todos os anos com o Exército e o que eles trazem de volta para a população brasileira. A gente tem isso muito pouco claro", afirmou.

A bancária Bianca Arruda, 43, de Brasília, questiona até onde vai a inação da Justiça em relação aos atos golpistas.

"Eu não tenho o menor medo dos militares. O que é o nosso Exército hoje? São aqueles carros que passaram fumacentos pela Esplanada? O desgaste é outro", afirmou.

"O que me preocupa é você [militares] alimentar esse radicalismo todo, ficar dando munição para os que estão nos atos antidemocráticos, e ficar por isso mesmo. Em nome da política e do bom relacionamento, a Justiça pode passar a mão na cabeça desses golpistas? Não entendo como é que não foram calados ainda. O Supremo vai manter essa política ou vai agir?", questionou.

Reprodução de tela de vídeo conferência com vários participantes em distintas janelas
Leitores da Folha participam de bate-papo com o colunista Bruno Boghossian - Reprodução

Boghossian avalia que, embora o novo governo tenha a intenção de tirar os militares da máquina pública, não deve agir com ímpeto de perseguição. "Para um grupo dentro do PT, a intenção é não produzir ondas, porque se você fizer algo que seja lido como direcionado contra os militares, você promove a coesão entre o bolsonarismo, ou a extrema-direita, e uma parte dos militares."

Mas ponderou: "Promover e incentivar a subvenção da ordem democrática e dizer que uma pessoa que ganhou a eleição não deve tomar posse é crime tipificado na legislação brasileira. Você ter adesão a esse tipo de discurso é um sintoma de algo ruim na nossa democracia e na nossa sociedade".

O engenheiro Luiz Fernando Ferreira, 36, de Campinas, vê o risco de que o novo governo tenha dificuldades para implementar suas políticas públicas, diante da renovação pela qual os tribunais vêm passando nos últimos cinco anos, com muitas indicações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

"O PT vem prometendo um "revogaço" na questão das armas e ambiental, mas a gente tem uma estrutura jurídica em que um juiz pode dar uma liminar e suspender a implementação de uma política pública, à revelia do Executivo", afirmou.

"É interessante que o ativismo judicial está sendo criticado pelo bolsonarismo com foco no Supremo Tribunal Federal, mas a gente tem um longo histórico no Brasil de ativismo judicial tanto nos tribunais superiores como nos tribunais de primeira e segunda instância", respondeu Boghossian.

"Em tribunais de estados com forte presença do bolsonarismo certamente vamos ver decisões que contrariam normas e decisões do novo governo."

Já Marcos Benassi, 51, de Valinhos (SP), vê um movimento de "descida" de bolsonaristas do governo federal para "ocupar São Paulo", após a vitória de Tarcísio de Freitas (Republicanos) na disputa para o governo paulista.

"Sempre ouvi barbaridades da política educacional do Paraná. A Universidade Estadual de Londrina, com a toda a potência que tem, está sem dinheiro, sem funcionários, um negócio caótico. E aí o Renato Feder vem para São Paulo", disse, comentando a indicação do ex-secretário de Educação do PR para ocupar a mesma pasta com Tarcísio.

"É curioso porque ao longo da campanha Tarcísio tentou se vender como 'bolsonarista light'", lembrou Boghossian. "Mas de fato há a perspectiva de que ele vai tentar levar alguns personagens para o secretariado dele."

O colunista disse não esperar uma política muito tranquila em relação às universidades. "Tarcísio é oriundo do Exército. Ele vai levar a política de escola cívico-militares para o governo estadual? Ainda não sabemos, mas ele já demonstrou ter uma visão positiva desse tipo de instituição."

"Vai ser um governo de direita, sobre isso não há muita dúvida."

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