Por 2022, Doria aposta em estilo mais discreto em começo de governo

De olho em candidatura, tucano limita agenda e eventos para evitar desgaste antecipado como teve na prefeitura

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Brasília

No mês passado, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), convidou João Doria (PSDB) para uma visita à cidade. Seria um encontro corriqueiro, mas o governador paulista achou melhor vetar a ideia.

O tucano disse a auxiliares que não é hora de dar passos que possam ser vistos como a largada de uma campanha nacional.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB)
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB) - Amanda Perobelli - 21.fev.2019/Reuters

Depois de um flerte com uma candidatura presidencial em 2018 e de desgastes na Prefeitura de São Paulo, Doria estreou no governo com um estilo mais discreto. Aliados dizem que o Planalto está nos planos para 2022, mas o tucano decidiu mover suas peças com mais cautela.

Nos primeiros meses como governador, Doria reduziu sua participação em eventos públicos, limitou a agenda nacional e deixou de lado a imagem do político que vestia roupa de gari para ser fotografado.

O tucano atua nos bastidores. Montou um secretariado com nomes indicados por partidos que podem compor uma coligação daqui a quatro anos e costurou um acerto para indicar a nova direção do PSDB.

Assumir o controle do partido é considerado um passo fundamental. Doria e seu grupo consideram imprescindível mudar a imagem do PSDB e, principalmente, atenuar manchas provocadas pela corrupção.

Uma das principais peças seria o afastamento do deputado Aécio Neves (MG) do partido. Nenhum aliado de Doria quis comentar essa possibilidade, mas a Folha apurou que a direção que deve assumir a sigla em maio trabalhará para que isso aconteça.

A ideia de alguns tucanos é pressionar Aécio para que ele peça licença ou desfiliação da legenda. Não é descartada a abertura de um processo de expulsão. O mineiro é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por pedir R$ 2 milhões a Joesley Batista. O tucano diz que solicitou apenas um empréstimo ao empresário.

Além disso, o projeto de Doria envolve também um realinhamento das bandeiras econômicas da sigla, fundada com base na social-democracia. Segundo os planos do governador, o PSDB será um partido claramente de centro, liberal e pró-mercado.

Depois de ter sido eleito pela primeira vez para um cargo público com o slogan Acelera, em 2016, Doria decidiu pisar no freio. Ele evita discutir qualquer plano político para 2022 tanto em público quanto em conversas privadas.

"O melhor posicionamento político que eu posso ter é concentrar 100% da minha atenção no Governo de São Paulo. Fazer um governo inovador, transformador, desburocratizante e desestatizante", disse o governador à Folha.

Nos cálculos de aliados, qualquer cenário eleitoral futuro depende dos resultados de Doria no estado em especial na segurança pública, no transporte e no programa de privatizações.

Auxiliares relatam que o próprio Doria reconhece que seu comportamento na prefeitura alimentou desconfianças e prejudicou seus planos políticos. Eles atribuem o novo perfil do tucano a um amadurecimento depois de sua segunda eleição.

No primeiro ano à frente da capital paulista, o tucano saiu da cidade mais de 40 vezes. Foi a Salvador, Natal, Vila Velha, Belém e São Luís para receber homenagens de outros políticos o que foi interpretado como uma pré-campanha presidencial.

Este ano, o governador decidiu passar por Salvador e pelo Rio no Carnaval, mas disse que o feriado não é período de trabalho.

O excesso de viagens em 2017 e 2018 desgastou sua imagem entre eleitores paulistanos e criou um mal-estar dentro do PSDB. Alguns tucanos enxergavam uma traição ao presidenciável Geraldo Alckmin, que apadrinhara a primeira eleição de Doria.

O governador não quer repetir o erro. Depois de ter se alinhado a Jair Bolsonaro (PSL) em 2018, ele pretende manter um espírito de colaboração com o presidente, sem críticas públicas, para evitar acusações de deslealdade.

Segundo aliados políticos e auxiliares de Doria, o tucano correrá em uma trilha paralela à de Bolsonaro até 2022. Caso o presidente não tente a reeleição ou chegue enfraquecido à próxima campanha, o PSDB poderá lançar seu nome.

Conselheiros avaliam que um eventual fracasso de Bolsonaro no poder fortaleceria o PT e a esquerda, fechando a porta para Doria. Se o sucesso do governo for extraordinário, o presidente teria condições de conquistar mais um mandato ou eleger alguém de seu círculo político.

O grupo de Doria prevê um desempenho regular do governo Bolsonaro, com um desgaste natural provocado por más escolhas políticas. O tucano precisaria, nesse cenário, construir um portfólio de realizações como governador para se diferenciar do presidente da República.

Nesse novo capítulo de sua vida pública, ele tem dado cartas claras de que é um executivo. É inegável que o futuro do Brasil passará por ele, o que não quer dizer que ele será candidato, afirmou Orlando Morando (PSDB), prefeito de São Bernardo do Campo (SP) e aliado de Doria.

O discurso de combate à corrupção, que foi um trampolim para Bolsonaro, é um ponto de monitoramento.

Além de uma possível saída de Aécio do PSDB, Doria tenta criar uma barreira de contenção. Nos últimos meses, afastou os auxiliares Gilberto Kassab e Aloysio Nunes do governo assim que eles foram alvos de operações policiais.

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