Partidos são uma barreira para renovação da democracia, diz Tabata

Em entrevista, deputada condena ataques machistas e critica ministro da Educação

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Paulo Saldaña, da Folha Guilherme Mazieiro, do UOL
Brasília

Quando a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) votou a favor da reforma Previdência, contrariando indicação de seu partido, recebeu críticas de parte da esquerda e de correligionários por atuar sem comprometimento com a legenda. 

A deputada diz que valoriza os partidos, mas, segundo ela, não pode se furtar de criticá-los. "Ninguém tem coragem de falar que os partidos são uma barreira para a renovação da democracia", diz.

A deputada Tabata Amaral (PDT-SP) durante entrevista no estúdio Folha/UOL - Pedro Ladeira - 19.fev.2019/Folhapress

Ao programa de entrevistas da Folha e do UOL, em estúdio compartilhado em Brasília, a deputada de 26 anos diz que o fato de ser mulher faz com que ela receba ataques recorrentes que dizem que ela está a mando de alguém, e não de suas próprias ideias. 

"Uma mulher jovem, como eu, sempre vão dizer que tem um homem por trás. Fazem isso porque querem dizer que sou uma marionete", disse ela, que também refutou questionamentos de atender a uma agenda empresarial.

Tabata é uma das autoras do pedido de impeachment do ministro da Educação, Abraham Weintraub. 
Ela disse esperar que o presidente Jair Bolsonaro seja mais rápido do que o STF (Supremo Tribunal Federal), que julga o processo, e entenda que Weintraub não tem condições de continuar no cargo.

Segundo ela, o ministro cometeu crimes de responsabilidade ao, por exemplo, determinar uma revisão da nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) a um apoiador que se manifestou pelas redes sociais, enquanto milhares não foram atendidos, e não usar em 2019 dinheiro recuperados pela Lava Jato
Os dois casos foram noticiados pela Folha.

A deputada defendeu a proposta de renovação do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) que avança na Câmara. O principal mecanismo de financiamento da educação básica vence neste ano e o texto apresentado amplia de 10% para 20% o papel da União no fundo. 

"Falta dinheiro na educação. Tem município que [faz] com aquela verba [o que] nenhuma escola privada conseguiria fazer", disse. 

Ela também criticou a insinuação sexual do presidente Bolsonaro contra a jornalista da Folha Patrícia Campos Mello. "Na hora em que o líder fala, você está dizendo é OK ser machista, mentir, assediar e sexualizar a mulher."

Posição política e relação com aliados

Não sigo cartilha de partido, de uma corrente, porque não faz sentido para mim. 

Eu entrei na política de uma forma diferente, não fui formada em movimentos estudantis, em partidos. Tive a vida transformada pela educação. 

O conhecimento salva, olhar os dados, ouvir as pessoas, é o melhor caminho. Quando faz isso, a resposta às vezes está na esquerda, às vezes na direita. 

Minha postura na Câmara é independente, vou ser uma aliada quando achar que as pessoas estão corretas. 

Nova política e a negação da política

Sei que o termo nova política foi usado por muita gente com práticas mais antigas que minha tataravó. Então, de fato, ele contribui para uma negação da política, o que é muito ruim. 

A gente tem de valorizar a política, trazer as pessoas, mas isso não pode ser desculpa para não criticarmos os partidos. Eu sou contra candidaturas avulsas. Acho que os partidos são uma forma de organizar a democracia. 

Se sair desse partido, do PDT, vou para outro.

Agora, ninguém tem coragem de falar que os partidos são uma barreira para a renovação da democracia. Hoje, o dono do partido, porque são donos, não líderes partidários, diz como é que gasta 100% daquele dinheiro do fundo eleitoral, que é público. 

Apoios

Sempre que alguém quer desconstruir a minha trajetória, porque estou incomodando, falam "a Tabata é financiada por fulano". Isso vem da esquerda e da direita. E a cada ano muda o fulano. 

Já fui financiada pelos George Soros, pelo Jorge Paulo Lemann, pelo Paulo Guedes, e nunca se consegue provar. É sempre uma acusação. 

Na hora em que eu critico Weintraub, em que eu voto a favor da reforma da Previdência, vêm falar que sou financiada por um homem. 

Uma parte é machismo, porque uma mulher jovem, como eu, sempre vão dizer que tem um homem por trás. Fazem isso porque querem dizer que sou uma marionete, que estou a mando de alguém, do empresariado. 

Machismo

Uma pessoa que vai até uma CPMI [comissão parlamentar mista de inquérito] e faz uma acusação falsa é crime. O que ele fez ali com a jornalista Patrícia [Campos Mello, da Folha] é crime. Ele deve ser punido. 

Agora, tem uma dose extra de erro quando o presidente da República repercute isso. Na hora em que o líder fala, você está dizendo é OK ser machista, mentir, assediar, sexualizar mulher. 

A gente sabe que a política é um lugar muito violento para as mulheres. A gente só conhece duas pessoas que foram mortas por defenderem suas ideias: Ceci Cunha e Marielle Franco. As mulheres são violentadas e mortas por defender ideias, os homens, não. 

O presidente da República publicou um vídeo dizendo que eu não passava de um rostinho bonito, na página oficial dele. Isso é grave, eu sou uma deputada federal tem de ser respeitada. Na hora em que ele faz isso, vem a rede dele me ameaçar, me xingar, enviar ofensas.

Críticas a Weintraub

Eu tenho uma fala muito dura em relação ao ministro da Educação, porque ele é um péssimo ministro, não fez nada em um ano. Ele gasta dinheiro e energia, dinheiro público para espalhar mentiras, combater o oponente. 

O pedido de impeachment [contra ele] só apontou crimes de responsabilidade. 

O Weintraub já quebrou o princípio da impessoalidade na hora em que um apoiador do governo foi ajudado [na revisão da nota do Enem]. Ele quebra o princípio da eficiência na hora que perde R$ 1 bilhão porque não conseguiu ter projeto.

Todos os dias ele comete quebra de decoro, ofende parlamentares, presidentes de outro país, cidadãos, mães de cidadãos. 

Eu não consigo dizer quão o rápido o STF vai ser nessa decisão. Tenho esperança de que o presidente seja mais rápido do que o STF. 

Acho que também foi um pedido ao presidente para que ele deixe de ser tão negligente com a educação. 

Fundeb

Estou muito feliz com o resultado que conseguimos no relatório do Fundeb. Ele é extremamente importante para melhorar a educação na ponta, a equidade do financiamento e com o dobro da complementação da União. 

Na educação precisa de mais dinheiro. Tem muitas coisas graves, mas boa parte do dinheiro é mal gasta.
Se você só coloca mais dinheiro, mas não faz nada para que o dinheiro seja de fato investido nos alunos, não é uma garantia de que a educação vai melhorar. 

É bacana que uma parte desse dinheiro [no novo texto] seja para resultados. Mesmo aí tem uma preocupação com equidade, porque a gente quer distribuir para os municípios que crescerem mais percentualmente. 

O prefeito vai pensar "se eu acabar com indicação política para diretor de escola, se eu fizer boa cobertura de creche, se investir na formação dos professores, vou ter dinheiro no meu bolso para gastar". 

RAIO-X

Tabata Amaral, 26

Deputada federal pelo PDT-SP, formou-se em ciência política e astrofísica na Universidade Harvard (EUA), com bolsa. Foi criada na Vila Missionária, zona sul de São Paulo. Integra os movimentos políticos Acredito e RenovaBR. É colunista da Folha

 
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