Bolsonaro chama população às ruas no dia 15 e diz que ato não é contra o Congresso

Presidente afirmou ainda que movimento é espontâneo e que político que tem medo de rua não serve para ser político

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Bernardo Caram João Paulo Pires Amanda Lemos
Brasília, Boa Vista e São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro pediu neste sábado (7) que a população participe das manifestações programadas para o próximo dia 15 e afirmou que político que tem medo de rua não serve para ser político.

Os protestos, organizados por grupos que defendem o presidente, abriram uma crise institucional no mês passado, depois que Bolsonaro encaminhou a amigos um vídeo que convocava a população a ir às ruas para o ato.

Como a pauta do movimento contém críticas ao Congresso, a ação do presidente gerou reação de chefes de Poderes.

Bolsonaro durante a transmissão do cargo ao vice Hamilton Mourão, na Base Aérea de Brasília, neste sábado (7); presidente viajou aos EUA - Alan Santos/PR

A escala em Boa Vista (RR), onde Bolsonaro permaneceu por cerca de uma hora, ocorreu para reabastecer a aeronave presidencial antes de seguir para viagem oficial aos Estados Unidos, na qual está previsto um jantar com Donald Trump.

O presidente afirmou ainda que o movimento quer mostrar que quem dá o norte para o Brasil é a população. “É um movimento espontâneo, e o político que tem medo de movimento de rua não serve para ser político”, afirmou. “Então participem, não é um movimento contra o Congresso, contra o Judiciário. É um movimento pró-Brasil."

“Quem diz que é um movimento impopular contra a democracia está mentindo e tem medo de encarar o povo brasileiro”, disse. Em Boa Vista, o presidente falou para cerca de 400 pessoas, entre autoridades políticas roraimenses e simpatizantes.

As afirmações vêm um dia após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), declarar que o governo Bolsonaro tem contribuído para afastar investidores do país ao criar incertezas em relação ao seu compromisso com a democracia e a defesa do meio ambiente. "O governo gera uma insegurança grande para a sociedade e para os investidores", disse Maia.

No final de fevereiro, Bolsonaro compartilhou em um grupo de aliados um vídeo que convoca a população a ir às ruas no dia 15 de março para defendê-lo. Além de apoiar o presidente, os organizadores da manifestação carregam bandeiras contra o Legislativo e o Judiciário e a favor das Forças Armadas.

Nas redes sociais, usuários compartilharam convocações com mensagens autoritárias, pedindo, por exemplo, intervenção militar.

O protesto estava previsto desde o fim de janeiro, mas mudou de pauta e foi insuflado após o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, ter chamado o Congresso de chantagista na disputa entre Executivo e Legislativo pelo controle do Orçamento deste ano.

A revelação de que Bolsonaro havia compartilhado vídeo convocando para as manifestações gerou atrito com outros Poderes. O presidente da Câmara cobrou respeito à democracia e afirmou que criar tensão institucional não ajuda o país a evoluir. Ministros do Supremo Tribunal Federal também criticaram a ação do presidente.

Após as reações, Bolsonaro procurou parlamentares para afirmar que a crise foi causada por um mal-entendido, ressaltando que ele apoia as instituições democráticas.

Neste sábado, em Roraima, o discurso do presidente foi acompanhado de fala de Heleno. Bolsonaro afirmou que já levou "facada no pescoço dentro do meu gabinete por pessoas que não pensam no Brasil". O ministro, por sua vez, disse que o presidente tem encontrado resistência em sua atuação.

"Ele tem encontrado uma resistência muito grande porque a rede de corrupção que se criou neste país, que está sendo desbaratada por este governo, tem prejudicado planos espúrios de muita gente", disse.

Também neste sábado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que as manifestações marcadas para o dia 15 de março não apresentam riscos e que é necessário aguardar.

"Estamos vivendo uma onda conservadora e reacionária. Eu sou partidária da liberdade e da democracia, qualquer manifestação é válida", disse. FHC afirmou ainda que é preciso ter cautela sobre o assunto.

"O risco do Brasil não são as manifestações, são os que tomam decisões ficarem com medo de afirmar seus valores", afirmou.

Questionado sobre se Jair Bolsonaro ultrapassou algum limite, Fernando Henrique afirmou que, como já foi presidente, não pode falar sobre o assunto. "Eu sempre fui cuidadoso e continuo sendo", disse.

Em Boa Vista, além de Heleno, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, também fez declarações à plateia sobre a questão energética do estado, o projeto de lei enviado em fevereiro ao Congresso que autoriza exploração mineral em terras indígenas, a crise na Venezuela e a Operação Acolhida.

Nenhuma autoridade local discursou no encontro, que foi encerrado por uma oração conduzida por um pastor evangélico.

PROTESTOS EM MARÇO

Dia 8 (domingo)  Mulheres irão às ruas em atos pelo Dia Internacional da Mulher, com ênfase nas críticas a Bolsonaro, associado pelos movimentos a retrocessos nas questões femininas

Dia 14 (sábado)   Manifestações pedirão esclarecimentos sobre o assassinato da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, que completará dois anos na data

Dia 15 (domingo)   Simpatizantes do governo Bolsonaro farão atos em apoio ao presidente, mas também são esperados ataques ao Congresso e ao Supremo, com pedidos de fechamento de ambos

Dia 18 (quarta-feira)  Ato convocado inicialmente em defesa da educação pública ganhou o reforço de centrais sindicais e envolverá paralisações de servidores e pressão por impeachment de Bolsonaro

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