Descrição de chapéu STF

Imaginem as sessões do STF começarem com uma oração, diz Bolsonaro ao falar em indicar pastor

Presidente reforça em culto promessa de ministro 'terrivelmente evangélico' na corte; antes, ofereceu ajuda a Russomanno em resposta a Covas

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São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta segunda-feira (5) a uma plateia de fiéis evangélicos que a próxima vaga de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) será preenchida não só por alguém "terrivelmente evangélico", como já havia prometido, mas por um pastor.

"A segunda vaga, que será em julho do ano que vem, com toda a certeza, mais do que um terrivelmente evangélico, se Deus quiser nós teremos lá dentro um pastor", afirmou ele durante culto em um templo da Assembleia de Deus, em São Paulo.

"Imaginemos as sessões daquele Supremo Tribunal Federal começarem com uma oração", completou. Os fiéis reagiram dizendo "glória a Deus".

O presidente da República, Jair Bolsonaro, em culto em ação de graças pelo aniversário do pastor Wellington Bezerra da Costa - Marcos Corrêa/PR

Bolsonaro se referia à segunda vaga que deve ser aberta na corte durante o seu mandato, o que está previsto para 2021, com a aposentadoria de Marco Aurélio Mello. Cabe ao presidente da República indicar o escolhido, que passa por sabatina no Senado.

Para a primeira vaga, aberta com a aposentadoria compulsória do decano Celso de Mello, Bolsonaro indicou o juiz federal Kassio Nunes, 48, hoje integrante do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região).

No evento desta segunda, em resposta a críticas da sua base eleitoral a respeito da escolha de Kassio, o presidente afirmou que "alguns um pouco precipitados" achavam que o ministro de perfil notoriamente evangélico deveria ter sido indicado já para a substituição de Celso de Mello.

Bolsonaro fez as declarações no culto de aniversário do pastor José Wellington Bezerra da Costa, líder religioso que presidiu a CGADB (Convenção das Assembleias de Deus do Brasil).

O pastor, que completou 86 anos, está à frente do Ministério Belém, o maior braço daquela que é a principal denominação evangélica do Brasil, a Assembleia de Deus.

Ao chegar ao local, o presidente e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro (que é evangélica da Igreja Batista Atitude), foram recebidos com aplausos e gritos de "mito". O casal também foi saudado nos discursos de pastores e líderes da igreja.

Em sua fala, no encerramento da solenidade, o pastor aniversariante afirmou que a pandemia do coronavírus está passando e, diante do auditório, disse não haver vírus em seu templo.

"Nessa casa não tem vírus. Nessa casa tem glória. [...] Mas, obedientes às autoridades, cumprimos as medidas", afirmou José Wellington, mencionando providências como uso de máscaras, distanciamento entre os presentes e uso de álcool em gel.

Em meio à pandemia do coronavírus, o culto reuniu cerca de 1.800,pessoas num templo com capacidade para 5.000. Os fiéis tiveram sua temperatura medida e foram obrigados a se sentar de forma intercalada, com uma cadeira vazia entre cada um.

Mas houve aglomeração na entrada. Quando a capacidade do local se esgotou, ainda havia uma fila de fiéis pelo quarteirão do lado de fora.

O evento também teve a presença dos ministros Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Milton Ribeiro (Educação), ambos pastores.

Ao cumprimentar Ribeiro em seu discurso, Bolsonaro afirmou: "Quem diria termos um dia um pastor à frente da educação do Brasil".

A fala teve ainda referências a Deus ("me colocou aqui") e à família ("aquilo que há de mais sagrado entre nós"). "É muito bom estar num ambiente onde todos são irmãos e têm Deus no coração", disse, sob aplausos.

Alvo de críticas de Bolsonaro e de seu candidato à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (Republicanos), horas antes do culto, o prefeito Bruno Covas (PSDB), que concorre à reeleição, também compareceu ao evento.

Segundo Russomanno, Covas está armando uma frente para combater o presidente Bolsonaro e está usando a prefeitura para isso. Ele se referia à coligação de partidos e demais apoiadores que fazem campanha por Covas.

O prefeito ficou a poucos metros de Bolsonaro no palco do templo religioso.

Durante a solenidade, Covas ouviu elogios e foi chamado de querido. O mestre de cerimônias agradeceu a ele porque "tem facilitado para que a igreja continue tendo a liberdade de pregar a palavra de Deus".

Outro que estava presente foi o candidato Andrea Matarazzo (PSD) —a deputada estadual Marta Costa (PSD), filha do pastor aniversariante, é vice na chapa de Matarazzo.

Russomanno também iria ao evento, mas desistiu na última hora. Segundo sua equipe, o candidato resolveu gravar propagandas para o horário eleitoral.​

Bolsonaro e Michelle não usaram máscaras. Houve aglomeração entre as autoridades ao fim da solenidade, com cumprimentos e fotos. Covas também se aproximou de fiéis no encerramento do culto, dando abraços e tirando fotos.

O eleitorado evangélico é um dos principais alvos de disputa entre os candidatos a prefeito de São Paulo neste ano.

O prefeito, em sua campanha pela reeleição, tem investido em agendas religiosas. Seu vice, Ricardo Nunes (MDB), é ligado à Igreja Católica.

Russomanno, por sua vez, assim como Bolsonaro, também busca o apoio dos evangélicos e católicos. Seu partido, o Republicanos, é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus.

No sábado (4), Russomanno esteve na missa do Padre Marcelo Rossi, também num aceno a esse eleitorado.

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O presidente Jair Bolsonaro e o candidato do Republicanos à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, após reunião no aeroporto de Congonhas, em São Paulo - Carolina Linhares

A passagem do presidente por São Paulo começou com um encontro à tarde, ainda no aeroporto de Congonhas, com Russomanno, a quem Bolsonaro declarou apoio.

"Eu não pretendia entrar nas decisões de eleições municipais, mas Russomanno é amigo de velha data e estou pronto para ajudá-lo no que for preciso", disse Bolsonaro ao lado do deputado federal e postulante.

Segundo Russomanno, o presidente sentiu necessidade de entrar em sua campanha no primeiro turno como resposta ao que chamou de frente de oposição criada por Covas.

A coligação do tucano, formada por 11 partidos e costurada pelo pelo governador João Doria (PSDB), é vista por Bolsonaro como uma ameaça. Como Doria é potencial presidenciável em 2022, a vitória de Covas em São Paulo o ajudaria eleitoralmente.

Como mostrou a Folha, além da ampla coligação de partidos —encabeçada por MDB e DEM—, aliados de Covas querem aglutinar apoios de setores e movimentos da sociedade sem conexão com legendas e que se contraponham a Bolsonaro.

"O que é triste é eles terem armado uma frente para combater o presidente Bolsonaro, usando a prefeitura inclusive, para fazer esse tipo de coisa. [...] Não é assim que se faz política. Então, essa frente que eles estão criando aí, para combater o presidente Bolsonaro, não vai dar em absolutamente nada, pode ter certeza", disse Russomanno.

"Ele [Bolsonaro] disse que não pretendia entrar no primeiro turno na eleição, mas, diante dessa frente que foi criada pelo Bruno e pelo Doria para fazer oposição a ele, ele vai entrar na minha campanha", completou.

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