Descrição de chapéu Eleições 2022

Gaúchos escolhem entre adesão ao bolsonarismo ou voto de confiança no centro

Estado que nunca reelegeu governador assistiu disputa ríspida entre Onyx e Leite no segundo turno

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Porto Alegre

Célebre por seus conflitos históricos, como a Revolução Farroupilha, ou permanentes, com a rivalidade Grenal, o Rio Grande do Sul assistiu ao surgimento de mais um deles na ríspida disputa entre Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB), candidatos ao governo do estado.

Leite chega à disputa liderando a corrida eleitoral, conforme pesquisa Ipec divulgada sexta-feira (28), que o mostrou com 56% dos votos válidos, ante 44% de Onyx.

O Ipec entrevistou 1.808 pessoas de quarta (26) a sexta (28) em 87 municípios, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi contratada pela RBS e tem registro de número BR-08796/2022 no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Eduardo Leite (PSDB) e Onyx Lorenzoni (PL), que disputam eleição no Rio Grande do Sul
Eduardo Leite (PSDB) e Onyx Lorenzoni (PL), que disputam eleição no Rio Grande do Sul - Divulgação

Neste domingo (30), os gaúchos farão a opção pela adesão do estado ao bolsonarismo –personalizado por um dos mais fiéis escudeiros do presidente Jair Bolsonaro (PL)– ou conceder o privilégio de, pela primeira vez, reeleger o seu governador. E justamente um ausente do cargo desde março, quando renunciou para uma mal-ajambrada tentativa de candidatura à Presidência.

No âmbito nacional, a vitória ou derrota de Leite pode também ser decisiva para o destino do PSDB –que encolheu no Congresso e disputa o segundo turno também em Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Paraíba– e sinalizar as chances futuras de candidaturas que se atreverem a peitar petistas ou bolsonaristas em coligações de centro. Mesmo as amplas, como a de Leite, que reuniu siglas robustas como PSDB, PSD, União e MDB.

Onyx e Leite fizeram oito debates ao longo do segundo turno. Desde o segundo deles, em 14 de outubro, na Rádio Gaúcha, os dois dispensaram a cordialidade nos estúdios.

Na ocasião, os nervos estavam à flor da pele em razão de uma inserção de rádio em que Onyx dizia que, com ele, o Rio Grande do Sul teria "um governador e uma primeira-dama de verdade". A fala foi interpretada como uma insinuação homofóbica a Leite, gay assumido.

Confrontado logo na primeira pergunta, Onyx acusou o rival de se vitimizar. Ao final do encontro, Leite estendeu a mão e aconteceu a primeira cena de repercussão nacional entre os dois candidatos: o ex-ministro bolsonarista ignorou o gesto, deu as costas e foi embora.

Embora Onyx tenha atraído os holofotes pela deselegância, foi Leite quem inaugurou os ataques no segundo turno. O tucano havia feito um primeiro turno na defensiva em debates e impassível nos horários eleitorais –com tempo de TV em abundância, chegou a ressuscitar o jingle "Gente em Primeiro Lugar", de Fernando Henrique Cardoso nas eleições de 1994 e 1998. Ao abrir as urnas, veio a surpresa.

Onyx estava 679 mil votos à frente de Leite e, Edegar Pretto (PT), apenas 2.441 atrás do tucano. Atrelando-se a Lula (PT) e atacando Leite, o petista conseguiu empolgar a militância de esquerda e estragar o voto "Luleite", que se desenhava antes do início da campanha como o melhor antídoto ao bolsonarismo. A estratégia de Leite de se manter avesso à polarização nacional quase custou seu lugar no segundo turno.

Passado o susto, os candidatos fecharam um acordo para reiniciar os programas eleitorais com uma semana de atraso. Onyx voltou com o programa maior, mas praticamente igual: emotivo e atrelando o ex-ministro a medidas do governo federal, como a implementação do Auxílio Brasil.

Já Leite trocou o amarelo e azul do PSDB pelas cores do Rio Grande do Sul –verde, vermelho e amarelo–, adotou trilhas sonoras regionalistas, passou a vestir trajes típicos e a se apresentar como um defensor dos interesses do estado.

Se no primeiro turno a polarização nacional era um assunto a ser postergado, no segundo Leite promoveu uma espécie de rebelião contra a exigência para que tomasse partido entre Lula e Bolsonaro. Alegando a preservação do debate local, decidiu não revelar seu voto na eleição nacional. E prontamente sepultou a ideia de discutir a privatização do Banrisul, principal ativo do estado.

Por fim, desde o primeiro debate de segundo turno Leite partiu para o ataque. Usou o termo "pipoqueiro" para definir o rival, por saltar de ministério em ministério ao longo do governo Bolsonaro, o que enfureceu Onyx, que pediu "respeito aos pipoqueiros".

Leite também tentou enquadrar o rival por ter feito um acordo com a Procuradoria-Geral da República em 2020 que incluiu multa e admissão do uso de caixa 2.

Já o ex-ministro atacou Leite pela alta evasão e baixo desempenho dos estudantes de escolas estaduais, pelas dívidas do plano de saúde dos servidores, por ter "trancado os gaúchos em casa" durante a pandemia e pela adesão do estado ao regime de recuperação fiscal –o que significa começar a pagar anualmente uma parcela que começa em R$ 2 bilhões e limitar empréstimos e investimentos.

Alguns ataques acabaram se voltando contra Onyx. Ao criticar o regime de recuperação fiscal no debate da Rádio Guaíba, mas se recusar a apresentar uma alternativa por oito vezes consecutivas, Onyx se viu transformado em memes na internet.

Outro tiro que pode acertar o pé do ex-ministro veio em meio a críticas de Onyx a Leite na gestão durante a pandemia feitas no debate de quinta (28), da RBS TV/Globo. Onyx justificou não ter tomado a vacina contra a Covid afirmando equivocadamente que "a melhor vacina que existe é pegar a doença", o que gerou forte repercussão negativa em redes sociais.

Leite encerrou seu último programa de TV exibindo a declaração do rival seguida de uma tela preta com os dizeres: "Nossa solidariedade às famílias que perderam seus entes queridos na pandemia, no Rio Grande e no Brasil".

A campanha contou ainda com deserções nas coligações. Uma ala do MDB que inclui o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, e Tiago Simon, filho do ex-senador Pedro Simon, aderiu a Onyx e a Bolsonaro, mesmo o MDB sendo o partido do vice de Leite. O tucano contra-atacou com apoios do PP, que formalmente apoiou Onyx.

Já o PT gaúcho, após aconselhar "nenhum voto a Onyx", na semana passada anunciou um "voto crítico" a Leite que mais preocupou do que lisonjeou o tucano.

Até aqui, ele vinha contando com o apoio velado dos petistas e respondendo cordialmente a manifestações de voto de líderes do partido como os ex-governadores Olívio Dutra e Tarso Genro. O apoio explícito pode custar votos do eleitor conservador.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.