Ex-ministro deixa PF após quase 5 horas de depoimento sobre ação do GSI no 8/1

General Gonçalves Dias falou a agentes federais após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF

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Brasília

Ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), o general da reserva Gonçalves Dias deixou a sede da Polícia Federal nesta sexta-feira (21) após prestar depoimento de cerca de 4 horas e 30 minutos no âmbito do inquérito que investiga o ataque às sedes dos Poderes em 8 de janeiro.

O general chegou ao prédio da PF por volta de 9h, acompanhado de um motorista e outras duas pessoas, pelo portão dos fundos. Ele deixou o local por volta de 13h30, sem falar com a imprensa.

General Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI do governo Lula, deixa a sede da Polícia Federal
General Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI do governo Lula, deixa a sede da Polícia Federal - Pedro Ladeira/Folhapress

"O comparecimento na sede da Polícia Federal é, para mim, uma grande oportunidade de esclarecer os fatos que têm sido explorados na imprensa. Confio na investigação e na Justiça, que apontarão que eu não tenho qualquer responsabilidade seja omissiva ou comissiva nos fatos do dia 8 de janeiro", disse o general em nota.

O depoimento foi tomado após o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinar na quinta-feira (20) que Dias prestasse esclarecimentos sobre a atuação do GSI durante a invasão ao Palácio do Planalto em até 48 horas.

A decisão foi dada um dia depois de Gonçalves Dias ter sido demitido do governo na esteira da crise causada pela divulgação dos vídeos do circuito interno de segurança do Palácio do Planalto. Foi a primeira demissão no alto escalão do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A crise que levou à saída do chefe do GSI teve como estopim a divulgação, pela CNN Brasil, de imagens do circuito interno da segurança durante a invasão da sede da Presidência da República que mostram uma ação colaborativa de agentes com golpistas e a presença de Gonçalves Dias no local.

O destino do general foi selado em meio à recusa de divulgar imagens da invasão ao Planalto.

Uma semana após os ataques de 8 de janeiro, o governo divulgou vídeos editados, em particular com trechos que evidenciavam que os militantes eram aliados de Bolsonaro. No entanto, recusou um pedido da Folha, via Lei de Acesso à Informação, para divulgar a íntegra das gravações.

Segundo as imagens da invasão ao Planalto, os golpistas receberam água dos militares e cumprimentaram agentes do GSI durante os ataques. Nos vídeos, o próprio general Gonçalves Dias circula pelo terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República, enquanto os atos ocorriam no andar de baixo.

Na decisão em que determinou a tomada do depoimento, Moraes classifica as imagens como "gravíssimas" e disse que indicam a atuação incompetente das autoridades responsáveis pela segurança interna do Palácio do Planalto, "inclusive com a ilícita e conivente omissão de diversos agentes do GSI".

A queda do comandante do GSI deve tornar inevitável a criação de uma CPI no Congresso sobre os atos golpistas, que já vinha sendo cobrada pela oposição sob resistência da gestão Lula, que agora deverá mudar de estratégia.

Escolhido para comandar interinamente o GSI, Ricardo Cappelli afirmou à Folha nesta sexta ter recebido a missão de Lula de renovar e despolitizar o órgão.

"A principal pedida do presidente foi acelerar a renovação [substituição de membros do gabinete], isso vai estar em curso na semana que vem", disse o ministro interino. "[Isso significa] despolitizar, quer dizer, ter um corpo mais técnico, mais profissional aqui que possa tocar o trabalho."

Cappelli se comprometeu a fazer uma análise aprofundada da situação do GSI e entregar a Lula, em sua volta de Portugal, uma sugestão do que fazer com a pasta: se deve ser comandada por um civil, um militar ou passar por uma mudança estrutural.

No Ministério da Defesa, a avaliação é que o cargo deve ser ocupado por um general quatro estrelas que esteja na reserva. Os generais Valério Stumpf Trindade e Marcos Antônio Amaro foram sondados pelo comandante do Exército, general Tomás Paiva, sobre a possibilidade de serem indicados para a função.

Stumpf trabalhou no GSI como secretário-executivo durante a gestão de Michel Temer (MDB) e nos primeiros meses do governo Jair Bolsonaro (PL). Atuou na pasta, em outras funções, durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e no primeiro de Lula.

O general, no entanto, assumiu a presidência do Poupex neste mês e, segundo aliados, não deve aceitar um eventual convite para suceder Gonçalves Dias no cargo.

Amaro comandou a Casa Militar (órgão que sucedeua o GSI) no governo Dilma Rousseff (PT) e é considerado um general discreto e profissional. Apesar do contato com petistas, é reconhecido pelos pares por não usar das relações políticas para alcançar postos no Executivo.

Apesar das sondagens, a definição sobre o futuro da estrutura do GSI será tomada por Lula após o retorno da viagem internacional que faz nesta semana.

A crise causada pela divulgação das gravações do Palácio do Planalto e a queda de Gonçalves Dias mudaram a posição do governo sobre a instalação de uma CPMI no Congresso para investigar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro.

Na quinta, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) disse que a divulgação das imagens sobre o 8 de janeiro e a consequente demissão do general Gonçalves Dias do comando do GSI configuram uma "nova situação política".

Segundo ele, o governo do presidente Lula tem orientado os líderes no Congresso Nacional a apoiarem a instalação de uma CPI para investigar os ataques aos três Poderes para, segundo ele, barrar a propagação de falsas teses sobre os atos golpistas daquele dia.

Aliados da base do governo dizem que a divulgação das imagens causou estranheza. Eles reclamam que faziam defesa enfática do Planalto no Congresso, mas passaram a ter dúvidas sobre a atuação do GSI após as gravações serem expostas.

"O vazamento do vídeo causou um desconforto, muita estranheza. É uma quebra de confiança. Quem tinha acesso a esse vídeo? Estamos defendendo o governo de forma ferrenha e aparece uma gravação dessas", disse o líder do Solidariedade, deputado federal Áureo Ribeiro (RJ).

Ele reclama ainda que o governo decretou sigilo sobre as imagens, após pedido da Folha às gravações pela Lei de Acesso à Informação. "Parece que eles esconderam as imagens por alguma razão, que precisa ser esclarecida", completou o deputado.

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