Descrição de chapéu Eleições 2024

Boulos tem a cara do Lula, Nunes faz perfumaria e Tabata está no muro, diz presidente do PT-SP

Para Laércio Ribeiro, que dirige partido na capital paulista, aliança com PSOL fortalece sigla e é crucial para rumos de 2026

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São Paulo

O presidente municipal do PT em São Paulo, Laércio Ribeiro, considera a eleição de 2024 na capital paulista uma espécie de "terceiro turno" da disputa entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). "E nós vamos vencer de novo", diz ele em entrevista à Folha, apostando na chapa encabeçada por Guilherme Boulos (PSOL).

"O Boulos tem a cara do Lula e a cara do PT", afirma.

Bolsonaro anunciou apoio a Ricardo Nunes (MDB), pré-candidato à reeleição, o que fortaleceu a estratégia da esquerda de colar no prefeito a rejeição ao ex-presidente —68% dos moradores da capital não votariam em alguém indicado por ele, de acordo com o Datafolha.

O presidente municipal do PT em São Paulo, Laércio Ribeiro, durante entrevista à Folha na sede da legenda, na região central da capital - Marlene Bergamo/Folhapress

Mesmo que os dois se distanciem e Bolsonaro lance outro nome, a mensagem será mantida, segundo Ribeiro. "Ele [Nunes] buscou o Bolsonaro o tempo inteiro e dialoga muito com o campo e as pautas bolsonaristas. Ele não vai escapar disso, sendo o candidato apoiado pelo Bolsonaro ou não", diz.

O petista afirma que o deputado do PSOL apresentará "um programa estruturante, e não uma perfumaria, como o Ricardo tem feito na cidade". E indaga quais políticas Nunes deixou em áreas como saúde, habitação, mobilidade e educação: "Qual a marca do Ricardo? Recapeamento? Absolutamente nenhuma".

Sobre Tabata Amaral (PSB), o dirigente afirma que é direito do PSB ter uma candidatura e vê possibilidade de confluência no segundo turno, mas critica a deputada federal, que também é do campo governista e tem apoio do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).

"Há espaço na cidade e no país para um centro político, mas o centro não é o muro. E hoje enxergo a Tabata posicionada no muro. Precisa dizer a que veio para conseguir ganhar um espaço", diz Ribeiro, que cresceu na Vila Missionária, mesmo bairro periférico da zona sul onde Tabata foi criada.

O presidente trabalhou para afastar as resistências internas à aliança, em que pela primeira vez o partido abriu mão de lançar candidato na cidade. Ele afirma que a parceria com o psolista fortalece o PT, em vez de enfraquecê-lo, como argumentavam os refratários ao acordo alinhavado por Lula em 2022.

Ribeiro também foi um entusiasta da costura de Lula para trazer Marta Suplicy de volta à legenda, concordando com o argumento de que ela tem a imagem ligada ao partido, apesar do rompimento há nove anos. Ele diz que a ex-prefeita como vice ajuda a combater o "estereótipo do radicalismo" de Boulos

O deputado e seu entorno costumam repetir que a dianteira obtida por Lula e pelo então candidato a governador Fernando Haddad (PT) na capital em 2022, ficando à frente de Bolsonaro e de seu aliado Tarcísio de Freitas (Republicanos), seria um indicativo favorável ao nome do PSOL.

Ribeiro diz ser exagero esperar uma reprodução automática do resultado em 2024. "Mas é uma possibilidade e vamos explorá-la", observa, ecoando a aposta de Lula na polarização.

"A democracia estava em xeque, não está mais, mas o jogo pela defesa da democracia ainda está [sendo] jogado", afirma o dirigente. "O PT não pode se dar o luxo de perder, e essa frente é fundamental para sairmos vitoriosos", segue, ao justificar a decisão inédita de abdicar da cabeça de chapa.

O cálculo é o de que o desempenho em 2024 "dará recados importantes para 2026", podendo impulsionar o campo que vencer. "Mais importante que o PT ampliar o número de prefeitos pelo país é essa frente que estamos construindo ter vitórias. Ganhando em São Paulo, o resultado no balanço dispara."

Para o dirigente —que divide a coordenação da pré-campanha com Josué Rocha, assessor e homem de confiança de Boulos no PSOL—, a ideia de frente que deu a vitória a Lula deve ser replicada contra o bolsonarismo na capital. Hoje a campanha reúne siglas à esquerda (PSOL, PT, Rede, PC do B, PV e PDT).

Confrontado com as críticas à busca de hegemonia do PT na esquerda, Ribeiro responde que a única predominância desejada atualmente é a da frente que está sendo construída. "A hegemonia que estamos buscando hoje é a de um campo que derrote a extrema direita. É isso que nos unifica."

Para o petista, o tipo de disputa que emergiu com "a direita radicalizada" piorou o debate no país. "O enfraquecimento de uma direita civilizada, que disputava ideias, fez muito mal para a gente. A polarização que tínhamos com o PSDB era de ideias. O que vimos [com Bolsonaro] foi gente se matando."

Ribeiro minimiza o vexame das duas últimas candidaturas petistas na cidade, com o então prefeito Haddad em 2016 —derrotado no primeiro turno por João Doria (PSDB)— e Jilmar Tatto em 2020 —responsável pelo pior resultado da legenda na história da capital, em sexto lugar.

O dirigente atribui a sequência aos anos de crise do PT na opinião pública depois da Lava Jato e do impeachment de Dilma Rousseff, mas nega que tenha sido um erro insistir na campanha de Tatto quando já havia sinais da competitividade de Boulos, que chegou ao segundo turno em 2020.

"O PT precisava dar a cara e se mostrar firme naquele momento, com uma candidatura que levantasse a bandeira do partido, radicalmente petista", afirma Ribeiro.

Tatto, hoje deputado federal, foi refratário à aliança com Boulos, mas acabou vencido. Ele questionou, entre outros pontos, se a ausência de candidato a prefeito prejudicaria a eleição de vereadores petistas.

Ao falar de candidaturas para a Câmara, o presidente do PT cita o compromisso de lançar uma chapa "qualificada, representativa e diversa". Há críticas na própria militância ao perfil da atual bancada, com apenas uma mulher, a vereadora Luna Zarattini, 30, e sete homens, todos acima dos 40 anos.

Ribeiro vê necessidade de "olhar com muito cuidado e muito carinho" para as pautas identitárias, mas faz ressalvas. "Acho que o que tem de ser central na política é a vida das pessoas, é a situação econômica da pessoa. Isso está na frente de qualquer outra questão", diz, pregando enfoque universal.

Ele entende, no entanto, que raça é algo relevante. "É um debate central, está em qualquer esfera da sociedade e não pode ser entendido como uma caixinha. O racismo é estrutural, e diversos problemas que temos estão relacionados às questões raciais", diz o presidente, que se declara negro.

Ribeiro afirma concordar com Lula na cobrança para que o PT retome o trabalho de base e deixe de achar que sabe "toda a verdade do planeta", feita durante encontro partidário em dezembro.

"O Lula está bem antenado quando fala sobre isso. Todo mundo que se acha conhecedor do fim da história olha para o outro com um certo desdém. A esquerda tem isso, acha que precisa converter o outro à sua visão, e precisa se despir desse ar de superioridade", afirma.


Raio-X | Laércio Ribeiro de Oliveira, 40

Filiado ao PT desde 2004, preside o partido na cidade de São Paulo desde 2020. Iniciou a militância política na Pastoral da Juventude, da Igreja Católica, na Vila Missionária (zona sul), onde cresceu. Estudou sociologia na FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo). Atuou na assessoria de Fernando Haddad (PT), foi subprefeito de Santo Amaro e está lotado como secretário parlamentar no gabinete do deputado federal Alfredinho (PT-SP). É um dos coordenadores da pré-campanha de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo em 2024

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