Descrição de chapéu América Latina

Veja o que fazer em Santiago, no Chile, em apenas um final de semana

Cidade talvez não impressione tanto como o Rio ou Buenos Aires, mas pode surpreender quem se dedica a explorá-la

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John Bartlett
Santiago | The New York Times

Por ser a porta de entrada para algumas das maravilhas naturais mais incríveis do mundo —Patagônia, Deserto do Atacama, Ilha de Páscoa— muitos viajantes apenas passam rapidamente por Santiago, a capital do Chile.

Mas ainda que a cidade talvez não impressione tanto como o Rio de Janeiro ou Buenos Aires, quem a vivencia além da superfície encontra muita música, arte e vida noturna, sempre com a impressionante paisagem dos Andes ao fundo.

Vista do Cerro San Cristóbal, em Santiago, no Chile
Vista do Cerro San Cristóbal, em Santiago, no Chile - NYT

50 anos após o golpe de estado apoiado pelos Estados Unidos, que levou ao regime ditatorial de 17 anos do General Augusto Pinochet, as divisões ainda são profundas. Tanto que há apenas quatro anos, o Chile explodiu em protestos catárticos e, por vezes, violentos, quando centenas de milhares de chilenos protestaram contra as desigualdades sociais. As cicatrizes estão lá para todos verem. Mas se você chegou até aqui, deve dar uma chance para se impressionar com Santiago.

ITINERÁRIO - 36 horas em Santiago

Sexta-feira

19h30 | Siga o ritmo

Para quem não conhece, a cueca, que foi declarada a dança nacional do Chile pelo regime de Pinochet em 1979, pode parecer uma confusão de lenços e saltos. Aprenda o básico na Casa de la Cueca, uma animada sala de dança no topo de uma escadinha estreita no bairro em ascensão Matta Sur. Nas sextas-feiras, o local oferece aulas de dança (3.000 pesos chilenos, cerca de R$ 16) ao som de músicos locais ao vivo. María Esther Zamora e seu marido, Pepe Fuentes, abriram o espaço em 1996, decorando-o com bandeiras e fotografias da cidade. Infelizmente, Fuentes faleceu em 2020 e a pandemia quase obrigou o local a fechar, mas as aulas de dança e os animados almoços no primeiro domingo de cada mês (22.000 pesos, reserve com antecedência) mostram que a Casa de la Cueca está mais forte do que nunca.

21h | Experimente clássicos reinventados

A Pulpería Santa Elvira, a algumas quadras ao sul, só viu sua reputação crescer desde a sua abertura em 2018. O lugar tem uma atmosfera aconchegante, com fotos de família nas paredes e potes de conservas, pimentas e especiarias espalhados pelo ambiente. Nas noites de verão, você pode se sentar em um pátio do lado de fora. O pequeno cardápio do chef Javier Avilés, que muda frequentemente, reinventa clássicos chilenos sazonais, incluindo uma cesta de pães criativa que brinca com o "la once", uma refeição tradicional da tarde. Outros pratos brincam com texturas, como um purê de abóbora servido em sua casca dura. Três pratos e uma taça de vinho local custam cerca de 35.000 pesos (R$ 190) por pessoa. Faça reserva com antecedência via WhatsApp ou pelo site.


Sábado

10h | Trace as cicatrizes de um golpe

Em um prédio impressionante, parecido com um contêiner, o Museo de la Memoria y los Derechos Humanos é sombrio, mas essencial. O museu leva os visitantes a percorrer a ditadura do Chile, desde o golpe de estado de Pinochet, em 1973, que dividiu o país, até o retorno à democracia, em 1990. Um muro exibindo os rostos dos mais de 3.000 homens, mulheres e crianças desaparecidos ou executados à força, melhor visto do segundo andar, é arrepiante. O museu leva cerca de uma hora para ser visitado e é gratuito, embora doações voluntárias sejam encorajadas se você optar por fazer um tour com áudio-guia (disponível em inglês, espanhol, francês e português). Também há um aplicativo gratuito e intuitivo para smartphone em espanhol ou inglês. Para agendar um tour guiado para até 15 pessoas, envie um e-mail ao museu com antecedência e verifique a programação de palestras e eventos.

11h30 | Coma e faça um corte de cabelo

Saindo do museu, siga pela Compañia de Jesús, uma rua colorida que atravessa o Barrio Yungay, um bairro de prédios baixinhos e muita personalidade. Em 2022, o presidente esquerdista e millennial Gabriel Boric e sua parceira, Irina Karamanos, fugiram do comum e escolheram o bairro como novo lar, em vez de uma residência luxuosa no centro. Por lá, vale apreciar os murais politicamente carregados espalhados pelos prédios históricos e visitar o restaurante Peluquería Francesa, com 155 anos de idade, onde você pode comer bem e, estranhamente, cortar o cabelo. Olhe para o Pasaje Adriana Cousiño, uma passagem bonita com calçadas quadriculadas e palmeiras, onde você também encontrará a Tetería Cleopatra, uma casa de chá com gatos. Se você preferir café sem gatos, então um americano e um alfajor no Café Cité, que tem móveis de metal elegantes em um prédio histórico renovado, custará 4.500 pesos (R$ 64).

13h | Torça por um garçom cantor

Pegue o metrô até Franklin, um bairro comercial em desenvolvimento cheio de surpresas. Lá, no mercado de pulgas Persa Víctor Manuel, você encontrará El Franchute del Barrio, um restaurante de inspiração francesa que serve sopa de cebola, pato à l'orange, tagines e creme brûlée. Cada centímetro das paredes é adornado com arte e fotografia, e raios de luz cruzam as vigas que sustentam o telhado. De vez em quando, o restaurante cai em um silêncio impressionante. É quando Carlos Díaz, um barítono de 31 anos que se tornou garçom, irrompe em canto. Peça as ostras frescas, que geralmente não estão no cardápio de lousa que os garçons passam entre as mesas. É só chegar e colocar seu nome na lista de espera e ouvir o elenco de músicos que passam por lá —vale a pena esperar. O menu de almoço de três tempos, sem bebidas, custa 17.000 pesos (R$ 240).

14h | Perca-se em um mercado

Após o almoço, explore o mercado de pulgas Persa Víctor Manuel, uma antiga fábrica de couros que é um dos poucos espaços onde santiaguinos de diferentes origens socioeconômicas se misturam. Comece na Galería La Curtiembre, uma galeria de arte onde você pode pegar mapas estilizados do mercado, antes de se aventurar pelas vielas perfumadas de incenso com mais de 1.200 barracas. Entre os personagens do mercado estão Carlos Escobar, que usa óculos de soldador e vende câmeras antigas, e o colecionador Roberto Ávila, que tem mapas e monografias do Chile e de outros lugares —alguns do século 19. Maravilhe-se com a fotografia de Bastián Cifuentes sobre os distúrbios sociais em 2019 e pegue impressões coloridas na galeria do muralista Alejandro "El Mono" González (você pode encontrá-lo). Para um café após o almoço, o Kilig, ao lado da barraca de El Mono, tem o melhor café do mercado.

15h30 | Relaxe em um pátio

A algumas quadras a leste está a Factoría Franklin, um novo espaço de arte e cultura construído em antigos laboratórios farmacêuticos e acessado por uma discreta porta de armazém. Você entrará em um pátio com barracas e oficinas que oferecem kombucha, cerveja caseira e gin da Destilados Quintal infundido com botânicos nativos (um gin tônica custa 5.500 pesos, ou R$ 30). No andar de cima estão os espaços de trabalho azulejados do torrador de café colombiano Andariego e da cozinha de conservas e molhos da Bymaria. No beco no fundo está a AFA Galería, uma galeria de arte moderna, e um grande armazém, que abriga feiras e vendas de arte. Todo o espaço está aberto diariamente, mas é mais animado nos fins de semana.

19h30 | Experimente um completo

Quando se trata de culinária nacional, uma salsicha afogada em maionese, tomate e abacate amassado pode não impressionar você. Ainda assim, você deve experimentar um completo. Segundo a história, nos anos 1920, um jovem chileno chamado Eduardo Bahamondes voltou dos Estados Unidos para Santiago com um simples cachorro-quente, inflamando paixões ao adicionar coberturas e estabelecendo rapidamente uma nova obsessão nacional. No El Portal Ex Bahamondes, a lanchonete toda espelhada que ele abriu em 1928 em Santiago, na Plaza de Armas, a combinação mais tradicional é uma vienesa italiana (nomeada pelas camadas de abacate-maionese-tomate que lembram as cores da bandeira italiana), mas você também pode optar por um chacarero: tomate, feijão verde, pimenta verde e maionese. Um completo e uma pint de cerveja Escudo custam 3.000 pesos (R$ 16) cada.

20h30 | Beba em um bar artístico

Passeie da Plaza de Armas até Lastarria, uma das áreas mais animadas de Santiago. Comece no El Bajo, um bar sob o GAM, um centro de artes distintivo nomeado em homenagem à primeira laureada com o Nobel do Chile, a poeta e educadora Gabriela Mistral. Após o palácio presidencial ser bombardeado durante o golpe, a junta militar governou o Chile a partir da torre acima do El Bajo até 1981. Peça dois pisco sours: um peruano (com clara de ovo e limão) e um chileno (sem ovo, com limão), por 6.500 pesos (R$ 35) cada. Em seguida, vá para o Café Escondido, uma praça com mesas sob uma figueira retorcida. Na juventude, o presidente Salvador Allende morava ao lado. Peça uma jarra de borgoña, uma versão de sangria com infusão de morango, por 12.500 pesos (R$ 67) e relaxe enquanto músicos itinerantes tocam clássicos chilenos.

23h30 | Vá para a pista de dança

Pegue um Uber para o centro até o Blondie, uma boate LGBTQ em um antigo cinema, que atende a uma ampla faixa etária e gostos. Entre por uma galeria de compras iluminada por néon, pague sua entrada de 10.000 pesos (R$ 55) e desça uma série de escadas escherianas, com fliperamas nos patamares, até a pista de dança. A sala tem um palco no meio, bolas de discoteca e um ventilador de teto gigante girando lentamente sob cubos luminosos. As bebidas custam cerca de 4.000 (R$ 22) 8.000 pesos (R$ 44). Há também uma pequena, mas intensa sala de techno no andar de cima, passando por uma portinha igualmente pequena. Se não for o seu estilo, vá até o rio Mapocho, que agora é apenas um filete de lama, até o animado bairro Bellavista, onde graves pulsantes competem com a estridência da cumbia. Lá, a Salsoteca Maestra Vida (entrada de 8.000 pesos, R$ 44) é uma boa opção de salsa para noite toda.


Domingo

10h | Faça uma trilha em uma colina no centro da cidade

Alivie uma dor de cabeça com uma subida íngreme até o Cerro San Cristóbal, uma ilhota verde de árvores e plantas nativas no centro da cidade. Às 10h, o teleférico abre, levando você ao topo em menos de 10 minutos (um bilhete diário de embarque e desembarque custa 7.900 pesos, ou R$ 42, e inclui o funicular e ônibus de transporte dentro do Parque Metropolitana, que possui uma área de 7 mil metros quadrados). Se preferir fazer a caminhada de uma hora, comece na entrada Pedro de Valdivia Norte. Enquanto sobe, desfrute de vistas panorâmicas da cidade e das montanhas, pontuadas de forma incongruente pelo Gran Torre Santiago, um edifício de 298 metros de altura, o mais alto da América do Sul. Sua recompensa no topo é um mote con huesillo (cerca de 2.500 pesos, ou R$ 14), um suco refrescante e doce contendo um pêssego reidratado e um punhado de milho, disponível em muitas barracas na Estação Cumbre. Para descer, pegue o funicular do outro lado e desembarque em Bellavista —a apenas um quarteirão de La Chascona, a peculiar casa do poeta Pablo Neruda.

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