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Belize concentra opções de férias caribenhas relaxantes e aventureiras

País maia do tamanho de Sergipe na América Central oferece 'La Isla Bonita' e muita natureza

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Vista aérea do recife, com um grande buraco circular ao meio, de um azul escuro. Junto à borda do buraco há um navio branco estacionado

O Grande Buraco Azul, formação natural no meio do recife de corais do Belize, o segundo maior recife do mundo Beatriz Izumino/Folhapress

Belize

Localizado numa lasquinha de terra junto à Guatemala e o México, o Belize é um destino para férias caribenhas de alto aproveitamento. Em poucos dias, é possível ir a sítios arqueológicos maias bem preservados e visitar os garífunas, aventurar-se por cavernas na mata e descansar em praias de areia branca e mar calmo, protegido pelo maior recife de corais do hemisfério norte.

É também um destino pouco conhecido dos brasileiros e de seus vizinhos —nos primeiros dez meses deste ano, só 1% dos visitantes do Belize eram da América do Sul. Convém, então, uma apresentação básica do país.

Território maia, foi disputado por ingleses e espanhóis até se tornar oficialmente uma colônia britânica em 1862, batizada de Honduras Britânicas. Em 1973, passou a chamar-se Belize, como um dos muitos rios que cortam seus 23 mil km² (pouco maior que o Sergipe, com 21,9 mil km²).

Sítio arqueológico de Lamani tem esculturas maias
Sítio arqueológico de Lamani tem esculturas maias - Reprodução/Belize Tourism Board

A independência veio em 1981, mas o país continua sendo parte do Commonwealth, ligado à coroa britânica. Hoje, é uma democracia parlamentar sob a monarquia constitucional de Charles 3º.

A língua oficial ainda é o inglês, mas mais da metade de seus cerca de 440 mil habitantes são mestizos, de origem hispânica ou latino-americana, e é muito fácil encontrar quem fale espanhol. Outro quarto da população é creole, descendente de escravizados da África e europeus. Há ainda muitos maias e alguns garífunas, um grupo surgido do encontro de indígenas do Caribe e africanos escravizados emigrados de São Vicente e Granadinas.

É um país pobre, que vive principalmente de agricultura (exporta açúcar, banana e cítricos), turismo e pesca, com uma população jovem (a idade média no país em 2020 era 23,9 anos) e pouco escolarizada. Sofre com violência e tráfico de drogas.

Nada disso, porém, está ao alcance dos olhos do turista sentado nas areias de Hopkins, vila de 3.000 habitantes fundada nos anos 1940 pelos garífunas numa tripa de terra a cerca de duas horas de carro da antiga capital, Cidade de Belize.

Rumo ao sul, depois das casas, pequenos comércios e pousadas, uma escola primária e uma biblioteca comunitária, há uma fileira de resorts onde o turista em busca da versão relaxante de férias caribenhas pode encontrá-la, de panty ripper (um drinque à base de rum de coco) em mãos.

Ali, os atrativos são a praia, a experiência luxuosa dos grandes hotéis para poucos, e os pratos de frutos do mar e peixe fresco —no Big Dock Bar do The Lodge at Jaguar Reef, um dos resorts locais, o peixe do ceviche é erguido direto do mar para a cozinha no deque.

A vila em si, em seus 6 km de extensão, ainda não foi tomada de armadilhas pega-turista e não há muito a se conhecer. Mas é possível contratar uma experiência cultural com os garífunas, para aprender a tocar o punta nos seus tambores e cozinhar o hudut, uma espécie de moqueca com peixe local e leite de coco extraído na hora.

Já a cultura maia está em todo lugar no Belize, nos rostos nas ruas, nos nomes dos rios e, principalmente, na culinária típica. A versão belizenha do english breakfast, por exemplo, traz no lugar do muffin inglês o fry jack, uma massa de milho fermentada e frita, que pode ser recheada daquilo que o freguês sonhar —a combinação mais tradicional leva feijão, queijo e frango.

As ruínas e os sítios arqueológicos conservam em pedra o que aldeias e organizações lutam para manter vivo. Traços de construções milenares permanecem, por exemplo, em Cahal Pech, em San Ignacio (a 40 km de Belmopan, a capital).

Por sua vez, Xunantunich, junto à fronteira com a Guatemala, um grande castelo de pedra descoberto apenas no fim do século 19, conta a história do fim do período clássico maia, após o declínio de Caracol, mais ao sul, como coração de um vale que um dia abrigou até 200 mil habitantes, segundo historiadores.

A 50 km de Belmopan, a Cooperativa de Mulheres de San Antonio dá aulas de maia iucateca aos jovens da comunidade —no país, há ainda os maias mopan e os q'eqchi’. A visita guiada à sede do grupo passa pelo ateliê de cerâmica, onde é possível ver a história ressuscitada. Com a ajuda de arqueólogos, as cooperadas reconstituíram técnicas perdidas de seus antepassados para coletar e trabalhar o barro e transformá-lo tanto na argila que moldam em vasos, pratos e tigelas, quanto nas tintas que usam para decorá-los.

O passeio termina na cozinha de teto de folhas secas de guano, onde se aprende a moer o milho para fazer tortilhas. A influência gastronômica maia aproxima a cozinha belizenha da mexicana. Come-se diferentes tipos de feijão, carne de porco, avocados, chaya (uma verdura entre a couve e o espinafre), banana-da-terra e muita pimenta —muita pimenta—, em pó, inteira ou nos molhos da marca Marie Sharpe’s, orgulho nacional. Há o tradicional arroz com feijão, em que os grãos são cozidos juntos no leite de coco.

Para refrescar, bebe-se Belikin, cerveja belizenha, necessária ante o calor estarrecedor mesmo no fim de setembro, no começo do outono setentrional. Há apenas duas estações no país, na verdade —a seca, de dezembro a maio, e a chuvosa, de junho a novembro—, mas nunca deixa de fazer calor (a temperatura média anual é de 27°C) e a umidade é sempre alta.

Ao menos na floresta a sensação é mais agradável. E não é difícil encontrar-se na mata: quase 40% do território belizenho é protegido por parques nacionais, segundo a ONG Nature Conservancy, e a população ainda é majoritariamente rural (há apenas duas cidades no país, a de Belize e Belmopan).

Montanha Pine Ridge
Montanha Pine Ridge - Reprodução/Belize Tourism Board

Uma vez em meio ao verde, há muitas opções de aventuras tropicais. Pode-se fazer uma trilha a cavalo por uma reserva dedicada aos jaguares, ou explorar cavernas em atividades que vão das mais fáceis (descer um córrego de boia) às mais desafiadoras (o complexo de cavernas Actun Tunichil Muknal, no distrito de Cayo, por exemplo, tem uma trilha que requer mais preparo e um guia licenciado).

Menos exigente é o passeio de barco pelo rio Macal, de águas pacificadas por uma barragem de hidrelétrica. Flutuando entre montanhas cobertas de verde, cheias de orquídeas e iguanas, o barqueiro Roberto conta, casualmente, que numa "cueva" entre dois morros encontrou vasos com glifos que explicam uma aliança matrimonial entre Caracol e outra cidade maia mais ao norte, no México.

Mas se a paz de espírito que almoçar numa barcaça estacionada quase dentro de uma cachoeira não é a versão de férias caribenhas que se procura, há sempre San Pedro.

Esse é o destino belizenho mais famoso, talvez por sua relação controversa com "La Isla Bonita", de Madonna. Reza a lenda (perpetuada com entusiasmo pelos locais) que a ilha serviu de inspiração para a canção —a cantora já disse em entrevista que naquela época nem sabia onde ficava San Pedro, mas isso não impediu a comunidade de abraçar o epíteto. "La Isla Bonita" está por todo lugar.

A ilha é agitada e ocupada por centenas de carrinhos elétricos pilotados por turistas pelas ruas estreitas. Foco dos americanos (que são 70% dos visitantes do Belize), tem hotéis de grandes redes, como Hilton, e muitos restaurantes e bares. Lembra Cancún, segundo um companheiro de viagem com mais milhas acumuladas.

Dali, é possível contratar em uma das duas companhias aéreas locais, Tropic Air e Maya Island Air, sobrevoos do Grande Buraco Azul, uma caverna vertical de 125 m de profundidade e 300 m de diâmetro, e passeios de barco ao entardecer ou para mergulhar na reserva marinha Hol Chan, na companhia de arraias, tubarões-lixa, barracudas, garoupas e pargos.

Brasileiros não precisam de visto para entrar no Belize, mas não há voos diretos entre os dois países. A Copa Airlines tem dois voos semanais partindo da Cidade do Panamá, e American Airlines, United e Delta oferecem diversas opções a partir de aeroportos nos Estados Unidos.

A jornalista viajou a convite do Belize Tourism Board

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