São Paulo, domingo, 12 de setembro de 1999


 


BIOQUÍMICA

Ex-presidente da SBPC é o mais citado no conjunto das quatro áreas do Ranking da Folha

Ferreira recomenda pesquisar

da Redação

Pesquisar bastante e publicar o que acha relevante. Esse é o conselho que dá aos jovens cientistas o médico e farmacologista Sérgio Henrique Ferreira, o pesquisador brasileiro recordista de citações em bioquímica _6.518 ao todo_ e no conjunto das quatro áreas abrangidas pelo Ranking da Ciência da Folha.
Aos 64 anos, 39 de carreira, Ferreira possui um invejável conjunto de realizações na pesquisa farmacológica, como a descoberta
de um fator da bradicinina (substância do veneno de jararaca) que levou ao surgimento de importantes drogas anti-hipertensivas, como o captopril, e ao desvendamento de um dos processos da ação analgésica da aspirina.

Lúcio Piton/Folha Imagem
O ex-presidente da SBPC Sérgio Ferreira no Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina da USP, em Ribeirão Preto


Em reconhecimento ao seu trabalho, a Sociedade Norueguesa de Hipertensão deu o nome de Ferreira ao prêmio que a entidade oferece a autores de pesquisas relevantes nessa área.
Seu currículo pode, a princípio, levar as pessoas a pensar que ele nada mais faz na vida senão ficar trancado em um laboratório.
Mas não é bem assim. Ferreira pode ser definido também como um eterno agitador. Graças a ele, tiveram continuidade os esforços iniciados por Maurício da Rocha e Silva para fazer da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo) um centro de excelência da pesquisa médica brasileira. Foi lá que ele e colegas fundaram a revista “Brazilian Journal of Medical and Biological Research”, uma das 16 do país indexadas no “SCI” (“Science Citation Index”).
Sua carreira na USP teve algumas interrupções, que o levaram à direção do Instituto Nacional de Controle de Qualidade da Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz, e da diretoria de pesquisa da empresa farmacêutica Wellcome, no Reino Unido, onde de 1971 a 1975 ele compreendeu o caminho que leva da pesquisa à patente.
Há dois meses, Ferreira encerrou quatro anos na presidência da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), destacando-se como um crítico contundente da política de ciência e tecnologia do governo federal.
Seu tom de voz, que muitas vezes parece denunciar um certo tédio diante do assunto, é, na verdade, enganador. Quando menos o interlocutor espera, Ferreira dispara uma surpreendente análise ou diagnóstico do tema em pauta, a estratégia a ser adotada e a tática mais adequada.
Ao ouvi-lo por telefone falar sobre iniciativas como o Ranking da Ciência, dá até para imaginar uma expressão de descrença com o tema. Mas, após enfatizar que esse não é o único critério a ser empregado para avaliar produtividade científica, ele se empolga também com o outro lado da questão. “É preciso saber se os cientistas estão produzindo. O orçamento das universidades deve ser estabelecido em função do mérito e da produtividade. Não adianta nada alguém ser produtivo, pois vai ser tratado do mesmo jeito que aqueles que não são.” (MAURÍCIO TUFFANI)


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