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VERBAS
Responsáveis pela concessão de bolsas dizem que citações
não são o único critério de avaliação
Entidades preferem
outros sistemas
MARCELO DAMATO
da Reportagem Local
Responsáveis pela avaliação da pesquisa de três
das principais instituições do país ligadas à
ciência reconhecem a importância do número de citações
como indicador, mas ressalvam que não pode ser usado como parâmetro
único.
A posição defendida por esses especialistas é que
a avaliação pelos próprios cientistas, usando parâmetros
objetivos, ainda é a melhor maneira de avaliar um cientista.
Luís Valcov Loureiro, da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior), Hernan Chaimovich, da USP (Universidade
de São Paulo), e Fernando Reinach, que até o final de julho
esteve no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico), estão ou estiveram envolvidos nesse tipo
de trabalho.
Diretor de programas da Capes, Loureiro coordena a avaliação
dos institutos e departamentos das universidades e instituições
de pesquisa do país. O resultado de seu trabalho serve, por exemplo,
para a distribuição das verbas e bolsas de pós-graduação.
Pró-reitor de pesquisa da maior universidade pública brasileira,
Chaimovich, por outro lado, coordena processos de contratação,
de promoção e de mudança de regime de trabalho dos
pesquisadores da USP.
Já Reinach, que trabalhou na gestão do ex-ministro Luiz
Carlos Bresser Pereira (Ciência e Tecnologia), coordenava o programa
de bolsas de pesquisa, que funciona como uma forma de complementação
de salário para cientistas de todo o país.
Embora de modo diferente, os três precisam (ou precisavam) decidir
basicamente quem (pessoa ou instituição) merece receber
parte do dinheiro que sua instituição tem para distribuir.
Na USP, a maior parte da verba é distribuída individualmente,
sob a forma de salário, que varia conforme o estágio da
carreira e o regime de trabalho. O CNPq também avalia os pesquisadores
separadamente. Já a Capes dá o dinheiro à instituição,
que tem alguma autonomia para investir.
O bioquímico Chaimovich, 60, elogiou a iniciativa da Folha
em publicar a lista. Num país onde os ídolos
vêm do esporte, do rock ou da corrupção, informar
o leitor de que um grande número de pessoas têm um impacto
grande na produção científica global é aumentar
a possibilidade de que o cientista seja reconhecido.
Mas ele considera que a lista é insuficiente. "Ninguém
decide com base em numerinhos."
A USP, na opinião dele, usa um sistema mais sofisticado de avaliar
os pesquisadores que já estão ou querem entrar na universidade.
Há alguns anos, só entram, por concurso público
ou seleção, professores que tenham, no mínimo, o
doutoramento concluído.
Nos processos de seleção ou de promoção, são
analisados também o currículo do candidato e sua capacidade
didática. Além disso, os pesquisadores que estão
em Regime de Dedicação Integral à Docência
e à Pesquisa (RDIDP) têm seu trabalho avaliado a cada três
anos por uma comissão integrada por professores de todas as áreas
do conhecimento.
Já a Capes, quando avalia a instituição, pede a cada
pesquisador que indique suas citações. Mas o resultado individual
não importa.
A Capes trabalha institucionalmente. Quero que as instituições
de pesquisa tenham como um todo maior titulação e melhores
condições de desempenhar o seu papel, diz Loureiro,
que é professor licenciado do Departamento de Engenharia Química
da Escola Politécnica da USP. Ele afirma também que a Capes
também se preocupa com atividade do pesquisador como orientador
de alunos de pós-graduação.
Para nós também conta muito quantos alunos de
pós a instituição tem por professor, em quanto tempo
eles conseguem defender a tese. Existem pesquisadores com uma grande produção,
mas que não formam quase ninguém.
O biólogo molecular Fernando Reinach, 42, com uma experiência
de seis anos na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo) e sete meses no CNPq, criticou a lista
da Folha. Segundo ele, esse índice marginaliza os cientistas
mais jovens, porque reflete a importância acumulada dos trabalhos
publicados.
Se eu fosse dar as bolsas só por esse índice,
nenhum pesquisador promissor a ganharia, porque não teria tempo
de carreira suficiente para acumular citações.
Na outra ponta, os mais idosos só perderiam suas bolsas na aposentadoria,
abrindo então vaga para um cientista de meia idade.
O que eu quero é não perder o jovem cientista
que vai ser muito bom, disse Reinach. No mínimo
tem que se ponderar esse índice pelo tempo de carreira ou pela
idade. Por isso, e porque até pouco tempo atrás era difícil
aos pesquisadores levantarem o número de citações
de um colega, ele quase nunca se preocupou com o índice de citações
enquanto esteve no CNPq.
Na minha época se usava a avaliação por
pares. Enviávamos o processo para dois pesquisadores que deveriam
atuar o mais próximo possível da área dele, mas não
tinha conflito de interesse. Cada um emitia um parecer, e ambos eram enviados
ao comitê de assessoramento, que classificava os candidatos.
Os três, no entanto, mostraram discordância sobre como a lista
deve ser feita.
Chaimovich sugeriu que sejam separadas aquelas em que no endereço
tenha pelo menos um endereço brasileiro daquelas que
foram totalmente feitas no exterior, o que serviria para identificar a
pesquisa feita no país.
Nunca pensei sobre isso. Mas acho que o conceito de ciência
brasileira pode ficar fragilizado se levado a extremos. Na astronomia,
por exemplo, grande parte dos estudos usam imagens captadas por observatórios
de instituições estrangeiras, ponderou.
Alguns pesquisadores ouvidos pela Folha defenderam a separação
porque julgam que as pesquisas feitas nos EUA e Europa são, em
média, mais citadas.
Isso não é verdade. Imagino que seja um dos
15 primeiros da lista da Folha na minha área e não
trabalho no exterior há uns 150 anos, exagerou Chaimovich.
Chaimovich discordou até da posição de que o número
de citações é mais significativo do que o número
de trabalhos. Isso depende da área específica
que se estuda. Numa área muito dinâmica, com muita gente
trabalhando, as citações são mais importantes. Mas
numa outra área, menos dinâmica, o número de trabalhos
é um indicador mais confiável.
Reinach não deu importância à discussão sobre
os critérios. As listas de citações são
boas para o ego das pessoas que estão em cima. Querer aparecer
no topo dessa lista no Brasil é uma briguinha entre a classe média
mundial.
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