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Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Lógica do baixo clero ainda dita as regras da política nacional

Severino simbolizou preconceito e fisiologismo que se consagraram em Brasília

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Ao encerrar seu discurso de renúncia, em setembro de 2005, Severino Cavalcanti disse que esperava ser julgado pelo povo. Ameaçado de cassação, o então presidente da Câmara negou as acusações de que recebia um “mensalinho” para autorizar o funcionamento de um restaurante na Casa e anunciou: “Voltarei”.

Severino tentou retornar ao cargo no ano seguinte, mas não conseguiu se eleger. A trajetória do pernambucano, que morreu nesta quarta (15), ainda descreve algumas das relações políticas que dominam o país.

Na disputa que o levou ao comando da Câmara, Severino ganhou o apelido de “rei do baixo clero”. Ele prometia aos deputados aumento de salários e mais dinheiro para que eles exercessem seus mandatos.

A candidatura ganhou corpo num lance casado entre a oposição ao governo Lula e os partidos que hoje compõem o centrão, num consórcio para derrotar o candidato do PT. Um dos entusiastas dessa jogada era o então deputado Jair Bolsonaro.

“Parabéns ao presidente Severino Cavalcanti, por quem tive o prazer e a honra de lutar incessantemente como soldado para que atingisse essa vitória”, disse Bolsonaro, 13 anos antes de emergir daquele baixo clero.

Jair Bolsonaro e deputados comemoram eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para o comando da Câmara, em 2005 - Sérgio Lima - 15.fev.2005/Folhapress

O pernambucano venceu os petistas, mas sentou-se à mesa com o governo pouco depois. Ele se reuniu com Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia, e disse que Lula havia oferecido a ele uma indicação para “aquela diretoria que fura poço e acha petróleo” na Petrobras.

Os 217 dias de sua gestão foram marcados pelo fisiologismo desabrido e por declarações preconceituosas. Defendia a contratação de parentes nos gabinetes da Câmara e dizia que a união civil de pessoas do mesmo sexo era absurda.

Severino renunciou depois que um empresário afirmou que pagava ao presidente R$ 10 mil por mês pela prorrogação do contrato de um restaurante da Câmara. Na saída, o deputado disse ser vítima de perseguição por tentar acabar com os “privilégios de poucos”. Quinze anos depois, ainda há Severinos em Brasília.

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