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Irmãos Dardenne repetem em Cannes voyeurismo elitista com imigrantes

'Tori et Lokita' repete fórmula que consagrou os diretores belgas, desta vez, em drama de africanos sem pátria

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Cannes (França)

Os irmãos belgas Luc Dardenne e Jean-Pierre Dardenne voltaram à Riviera Francesa pela nona vez para apresentar "Tori et Lokita", nesta terça-feira. O filme concorre à Palma de Ouro seguindo as mesmas fórmulas que os levaram a Cannes em anos anteriores, como em "A Criança" e "Rosetta". Ambos renderam à dupla o maior prêmio do festival e coroam a lista de diversos troféus que eles já receberam no evento francês.

Mais uma vez, há um drama familiar misturado a uma denúncia social, fusão que marca a trajetória dos Dardenne.

Cena do filme 'Tori et Lokita', dos irmãos Dardenne, que integra a mostra competitiva do Festival de Cannes de 2022 - Divulgação

Em "Tori et Lokita", os personagens do título são irmãos que imigraram para a Bélgica —o pequeno conseguiu um visto permanente porque era perseguido em seu país natal, enquanto a mais velha fracassa ao tentar fixar residência ali.

Os problemas que eles enfrentam partem daí, de uma óbvia observação de que a sociedade belga —quer dizer, a Europa— não está pronta para receber e integrar estrangeiros.

Daí, uma série de desgraças recai sobre os irmãos. Eles têm de recorrer à venda drogas para um chef de cozinha mau caráter para conseguir dinheiro. Lokita precisa dividir o pouco que ganha com a mãe, que ficou na África e a repreende sempre que possível, e com o homem que a levou clandestinamente para a Bélgica. Para lidar com as supostas dívidas, faz sexo oral no mesmo chef que a subemprega.

A África referida acima, por mais ampla que seja, é a única dica das origens dos irmãos. Não há menção ao país, nem no filme, nem na sinopse. O fato já evidencia bem o grande problema de "Tori et Lokita", incapaz de tirar os protagonistas da unidimensionalidade.

Eles são refugiados ou imigrantes que sofrem. E só. Lokita é jovem, mas não parece ter personalidade, gostos ou sonhos. Tori, igualmente, teve de crescer cedo por causa de sua situação, mas não brinca ou pede muita coisa.

São os Dardenne apresentando, de novo, uma visão limitada e voyeurista de problemas sociais que não atingem diretamente os europeus brancos de classe média para cima.

Deve agradar a alguns deles —era o que já indicavam os sotaques britânicos e o francês que elogiavam a trajetória dos Dardenne após uma sessão de imprensa. Mas "Tori et Lokita" não tem muito de novo a ser dito, situação que não é contornada por personagens ricos ou aprofundados.

A dupla de irmãos africanos sofre, sofre e sofre e não chega a lugar nenhum, enquanto a dupla de irmãos belgas os filmam, filmam e filmam e chegam cada vez mais longe.

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