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Taleban amplia controle no Afeganistão e toma posto de fronteira com Paquistão

Grupo avança rapidamente enquanto tropas americanas deixam o país

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Cabul, Washington e Duchambe (Tadjiquistão) | Reuters e AFP

Enquanto os EUA retiram suas tropas, o Taleban assumiu nesta quarta-feira (14) o controle de um importante ponto na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, uma de suas maiores conquistas até o momento no rápido avanço do grupo para retomar o poder no país.

Um vídeo divulgado por insurgentes mostrava sua bandeira branca, com um verso do Alcorão em preto, no lugar do estandarte afegão acima do Portão da Amizade, na fronteira entre a cidade de Wesh, no Afeganistão, e de Chaman, no Paquistão.

Pessoas que ficaram retidas na fronteira após tomada do Taleban se reúnem enquanto tropas paquistanesas montam guarda na cidade de Chaman - Banaras Khan/AFP

“Após duas décadas de brutalidade de americanos e seus fantoches, esse portão e o distrito Spin Boldak foram capturados pelo Taleban”, diz à câmera um combatente da facção islâmica radical.

“A forte resistência dos ‘mujahidin’ [guerreiros santos] e de seu povo forçaram o inimigo a deixar essa área. Como podem ver, essa é a bandeira do Emirado Islâmico, a bandeira que milhares de ‘mujahidin’ derramaram seu sangue para erguer.”

Autoridades afegãs, porém, negam que tenham perdido o controle do posto de fronteira. Segundo o porta-voz do Ministério do Interior, Tariq Arian, as forças de segurança repeliram um ataque dos talebans.

Vários moradores locais, por outro lado, relataram uma forte presença de insurgentes em Wesh, principalmente em prédios oficiais e na estrada que liga o distrito de Spin Boldak a Kandahar, capital da província de mesmo nome e principal cidade do sul do Afeganistão.

“Quando fui para minha loja essa manhã, vi talebans por toda parte”, contou Raz Mohammad, um vendedor que trabalha perto da fronteira, à agência de notícias AFP. “Estão no mercado, no quartel da polícia e na alfândega. É possível ouvir os combates.”

Reprodução de vídeo mostra fronteira entre Afeganistão e Paquistão, onde se vê bandeira do Emirado Islâmico (branca, com escritos do Alcorão em preto) instalada no Portão da Amizade, após tomada do Taleban - Taleban via Reuters

Autoridades paquistanesas em Chaman confirmaram a tomada do posto de fronteira e disseram que o Taleban suspendeu qualquer passagem pelo portão. Feda Mohammad, um motorista de ônibus, relatou à AFP que foi parado pelos combatentes na estrada principal que conecta Kandahar com o Paquistão. “Eles me pararam e me forçaram a dar meia-volta. Eles patrulham a rodovia Kandahar-Spin Boldak”, completou.

Essa passagem da fronteira é o segundo ponto de entrada mais movimentado do país e a principal via comercial entre a região sudoeste e os portos do Paquistão. Segundo o governo afegão, cerca de 900 caminhões trafegam nessa rota por dia.

O Taleban também assumiu o controle de outros importantes postos de fronteira, nas províncias de Herat, Farah e Kunduz, no norte e oeste do país. O comando desses locais permite arrecadar receitas, afirmou Shafiqullah Attai, presidente da Câmara de Comércio e Investimento do Afeganistão.

Desde maio, o grupo tem empreendido uma campanha para expandir sua influência após o anúncio de que as tropas americanas, depois de duas décadas, deixariam o país. Os insurgentes islâmicos comandaram o país de 1996 até serem expulsos do poder em 2001, quando os EUA invadiram o país após os ataques de 11 de Setembro. Desde então, eles têm lutado para derrubar o governo de Cabul.

Ainda na gestão de Donald Trump, os EUA se comprometeram a retirar suas tropas em um acordo de paz assinado com o grupo. O atual presidente americano, Joe Biden, determinou o dia 31 de agosto como o prazo para essa saída, e militares deixaram sua principal base no Afeganistão há duas semanas.

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Com a saída, o Taleban ampliou os esforços para tomar cidades e capturar territórios, muitas vezes obrigando com violência cidadãos a se renderem. Um desses casos foi relatado pela emissora americana CNN, que citou uma gravação em que insurgentes mataram mais de dez membros das Forças Especiais do Afeganistão em junho, na cidade de Dawlat Abad, na província de Faryab, perto da fronteira com o Turcomenistão. O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse nesta quarta que não havia motivo para duvidar da autenticidade das imagens e chamou a ação de “atroz”.

Em meio ao avanço, o presidente afegão, Ashraf Ghani, viajou à província de Balkh, nesta terça (13), para avaliar a segurança da região após o Taleban expulsar forças do governo de diversos distritos. Ele se encontrou com civis e garantiu que “a espinha dorsal do Taleban será quebrada” e que as forças do governo logo retomarão as áreas perdidas para os insurgentes, segundo informações da rede Tolo News.

Em outra frente, o vice-presidente Amrullah Saleh relatou que o Taleban tem forçado membros de uma minoria étnica a se converterem ao islã ou deixarem suas casas na província de Badakhshan, no norte do país. “Eles são da minoria Kerghiz, que vivem lá há séculos. Eles estão agora [do outro lado da fronteira com o] Tadjiquistão, aguardando seu destino”, escreveu no Twitter.

Segundo uma agência de notícias tadjique, que cita agentes de fronteira, 347 afegãos fugiram para o país vizinho. O grupo seria composto por 113 meninas, 64 meninos, 91 homens e 77 mulheres, alguns com seus rebanhos de animais. A agência fala ainda que dois bebês morreram na travessia.

Na última sexta (9), o governo russo afirmou que os talebans controlavam quase dois terços da fronteira do Afeganistão com o Tadjiquistão. Aliados na Organização do Tratado de Segurança Coletiva, a Rússia garantiu que protegerá o país da Ásia central, onde mantém duas bases com 7.500 homens. O presidente tadjique, Emomali Rakhmon, por sua vez, ordenou a mobilização de 20 mil reservistas na fronteira.

O avanço taleban ocorre ainda em meio a denúncias de abusos, segundo a missão da ONU no Afeganistão. “Os relatos de assassinatos, maus-tratos, perseguição e discriminação são generalizados e perturbadores, gerando medo e insegurança”, alertou a missão, em comunicado.

Afegãos escolarizados —especialmente mulheres e meninas banidas de escolas e de trabalhos sob o governo taleban—, bem como minorias étnicas perseguidas devido a uma interpretação rígida do islã sunita, também expressaram alarme com o rápido avanço do grupo. Os porta-vozes do Taleban rejeitaram as acusações de abusos e disseram que mulheres não serão maltratadas se o grupo retomar o poder.

O temor se espalha também entre ex-funcionários que colaboraram com o governo americano durante a invasão e que, com a saída das tropas, ficam à mercê da facção. A crise deixou a gestão Biden sob forte pressão de legisladores de ambos os partidos e grupos de defesa dos EUA para evacuar essas pessoas.

Autoridades americanas disseram à agência de notícias Reuters, sob condição de anonimato, que os EUA vão enviar voos fretados no fim deste mês para tirar do país cerca de 2.500 afegãos que trabalharam como intérpretes, em ação batizada de Operação Refúgio dos Aliados.

Nesta terça, a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que a decisão se deve ao reconhecimento do papel desses colaboradores nos últimos anos. Segundo ela, os números específicos de quantos seriam contemplados nos primeiros voos eram confidenciais por razões de segurança.

No fim de junho, havia 18 mil casos abertos de ex-funcionários afegãos, incluindo tradutores, que esperam o governo americano cumprir a promessa e recompensá-los por arriscar a vida pelo invasor do seu país.

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