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Morte de presidente bagunça sucessão do líder supremo no Irã

Raisi era favorito da linha dura para o lugar de Khamenei, e atenção se volta agora para filho do aiatolá; reação nas ruas e causa da queda são fatores de incerteza

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São Paulo

A trágica morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, bagunça ainda mais o obscuro processo de sucessão do líder supremo da república islâmica, o aiatolá Ali Khamenei. A provável manutenção da linha dura adotada nos últimos anos tende a ser fonte de mais instabilidade social.

Raisi, 63, era visto por observadores como um dos principais candidatos a suceder Khamenei, no poder desde a morte do fundador da república islâmica, Ruhollah Khomeini, em 1989. Na estrutura teocrática do país, o líder supremo é um religioso que flutua acima das instituições.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, fala a membros da Guarda Revolucionária em Teerã - Khamenei.ir - 19.mai.2024/AFP

Ainda assim, o presidente é uma figura bastante importante, e o cargo ganhou peso com a chegada de Raisi ao poder, em uma eleição com baixíssimo comparecimento popular em 2021. Genro de Ahmad Alaol-Hoda, um clérigo ultraconservador de Mashhad, a segunda maior cidade iraniana, ele galgou os degraus na política esposando credenciais antirreformistas claras.

No fim dos anos 1980, era um dos responsáveis por ditar a execução dos rivais do regime no momento em que Khomeini definhava e a sua sucessão era incerta. Raisi se alinhou a Khamenei e chegou a chefe do Poder Judiciário, famoso por sua inflexibilidade.

Presidente, Raisi abriu mais espaço para a poderosa Guarda Revolucionária, que havia perdido seu farol, o general Qassim Suleimani, assassinado pelos Estados Unidos em um ataque com drone contra o aeroporto de Bagdá, em 2020.

Apertando o torniquete social, viu surgirem movimentos contra seu governo. Ao mesmo tempo, enfileirou desafios externos: retomou com força o programa nuclear do país, promoveu o primeiro ataque direto a Israel em sua história e chegou a bombardear inimigos no vizinho Paquistão.

A guerra em Gaza, por outro lado, mostrou os limites do poderio desestabilizador de Teerã, apesar da tensão máxima com Israel. O temor de um conflito com os EUA, sempre presente, manteve o regime relativamente contido.

O pacote credenciou, de todo modo, Raisi ao poder. Tudo relativo à política do país é bastante opaco, mas há meses circulam boatos de que Khamenei, 85, está enfrentando problemas de saúde —ele já teve câncer de próstata. O pouco que emergiu na mídia do país aponta que o líder indicou um conselho de três integrantes da Assembleia dos Peritos, órgão que elege o novo chefe supremo, para buscar nomes para a sucessão.

Além dos clérigos Rahim Tavakol e Hassan Ameli, Raisi fazia parte do grupo. Com sua morte, os olhos se voltam para Mojtaba Khamenei, filho do líder supremo, um clérigo pouco conhecido de 54 anos que trabalha à sombra do pai.

Como a Constituição do Irã não permite que o líder indique o sucessor, contudo, é incerto se o laço de sangue prevalecerá na avaliação. A Assembleia de Peritos é toda alinhada a Khamenei —seus 88 membros são eleitos pelo voto popular para um mandato de oito anos, mas todos os candidatos têm de ser aprovados pelo Conselho de Guardiões da Revolução, que opera sob o comando do líder.

O fato de Mojtaba ser bastante afastado da vida pública, por outro lado, pode fazê-lo um candidato ideal caso a Guarda Revolucionária esteja interessada em ter um preposto no comando do país. Alvo de protestos recentes, sua ação na repressão a atos em 2009 sugere afinação com a linha dura.

Há dois fatores de incerteza. Um é especulativo: se as investigações da morte de Raisi sugerirem algo além de um acidente por imperícia ou problema mecânico, abrindo espaço para apontar o dedo contra Israel ou algum grupo rival.

Outro é a rua. De tempos em tempos, insatisfações com o regime explodem. Em 2022, a morte da jovem Masha Amini, 22, após ser presa por não usar o véu islâmico de forma considerada correta pela polícia da moralidade, disparou os maiores atos em anos no país e alimenta tensões até agora.

Uma expansão do poder da linha dura, algo que já poderá ser medido nas próximas eleições presidenciais marcadas para 28 de junho, poderá gerar uma nova onda de manifestações em um momento de altíssima exposição do regime e de suas políticas no exterior.

Isso afeta cálculos de rivais, EUA e Israel à frente, e dos aliados, Rússia e China principalmente. Até a posição do Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que sempre se recusou a condenar os excessos de Teerã e mantém boa relação com a teocracia, será escrutinada.

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