Era Outra Vez

Literatura infantojuvenil e outras histórias

Era Outra Vez - Bruno Molinero
Bruno Molinero
Descrição de chapéu Livros

No Dia do Livro Infantil, conheça 5 obras esquecidas de Monteiro Lobato

Data comemorada nesta terça, 18 de abril, homenageia o nascimento do criador do Sítio do Picapau Amarelo

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São Paulo

Foi em 18 de abril de 1882 que em Taubaté, no interior paulista, nasceu José Renato Monteiro Lobato. O garoto depois pediria para ser chamado de José Bento por causa do pai, mas seria mesmo com os dois últimos nomes que iria se tornar um dos escritores mais importantes da literatura brasileira, seja por revolucionar nossos livros infantojuvenis, seja por ser alvo hoje de discussões sobre o racismo em sua obra.

O fato é que é impossível falar de livros para crianças e jovens no Brasil sem passar por Lobato. Não à toa é comemorado nesta terça o Dia Nacional do Livro Infantil, celebrado em 18 de abril, em homenagem ao seu nascimento.

Charge de Monteiro Lobato feita por Belmonte, que ilustrou muitas edições do Sítio do Picapau Amarelo - Belmonte/Álbum Família Lobato/Divulgação

Aqui vale um parêntese, porque este mês é importante para a literatura infantojuvenil não só por aqui, mas no mundo todo. O dia 2 de abril foi escolhido como o Dia Internacional do Livro Infantil também por causa do nascimento de um autor, o dinamarquês Hans Christian Andersen, que publicou contos universais como "A Pequena Sereia", "O Patinho Feio" e tantos outros.

No caso de Lobato, não é difícil identificar seus clássicos, como "Reinações de Narizinho", "Caçadas de Pedrinho", "O Saci" ou "Memórias da Emília". Mesmo livros que não fazem parte desse primeiro time de histórias costumam compor um repertório comum da infância brasileira e não são desconhecidos. Certamente muitos já ouviram falar de "O Poço do Visconde", "A Chave do Tamanho" ou "A Reforma da Natureza", por exemplo.

Diversos desses títulos tiveram reedições recentes, impressas por dezenas de editoras que surfaram no fato de a obra de Lobato ter entrado em domínio público em 2019, após 70 anos de sua morte. Mas o que foi relançado representa sobretudo o filé, ou seja, aquelas histórias com maior potencial de vendas, reconhecimento e aceitação.

Sua obra infantojuvenil, porém, é extensa e conta com títulos ainda pouco conhecidos e debatidos, que não surfaram na onda lobatiana de anos atrás. São os casos dos cinco livros abaixo. A parte boa é que todos podem ser encontrados nas livrarias, principalmente em edições da Globinho, que detinha os direitos antes do domínio público e publicou toda a produção de Lobato para crianças e jovens.

Conheça abaixo histórias pouco lembradas de Monteiro Lobato.

O Garimpeiro do Rio das Garças (1924)

Este livro não se passa no conhecido universo do Sítio do Picapau Amarelo e, talvez por isso, seja pouco lembrado. Contemporâneo de clássicos de Lobato, ele foi lançado pouco depois de "A Menina do Nariz Arrebitado", de 1920, e de "O Saci", de 1921, e no mesmo ano de "Jeca Tatuzinho".

Após criar a famosa Narizinho, Lobato apresenta aqui outro personagem, digamos, nasal: João Nariz. Homem pobre como Jeca Tatu, ele decide enriquecer e mudar de vida ao buscar diamantes no rio que aparece no título e fica no Mato Grosso. Para isso, usa o nariz como ferramenta para farejar pedras preciosas e encontra uma do tamanho de um ovo de galinha. O problema é que surgem dois "ferozes cangaceiros" que tentam roubá-lo —um deles, aliás, se chama Lamparina, em referência a Lampião, que aterrorizava os sertões com seu bando naqueles anos 1920.

Aquarela de Monteiro Lobato representando o personagem Jeca Tatu, que integra acervo do escritor doado à Unicamp.
Aquarela de Monteiro Lobato representando o personagem Jeca Tatu, que integra acervo do escritor doado à Unicamp. - Acervo Monteiro Lobato/Divulgação

Peter Pan (1930)

Lobato utiliza neste livro uma maneira de contar histórias que reaparece em outras obras da turma do Sítio, como "Hans Staden", de 1927, e "Dom Quixote das Crianças", de 1936. Com o título original um tanto mais comprido, "Peter Pan, História do Menino que Não Queria Crescer, contada por Dona Benta", é fácil entender a estrutura. É a avó das crianças que apresenta as aventuras de Peter Pan e Wendy para Narizinho, Pedrinho e Emília.

Na prática, o escritor usa a figura culta de Dona Benta para fazer uma adaptação indireta do texto original e colocar uma história dentro de outra história. Assim, numa época em que o acesso a livros de outros países não era trivial, ele aproximou a Terra do Nunca do Sítio do Picapau Amarelo e do repertório das crianças brasileiras.


Viagem ao Céu (1932)

Embora não totalmente desconhecida, esta aventura do Sítio não costuma aparecer entre as mais lembradas —o que é uma pena, porque ela leva as personagens numa viagem espacial que passa por lugares como Lua, Marte e Saturno, incluindo uma cavalgada num cometa. Tudo isso nos anos 1930, quase 40 anos antes de o homem pisar na Lua pela primeira vez.

Lobato, apesar de não ser cientista, apresenta no texto bom conhecimento da astronomia da época e também dos principais livros de ficção científica, como os de Júlio Verne. Mas é claro que ele usa tudo isso no campo da ficção e da infância. Na Lua, por exemplo, Emília e a turma conversam com São Jorge. A boneca, aliás, vê também extraterrestres em Marte e Saturno, além de um anjinho que vive nos céus.


História do Mundo para Crianças (1933)

Adaptação de "A Child’s History of the World", de Virgil Mores Hillyer, este livro foi um sucesso e alcançou tiragem de quase 100 mil exemplares ao longo dos anos. Sentindo que existia aí um caminho, Lobato deu início a partir dele a uma coleção de títulos menos literários e mais didáticos, muitos dos quais inspirados em edições americanas, já que o autor havia passado pelos Estados Unidos anos antes.

No caso desta história, é Dona Benta quem mais uma vez comanda a narrativa e faz um resumo de diversos fatos da humanidade. Ela passa pela independência dos países da América Latina, pelas Cruzadas, pela vida de Jesus Cristo e até pela Segunda Guerra Mundial, que foi acrescida ao livro em edições posteriores. Se a estrutura é enciclopédica e educacional, isso é atenuado pelos comentários das personagens, que instigam a reflexão da criança com a típica ironia do Sítio.


História das Invenções (1935)

É mais um dos livros informativos de sucesso, filão que conta ainda com "Emília no País da Gramática", "Aritmética de Emília" e "Geografia de Dona Benta", por exemplo. Como Lobato percebeu que o verdadeiro motor de venda de livros no Brasil é a escola, o que continua até hoje, ele passou a apostar com força nesse universo.

O título é a adaptação de "The Story of Inventions: Man, the Miracle Maker", de Hendrik Willem Van Loon, e segue a mesma fórmula das obras anteriores, com Dona Benta apresentando diferentes exemplos de como o homem transformou a natureza ao longo dos séculos e criou as mais improváveis e úteis ferramentas. O ponto alto, como sempre, são as perguntas e os contrapontos dos personagens do Sítio.

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