Quem entrar numa livraria nos próximos dias vai encontrar uma novidade nas prateleiras para crianças. Não são apenas livros novos, mas uma editora nova. A Nós acaba de lançar o seu selo de infantis, chamado PequeNós.
O projeto não é bem uma surpresa e já havia sido divulgado há um ano, em abril de 2022. Mas é só agora que ele sai do forno e chega aos leitores, após reorganizações para cumprir cronogramas de editais de compra governamental que adquiriram os primeiros títulos do novo selo.
São eles "Vovó Virou Semente", de Rodrigo Ciríaco e Priwi; "Sarauzim", uma antologia organizada também por Ciríaco, mas com ilustrações de Isabela Santos; "De Galo em Galo", de Paulo Netho e Ana Lasevicius; e as novas edições de "O Menino, o Assovio e a Encruzilhada", de Afonso Borges e Alexandre Rampazo, e "A Avó Adormecida", do italiano Roberto Parmeggiani e do português João Vaz de Carvalho, que migram para a editora. Eles estão em pré-venda e custam de R$ 50 a R$ 66.
"Quando eu criei a Nós, desenhei um projeto de literatura brasileira contemporânea e de literatura infantojuvenil contemporânea", conta Simone Paulino, editora e fundadora da casa. "Tanto que nosso primeiro Jabuti foi com um infantil", continua ela, referindo-se a "A Divina Jogada", de José Santos e Eloar Guazzelli, que ficou em terceiro lugar na categoria infantil de 2016.
Embora "A Divina Jogada" não esteja mais no catálogo, os outros infantojuvenis da Nós ganharão novas edições e estarão sob o guarda-chuva PequeNós —são os casos de "Zumbi Assombra Quem?", de Allan da Rosa e Edson Ikê, e de "O Mundo de Arturo", da mesma dupla Parmeggiani e Vaz de Carvalho, por exemplo.
Segundo Paulino, o catálogo era para ser até maior. "Era a ideia, mas veio esse grande tsunami na vida brasileira, primeiro o governo Bolsonaro e depois a pandemia. Tinha vários projetos, mas segurei todos, porque fazer livro infantil é muito caro. É o dobro do investimento para produzir um livro normal."
O fio condutor do novo selo pode ser visto na diferença entre os dois livros recém-lançados que têm avós nos títulos.
"Vovó Virou Semente" brota da pandemia e apresenta a relação entre a matriarca e sua neta, que se separam por causa do coronavírus e são ilustradas a partir de certo ponto com máscaras. Como a avó trabalha como empregada doméstica, porém, ela continua saindo de casa —e a partir daí aparece o luto, a ausência e os buracos que muitas famílias tiveram que enfrentar.
Já "A Avó Adormecida" também trabalha com a falta, mas apresenta um neto cuja avó dorme o dia inteiro, faz tempo. Antes disso, ela vinha tendo comportamentos estranhos, como colher flores para fazer bolo e dizer que tinha vontade de ir à Lua. Até que ela parte para uma viagem sem volta. Ao contrário de "Vovó Virou Semente", aqui não há ônibus, bolinhos de chuva e jardins. A leveza é construída a partir de príncipes encantados, pipas e limonadas.
De um lado, está uma típica periferia brasileira. De outro, o flerte com contos de fadas, num registro mais europeu. "Esses dois mundos já mostram um pouco da ideia. Queremos dialogar com os clássicos e produzir livros ilustrados altamente sofisticados, mas sem deixar de olhar a produção brasileira. É o equilíbrio entre a avó italiana e a avó da periferia que morre de coronavírus", conta Paulino.
No segundo semestre deverão ser lançados mais duas obras. Um infantil de Marcia Tiburi, "Marina e os Monstros", e um de Virginia Woolf, "A Viúva e o Papagaio". Com planos de ter seis novos títulos por ano, o selo publicará mais para frente outra edição de Woolf, "A Cortina da Tia Bá", e um de Valter Hugo Mãe, ainda com nome não divulgado.
"A ideia é convocar alguns autores da Nós que nunca escreveram para crianças para entrar nessa aventura também", afirma Paulino —lembrando que a editora recebeu o Jabuti de melhor livro do ano em 2022 por "Também Guardamos Pedras Aqui", com poemas de Luiza Romão, e lançou romances premiados, caso de "O Peso do Pássaro Morto", de Aline Bei.
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