Se oficialmente ainda estamos entre o inverno e a primavera, a sensação é de que o mundo plantou bananeira e nos jogou no meio do verão. E um verão daqueles. Temperaturas acima dos 35°C e até dos 40°C não são vistas apenas nos termômetros, mas também no suor que escorre, na sede invencível, nos ventiladores e aparelhos de ar-condicionado sempre ligados, nas filas das sorveterias, nos banhos gelados.
Enquanto o calor não dá uma trégua, o importante é primeiro tentar se refrescar e se manter hidratado. Depois disso, dois novos livros ilustrados podem ajudar a diminuir ainda mais as temperaturas —mesmo que apenas literariamente.
Curiosamente, ambos são de autoras da Coreia do Sul. "Picolé de Lua" foi lançado por Heena Baek, artista que venceu em 2020 o prêmio Alma, sigla do Astrid Lindgren Memorial Award, um dos mais importantes do mundo para a literatura infantojuvenil. Baek ficou conhecida pelo impacto de suas imagens, criadas com bonecos, maquetes e objetos reais que depois são fotografados e lembram cenários de filmes de animação (o blog falou recentemente sobre um de seus títulos, é só clicar aqui).
Para "Picolé de Lua", ela construiu um prédio quase do tamanho de uma pessoa. É esse edifício que ajuda a contar a história de um dia de calor intenso, como esses últimos que o Brasil tem enfrentado. "Estava tão, mas tão quente que ninguém conseguia fazer nada, nem mesmo dormir", diz o texto.
Até que surge um barulho. E a síndica do prédio percebe que, sabe-se lá como, a Lua estava derretendo e pingando. Como qualquer pessoa no lugar dela, a personagem logo busca uma bacia para recolher o satélite que escorre e se derrama pelo chão.
O calor só ganha um refresco no momento em que a síndica decide fazer picolés com a Lua líquida. Tudo isso se desenrola no universo mágico criado por Baek, que ora põe o leitor dentro do ambiente abafado da história, ora instiga a curiosidade de quem lê com as diferenças de estilo e de decoração de cada um dos apartamentos.
Já a também sul-coreana JiHyeon Lee optou por uma saída visual completamente diferente em "Piscina", seu primeiro livro ilustrado.
Sem palavras, a obra é construída com uma estética de lápis de cor e acompanha um menino que está prestes a entrar na tal piscina do título. Mas rapidamente surge um grupo. Uma turma gigante. Dezenas de pessoas com maiôs, sungas, boias, toucas, brinquedos infláveis e todo tipo de parafernália aquática —exatamente como costuma ocorrer nestes dias de calor em qualquer praia ou piscina.
Sem espaço na superfície, que fica lotada, só resta ao garoto mergulhar. No fundo, ele se depara com corais vibrantes, baleias, cardumes colossais, peixes com dentes afiados e outras criaturas das profundezas. Mas, mais do que isso, ele encontra uma menina. Alguém que, assim como ele, também é nadadora das profundezas e amante das cores e do silêncio.
Com uma metáfora visual poderosa, assistimos ao menino-personagem entrar na piscina ilustrado numa paleta apenas de preto e branco, mas sair de lá colorido, acompanhado da nova amiga.
É uma jornada que fala de amizade, diferenças, descoberta de si mesmo, mergulho nos sentimentos mais profundos, busca pela própria identidade, coragem de ir atrás do que se deseja, força para ir contra a maré. Mas, sem correr o risco de ser raso como os baderneiros que boiam na superfície da piscina, é possível também dizer nestes dias quentes que o garoto sai um pouco mais colorido da água por ter se refrescado e fugido do calor. Ninguém aguenta ser colorido com 40ºC.
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