O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não foi à China com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que adiou a ida ao país asiático após um diagnóstico de pneumonia, mas tem abordado temas caros à sua agenda durante um périplo pela Europa, que se encerra na próxima sexta (7).
João Paulo Rodrigues, coordenador nacional do movimento, já passou por Inglaterra, Espanha, França e Suíça. No domingo (2), aportou em Berlim, na Alemanha. O dirigente tem se reunido com lideranças políticas associadas à esquerda e discutido temas como cooperação internacional, propostas para um novo modelo agrícola baseado na reforma agrária, agroindustrialização e mudanças climáticas.
Em Londres, Rodrigues teve um encontro de cerca de uma hora e meia com o trabalhista britânico Jeremy Corbyn. "Foi maravilhoso. Ele continua sendo uma referência na Inglaterra, mesmo que o Partido Trabalhista não tenha dado a ele a oportunidade de ser candidato a deputado", diz à coluna. "Ele queria muito saber sobre o MST, Lula e a extrema-direita [no Brasil]. Disse que ficou preocupado com a votação [apertada] no segundo turno [das eleições de 2022]", segue.
Durante a sua passagem pela capital inglesa, o coordenador do MST ainda participou, como palestrante, de um seminário sobre crise climática e soberania alimentar, promovido pela organização Justiça Global, e visitou o túmulo de Karl Marx, no cemitério Highgate.
A visita foi compartilhada por Rodrigues em suas redes sociais. "Viemos visitar o túmulo do nosso querido Karl Marx para prestar as nossas homenagens. Vim aqui com a nossa bandeira do MST, que é o nosso símbolo maior. E não tenho dúvida que, mais do que nunca, precisamos dos pensamentos, da elaboração teórica e do todo o acúmulo sobre método que o Karl Marx elaborou para os dias de hoje", disse, em vídeo.
"Enfrentar essa crise do capital e organizar, se preparar para fazer as mudanças necessárias não só no Brasil, como no mundo, exige muito estudo, muita organização e muita luta. E o Karl Marx é uma referência para todos nós", afirmou ainda.
Em Madri, Rodrigues se reuniu com parlamentares do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), discutiu a chegada da Espanha à presidência da União Europeia (UE) no segundo semestre e falou sobre o acordo comercial entre o bloco e o Mercosul.
O tratado, que se arrasta há mais de 20 anos, foi assinado em junho de 2019, no governo de Jair Bolsonaro (PL), mas não chegou a ser ratificado por uma série de entraves, em especial os retrocessos do Brasil na agenda socioambiental. Em janeiro deste ano, durante visita do premiê alemão Olaf Scholz a Brasília, Lula disse esperar concluí-lo ainda em 2023.
"Queremos muito que o governo espanhol [quando estiver à frente da União Europeia] possa ouvir os movimentos sociais no acordo com o Mercosul. Senão os franceses engolem o Brasil", diz João Paulo Rodrigues.
De acordo com o dirigente, a França tem interesse em exportar para o país produtos agrícolas a preços atrativos, sem que haja uma contrapartida. "Nos interessa vender produtos agrícolas para a União Europeia em troca de tecnologia", afirma o coordenador do MST.
Em Paris, por sua vez, Rodrigues se reuniu com organizações de esquerda e movimentos sindicais para manifestar seu apoio aos protestos que estão sendo empreendidos contra a reforma da Previdência de Emmanuel Macron. Aproveitou, ainda, para se encontrar com o fotógrafo Sebastião Salgado.
Os dois conversaram sobre as comemorações dos 40 anos do MST, que ocorrerão em janeiro de 2024, e sobre uma proposta para plantar 100 milhões de árvores em escolas, cooperativas e centros de formação técnica do movimento, além de praças e avenidas, no período de dez anos.
Na mala, João Paulo Rodrigues levou chocolate, café, arroz orgânico, cachaça e outros produtos feitos pelo MST para presentear as pessoas com quem se encontraria durante a viagem. "O café e o chocolate foram um sucesso", afirma.
As incursões do MST pelo exterior ganharam grande projeção durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, quando suas lideranças denunciaram a violência ocorrida no massacre de Eldorado do Carajás (PA) e a lentidão do Estado para responsabilizar os culpados pelo assassinato de 19 sem-terra.
ESTATUETA
A atriz Renata Sorrah e o ator Alexandre Nero prestigiaram a cerimônia de entrega do 33º Prêmio Shell de Teatro, realizado no Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro, no dia 21. O crítico Evaristo Martins de Azevedo, que integra o corpo de jurados da premiação, esteve lá.
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH
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