Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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2022, o ano que não acabou para a China

Fim da Covid zero, novo mandato de Xi e tensões geopolíticas marcam o ano de Pequim

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Caso você tenha se perdido nas notícias sobre a China ao longo do ano, encarei o exercício, arriscado, de escolher os três destaques de 2022.

O líder chinês, Xi Jinping, em foto de múltipla exposição, discursa no Congresso do Partido Comunista, em Pequim - Noel Celis - 16.out.22/AFP

Dois mil e vinte e dois foi o ano em que a política de Covid zero sofreu uma reversão radical e repentina

Depois de três anos de fronteiras basicamente fechadas e de um esforço brutal para eliminar o vírus no território chinês, ficou evidente a fadiga da população com lockdowns rigorosos, testes em massa e aplicativos rastreando deslocamentos. Sem precisar dizer muito, manifestantes foram às ruas com folhas de papel em branco, nos chamados protestos do A4.

A política mudou 180 graus e, agora, a China experimenta um tsunami de casos, com enorme impacto social. Ao mesmo tempo, com o fim da Covid zero, melhoram as perspectivas para o PIB em 2023, ainda que a economia deva piorar antes de começar a melhorar.

Dois mil e vinte e dois foi o ano em que Xi Jinping foi reconduzido para um terceiro mandato

Algo esperado, mas ainda assim sem precedentes desde o fim da era Mao. Para além de assegurar a perpetuação de Xi no poder, o Congresso do Partido Comunista sinalizou que, nos próximos cinco anos, autossuficiência tecnológica e segurança nacional estarão no topo das prioridades.

Há vários candidatos a um terceiro destaque. Este foi o ano em que segurança energética fez Pequim investir pesado no carvão, apesar do discurso pró-descarbonização. Foi o ano em que ficou evidente uma nova trajetória de crescimento econômico, menor do que no passado. Foi o ano em que a China concluiu a construção da própria estação espacial, emblemática tanto das ambições quanto da capacidade do país.

Dois mil e vinte e dois foi o ano em que se consolidou uma nova realidade geopolítica para a China

Esse é o meu terceiro destaque. A tendência já estava em curso, mas episódios deste ano confirmam e aceleram a mudança dos tempos.

A começar, a relação China-Rússia atingiu novo patamar, em meio à Guerra da Ucrânia. O esforço do Ocidente em isolar a Rússia teve por efeito aproximá-la da China, que não condenou nem apoiou a invasão. No balanço de sua política externa em 2022, Pequim destacou que a "parceria estratégica" com Moscou tornou-se "mais madura e resiliente".

Em 2022, é certo que a relação China-Rússia fez crescer o incômodo com Pequim nos EUA e entre os membros da Otan.

Além disso, a relação entre China e EUA se deteriorou um pouco mais. A batalha dos chips, sobre a qual escrevi aqui, merece o título de expressão do ano no relacionamento bilateral. Diante da vulnerabilidade chinesa nessa área estratégica, os EUA redobraram, em 2022, o esforço de privar a China de semicondutores avançados. É certo que os chineses terminam o ano ainda mais convencidos de que conter sua ascensão é prioridade de Washington.

Se não bastasse, as tensões em torno de Taiwan cresceram e atingiram novo pico com a visita da congressista Nancy Pelosi a Taipé, percebida, em Pequim, como uma grande provocação. De olho na China, Taiwan acaba de ampliar o serviço militar obrigatório, e o Japão, de dobrar seu orçamento militar.

Dois mil e vinte e dois, para a China, é um ano que não acabou. O fim da Covid zero terá repercussões ao longo de 2023. O novo mandato de Xi influencia diretamente os rumos do país nos próximos cinco anos, quiçá mais. Para completar, o contexto geopolítico mais desafiador para Pequim tornou-se o novo normal. O balanço do ano acaba servindo como uma prévia do que importará para o país em 2023.

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